BRASÍLIA e RIO

Após aprovar mudanças na presidência e na diretoria da Petrobras, o governo mira agora no conselho de administração. O Palácio do Planalto deve fazer alterações o mais rápido possível. A maior urgência está em substituir o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e a ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior. Fontes da equipe econômica afirmam que Miriam, que estava no conselho desde 2011, precisa sair para assumir o comando da Caixa Econômica Federal, e o ideal é que ela não acumule as duas funções. Já Mantega precisa ser trocado, porque sua relação com a presidente Dilma Rousseff azedou. Os dois não têm sequer conversado. Ele está na presidência do conselho desde 2010. Segundo um interlocutor do Planalto, Mantega virou um "morto-vivo". A ideia é colocar ao menos um nome de mercado entre os integrantes.

entrega do crachá na saída

Mantega saiu do governo magoado com Dilma, que deixou claro que ele não ficaria no cargo no segundo mandato ainda na campanha pela reeleição. Além disso, a presidente anunciou o novo comandante da Fazenda, Joaquim Levy, no fim de 2014 e montou para ele um gabinete no Palácio do Planalto, enquanto Mantega foi obrigado a esquentar a cadeira para o sucessor até o fim do ano. O ex-ministro não compareceu à posse de Dilma e não transmitiu o cargo a Levy. A tarefa coube a Paulo Caffarelli, que era secretário-executivo da Fazenda e se tornou ministro interino após Mantega sair.

Técnicos do governo reconhecem que o ideal seria esperar a divulgação dos balanços auditados do terceiro trimestre e o resultado anual. Miriam e Mantega ajudaram a defender o governo na queda de braço em torno das perdas com corrupção investigadas na Operação Lava-Jato. Eles foram contrários à divulgação dos R$ 88,6 bilhões em ativos superavaliados, estimativa que inclui corrupção, ineficiência em projetos e variação cambial, entre outros. Os integrantes independentes do conselho defenderam a divulgação do número.

As fontes reconhecem, porém, que o cenário mudou. Dos dez integrantes do órgão, sete são indicados pelo acionista controlador, a União. A estatal vive um quadro de instabilidade desde que a maior parte da diretoria se rebelou na semana passada e pediu demissão, obrigando Maria das Graças Foster a deixar o comando da petroleira apesar dos apelos da presidente Dilma Rousseff para que esperasse um pouco antes de sair.

Ontem, pela primeira vez na história da estatal, uma nova diretoria assumiu sem que os antecessores fizessem a transmissão do cargo. Segundo fontes, a maioria dos ex-diretores entrou com pedido de aposentadoria. Segundo relatos, na última sexta-feira, os ex-diretores, que eram funcionários de carreira, entregaram celulares, laptops e crachás. Foi necessário que um segurança passasse o crachá na portaria para que eles pudessem sair. Os ex-diretores que, de fato, se aposentarem, deverão receber um crachá azul que permite acesso restrito a algumas áreas da empresa, como a de assistência médica. Hoje, o diretor mais antigo da estatal é João Elek, de Governança, que assumiu em 19 de janeiro.

Outro fator de instabilidade foi a indicação de Bendine para o lugar de Graça Foster. O mercado recebeu mal a indicação, interpretando a escolha do ex-presidente do Banco do Brasil como um sinal de que o Planalto continuará a intervir na empresa. Segundo técnicos, o governo chegou a "testar" no mercado nomes como o do presidente da Vale, Murilo Ferreira, e o do presidente do Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme, mas houve rejeição a todos. Dilma optou por uma solução caseira e ficou entre Bendine e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Bendine levou a melhor por ser visto como alguém com melhor interlocução com o mercado.

estatal quer renovar contrato com a pwc

Uma mudança no conselho já foi acertada. Os empregados da Petrobras elegeram ontem Deyvid Bacelar para representá-los no lugar de Silvio Sinedino a partir de abril. Bacelar é do sindicato dos petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA), ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP).

Os conselheiros da Petrobras têm mandato de um ano, que vence em abril. Mesmo assim, caso a situação se torne insustentável, a União pode convocar assembleia geral extraordinária para substituir todos ou parte dos membros. Normalmente, a definição dos integrantes do conselho ocorre em abril, quando costumam ser apresentados os resultados anuais da empresa. Neste ano, ainda não se sabe quando esta assembleia ocorrerá.

Ontem, a Petrobras convocou para o próximo dia 27 uma reunião extraordinária do conselho para propor a renovação por mais dois anos do contrato com o auditor, a PricewaterhouseCoopers (PwC). Desde o fim do ano passado, a Petrobras tenta obter a aprovação da PwC do balanço do terceiro trimestre. Sem o aval do auditor, a companhia contratou outras empresas para investigarem seus resultados, com um custo de R$ 150 milhões.

A Petrobras corre contra o tempo para publicar o balanço auditado de 2014 até o fim de junho. Desta forma, a companhia evitaria que donos de títulos emitidos pela petroleira exijam o vencimento antecipado da dívida, que poderia chegar a US$ 50 bilhões. A estatal já teve sua avaliação rebaixada pelas agências de classificação de risco Moody's e Fitch.

Sérgio Lazzarini, professor do Insper, defende a troca imediata dos membros do conselho por executivos de perfil técnico. Para ele, é necessário criar um sistema de freio ao uso político das estatais, com uma regulação mais ativa na proteção dos interesses dos minoritários.

- Se o novo presidente trabalhar com a auditoria acertando e validando o balanço o quanto antes, uma nova equipe pode assumir com a missão de redirecionar a estratégia da empresa, restaurar sua credibilidade e retomar os investimentos.

Vice-presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, Eliane Lustosa diz que as boas práticas recomendam que o conselho seja avaliado regularmente:

- A Lei das S/A prevê o dever de lealdade do conselho à companhia, não a um dos sócios.

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Governo prevê recuperação de ações em um mês 

BRASÍLIA

Depois da turbulência no mercado financeiro com o anúncio do nome de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras, o governo espera uma recuperação das ações da estatal em até quatro semanas. Na avaliação de interlocutores da presidente Dilma Rousseff, é o tempo que o novo comandante da empresa precisa para começar a ganhar a confiança dos analistas na nova função. Assim, a expectativa é que os papéis da estatal ganhem "viés de alta" na Bolsa de Valores.

- O governo espera que em um mês a partir do dia em que Bendine assumiu a presidência da Petrobras (na sexta-feira da semana passada), o mercado passe a reagir melhor, e as ações da empresa subam em vez de manter o atual viés de queda - relatou uma fonte graduada sob a condição de anonimato.

apuração de perdas

Na sexta-feira, após a confirmação de que Bendine assumiria a estatal, as ações preferenciais (sem voto) da Petrobras abriram o pregão em queda, cotadas a R$ 9,80. E encerraram a R$ 8,99. Ontem, recuperaram-se um pouco, chegando a R$ 9,21.

Na conversa que Dilma teve com o ex-presidente do Banco do Brasil, ela teria orientado Bendine a blindar a petrolífera das pressões políticas por cargos, inclusive do próprio PT.

Ele deveria repetir o que foi feito no BB no governo Lula, quando a maioria das vice-presidências passou a ser ocupada por funcionários de carreira e não políticos indicados pelos partidos. Na verdade, fontes do governo atribuem essa barreira no BB ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Ele teria deixado a gestão do BB para o corpo técnico, sacrificando a Caixa Econômica Federal às pressões políticas.

Na tentativa de colocar ordem nas finanças da Petrobras, a primeira iniciativa é fazer o que os contadores chamam de teste de recuperabilidade de ativos. É o que falta para ter o balanço com o aval da auditoria externa.

Os auditores têm de projetar a receita do projeto e comparar com o seu custo no presente. Se houver prejuízo no horizonte, ajustes devem ser feitos imediatamente ou projetos devem ser abandonados. Foi um teste como esse que chegou aos R$ 88 bilhões divulgados mês passado.

O problema é que ele não descontou os efeitos do baixo preço internacional do petróleo e o alto patamar atual de juros e câmbio. Foi usada uma metodologia de "preço justo de mercado" - opção classificada de "barbeiragem" pelo Planalto.

Quando expurgar esses impactos, a nova diretoria deve ver claramente quais foram o custo da corrupção na estatal, as perdas definitivas e as temporárias.

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Futuro dos papéis dependem de balanço   

Para analistas do mercado financeiro, as ações da Petrobras dependem de medidas bastante específicas para voltar a subir de forma consistente. A primeira delas é a divulgação do balanço financeiro auditado com a estimativa do quanto foi perdido com os esquemas de corrupção investigados pela Operação Lava-Jato. O balanço do terceiro trimestre de 2014 foi divulgado em janeiro, sem o aval do auditor. A expectativa é que o documento referente ao ano fechado demore mais alguns meses.

- Antes de qualquer decisão operacional sobre o futuro, a companhia precisa liberar o balanço e mostrar uma baixa contábil coerente, de forma a convencer o mercado - afirmou Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença. - O novo diretor financeiro, Ivan Monteiro, é bem avaliado pelos investidores, mas é preciso que ele entregue o balanço para ter credibilidade.

Já o presidente Aldemir Bendine não agrada ao mercado, ressaltou João Brugger, da Leme Investimento. Por isso, os investidores estão atentos à nova composição do conselho da Petrobras:

- A escolha dos conselheiros será determinante para o futuro das ações, até porque são eles que, em última instância, decidem o rumo da empresa. O conselho atual não tem experiência em petróleo.

Desde seu pico no ano passado, em setembro, as ações ordinárias (ON, com voto) da Petrobras acumulam queda de 60%, de R$ 23,29 para R$ 9,20.