No início dos anos 90, por iniciativa do Itamaraty, junto com outros órgãos governamentais e instituições nacionais, o Brasil partiu acertadamente para uma aproximação gradual com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Essa estratégia segue sendo aplicada pelo governo, embora de forma reativa e menos coordenada.

O Brasil nunca procurou uma adesão formal à OCDE, o que dependeria de reformas e da defesa de interesses nacionais à luz do conjunto de regras da organização. O nosso eventual engajamento serviria para enriquecer os processos de reflexão e formulação de políticas em áreas como medidas restritivas do comércio e dos investimentos internacionais, combate a corrupção e outros ilícitos transnacionais, governança corporativa e a responsabilidade social das empresas.

Hoje a OCDE negocia a adesão da Colômbia e da Rússia, entre outros países. Intensifica relações com países do sudeste asiático. Deseja, sobretudo, a participação ampla e regular e, mesmo, se possível, a adesão do Brasil e dos outros Brics. De sua parte, o Brasil participa, em diferentes modalidades, de cerca de 1/3 desses comitês e organismos. Essa presença é, porém, ainda discreta, sem que o país exerça a influência correspondente ao seu peso internacional dentro da OCDE.

Tanto diante da internacionalização da economia como para a consecução dos objetivos de desenvolvimento, são três as vantagens cada vez mais evidentes para o Brasil numa aproximação com a OCDE:

1) Comparar políticas econômicas e públicas aplicadas por países, muitos dos quais mais desenvolvidos, e aprendermos lições, por exemplo em matéria de eficiência de políticas econômicas em prol do crescimento, de desenvolvimento da capacitação em C&T e da inovação industrial, de aprimoramento das políticas nas áreas de educação, saúde e inclusão social em geral.

2) Influenciar, com base em nossa experiência e nossos interesses, inclusive como país em desenvolvimento, a concepção de estatísticas internacionais, bem como a identificação e a difusão de “boas práticas" de políticas econômicas públicas.

3) Participar ativamente — e não reativamente — da definição de parâmetros e regras internacionais que acabam tornando-se elementos centrais em negociações multilaterais, (inter)regionais e mesmo bilaterais, por exemplo nas áreas de tributação, comércio, investimentos, agricultura, finanças (inclusive créditos e garantias à exportação), propriedade intelectual, energia e mudança do clima.

As mudanças comandadas pelo ministro Joaquim Levy para dinamizar a economia e torná-la mais produtiva e competitiva podem se beneficiar da adesão à OCDE. O Brasil poderia retirar lições comparadas, identificar subsídios para nossas políticas, fortalecer a ação de nossa diplomacia econômica e melhor projetar no mundo nossas experiências e “boas práticas”. Novo governo, novas ideias. O ingresso na OCDE seria uma estimulante decisão de política externa com amplos reflexos na economia.