BRASÍLIA

Dida, como Aldemir Bendine é chamado por praticamente todos os funcionários do Banco do Brasil, é tido como um técnico muito hábil politicamente. Funcionário de carreira do BB por mais de 30 anos, onde entrou como aprendiz, tem ligações próximas com políticos do PT, apesar de não ser filiado ao partido. Aproximou-se do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes mesmo de ele ter sido eleito e era também considerado um homem de confiança do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Ontem, mostrou ter a confiança irrestrita da presidente Dilma Rousseff para comandar a maior empresa do país.

De acordo com interlocutores, ele fica chateado por não ser visto como um agente de mercado financeiro. Lembra sempre que, sob seu comando, o BB praticamente triplicou de tamanho. Os ativos saltaram de R$ 521 bilhões no início de 2009 para R$ 1,43 trilhão no último relatório trimestral que foi divulgado.

Para enfrentar a missão de blindar a Petrobras e proteger o governo do maior escândalo de corrupção do país, ele agrega outra característica: foi responsável por acompanhar todo o processo do mensalão dentro da instituição financeira. Na investigação do Supremo Tribunal Federal, ficou comprovado que recursos do Banco do Brasil destinados ao fundo Visanet foram desviados para o esquema de corrupção que bancou mesadas a aliados do governo. Seu trabalho no grupo de trabalho que auditou as movimentações o cacifou para assumir a presidência do BB.

Segundo pessoas próximas, durante as investigações do mensalão, ele aumentou mecanismos de controle e também o número de decisões colegiadas para evitar novas denúncias de desvios de verbas de publicidade. É considerado a pessoa que mais conhece o caso no Banco do Brasil, e isso seria útil neste momento em que a Petrobras está no cerne de um caso de corrupção ainda maior que aquele.

Bendine é considerado um "entregador" de soluções. No governo, entregou tudo que o Palácio do Planalto pediu, desde queda dos juros até investimentos em infraestrutura. Colegas de trabalho lembram que ele foi escalado para investigar um boom do uso de travel-check na Região Norte. Tomou um avião e voltou com a informação de que traficantes da região aderiram ao meio de pagamento.

Tem sangue-frio para passar por turbulência. Quando assumiu o Banco do Brasil, as ações da instituição caíram 10% no primeiro dia. Resolveu convocar uma teleconferência com investidores e viu a recuperação dos papéis. Entre amigos, tem mania de ressaltar que as ações chegaram a valorizar quase 100% na sua gestão. Hoje, os papéis valem quase 50% a mais que em seu primeiro dia à frente do banco.