Um Conselho de Administração rachado e funcionários perplexos com a nomeação de Aldemir Bendine para a presidência da estatal em substituição a Graça Foster. Na reunião do Conselho, que ocorreu ontem na sede da estatal em São Paulo, dos dez conselheiros, somente os três membros independentes votaram contra a nomeação do então presidente do Banco do Brasil (BB) e criticaram publicamente a escolha do nome. O representante dos acionistas minoritários, Mauro Cunha, classificou a nomeação de Aldemir Bendine como "um episódio de desrespeito ao Conselho de Administração da Petrobras". Já Silvio Sinedino, representante dos funcionários da estatal, disse que "a difícil situação por que passa a Petrobras deve-se principalmente às indicações políticas, à falta de caráter e ética de alguns poucos empregados". José Guimarães Monforte, representante dos donos de ações preferenciais (PNs, sem direito a voto), também foi contrário à indicação feita pela presidente Dilma Rousseff.

- Houve um grande mal-estar e muito bate-boca na reunião, que começou às 9h e acabou logo após o almoço - disse uma fonte ligada à estatal.

As divergências entre os conselheiros começam anteontem, quando parte dos membros decidiu fazer uma reunião informal para sugerir alguns nomes para a diretoria da empresa e não chamou os três conselheiros independentes.

- A reunião começou com um racha entre os membros, já que parte dos conselheiros foi excluída das conversas que foram realizadas na véspera - disse uma fonte ligada à estatal.

Em nota, Mauro Cunha foi duro em sus críticas: "a União mais uma vez impõe sua vontade sobre os interesses da Petrobras, ignorando os apelos de investidores de longo prazo". Cunha cobrou ainda que sua opinião dada na reunião seja registrada em ata: "Os conselheiros tomaram conhecimento do nome do novo Presidente da Companhia pela imprensa, antes do assunto ser discutido. Eu gostaria de dizer em público as verdades que pus em ata, mas correria o risco de sofrer retaliações, como já sofri no passado". Sinedino, por sua vez, disse que é preciso mudanças na companhia. Em nota, afirmou que "é preciso que a Petrobras altere sua prática em várias áreas e, no nosso entendimento, um dos principais aspectos é exatamente a forma de indicação da sua alta gerência".

Os outros sete conselheiros, que votaram a favor da nomeação, são representantes do governo. Além de Guido Mantega, que preside o Conselho, a estatal conta com Luciano Coutinho, presidente do BNDES, Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), Francisco Roberto de Albuquerque, comandante do Exército, Sérgio Quintella, dirigente da Fundação Getulio Vargas (FGV), e Miriam Belchior, ex-ministra do Planejamento. A vaga de Graça Foster no Conselho foi ocupada por Bendine interinamente até a próxima Assembleia Geral de Acionistas, que ainda não foi marcada.

O nome de Bendine, que não foi unânime entre os conselheiros, também não foi bem recebido por grande dos funcionários da estatal. Segundo o relato de um deles, que tem mais de 30 anos na companhia, "a reação foi a pior possível". Segundo ele, os funcionários da Petrobras ficaram muito preocupados ao lerem nos sites de notícias alguns fatos referentes à gestão de Bendine como presidente no BB.

Segundo fontes, um dos casos mais citados entre os empregados da estatal foi o empréstimo de R$ 2,79 milhões, a partir de uma linha subsidiada do BNDES, concedido pelo BB à socialite e apresentadora de TV Val Marchiori.

Diretores interinos preocupam funcionários

Pelos corredores da estatal, os funcionários se referiam ao novo presidente como "o cara da Val"

- O currículo dele e o do diretor Financeiro, Ivan de Souza Monteiro, também do BB (que vai substituir Almir Barbassa), foram considerados muito ruins por todos os empregados. A expectativa agora é saber quando será a posse e qual mensagem ele vai tentar passar aos funcionários - comentou uma fonte da estatal.

A nomeação de quatro diretores para ocupar a vaga interinamente também trouxe insegurança ao corpo técnico, já que o governo teve 48 horas para indicar os novos nomes. Essa fonte lembrou que essas vagas serão ocupadas pelos gerentes executivos de cada uma das áreas. Mas, como a nomeação é em caráter interino, alguns gerentes recusaram. Foi o caso do gerente executivo do Abastecimento Antônio Rubens Silva Silvino.

- Os funcionários estão perdidos e preocupados com a situação. O governo não queria mais os atuais executivos no comando da empresa, mas queria que os ex-diretores ficassem nos cargos por mais um mês, o que eles não aceitaram. E agora o governo escolhe executivos no nível logo abaixo do diretor para fazer a transição, que ninguém sabe como vai ser feita - disse um outro funcionário.

Segundo uma fonte, ficou a sensação de que Graça Foster saiu antes do previsto porque falou a verdade quando anunciou o valor das perdas com corrupção, que poderia chegar a R$ 88,6 bilhões.

- Onde está o respeito? - questionou um funcionário.

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Para oposição, interferência do governo continuará 

BRASÍLIA

Para líderes da oposição, o principal motivo que levou a presidente Dilma Rousseff a escolher Aldemir Bendine foi a dificuldade de achar um nome que aceitasse afastar o Planalto dos escândalos da Petrobras.

A proximidade do executivo com o grupo político de Dilma e do ex-presidente Lula, num momento em que a empresa enfrenta sua mais grave crise de credibilidade, causou surpresa aos parlamentares, que defenderam a adoção de um mecanismo que obrigue as indicações para o comando da estatal a passar pelo crivo do Legislativo. E todos oposicionistas lembraram ainda as denúncias que envolvem o ex-presidente do Banco do Brasil.

- Bendine é ligado ao mesmo governo que permitiu que uma quadrilha se instalasse na companhia e que faz o que pode para descredibilizar as investigações do esquema para, assim, blindar a presidente Dilma e Lula. A indicação dele sinaliza também que a interferência do governo na estatal irá continuar - criticou o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG).

Assim como Aécio, o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), também foi irônico:

- Para substituir a presidente da Petrobras, a exigência maior era escolher alguém da total confiança de Dilma. Ponto. A escolha foi feita.

Os líderes da oposição foram unânimes em criticar a decisão da indicação política, ao invés de um técnico do setor que pudesse recuperar a empresa com independência e credibilidade do mercado.

Ex-líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP) ironizou a opção presidencial, afirmando que o novo presidente da estatal "entende tanto de petróleo como a Palmirinha", referindo-se a apresentadora de um programa de TV sobre culinária.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), por sua vez, defendeu que seja aprovado um mecanismo que obrigue essas indicações a passarem pelo crivo da sociedade, via Legislativo. Assim, seria evitada, por exemplo, a ingerência política em um cargo estratégico como a presidência da Petrobras.

- A presidente Dilma pensou: ou explode o Brasil ou explodimos nós. Preferível explodir o Brasil - disse Delgado.

Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse aguardar os desdobramentos e não quis comentar a indicação:

- Prefiro não opinar.

Os partidos começaram ontem a apresentar os nomes que irão compor a CPI da Petrobras na Câmara. O início da CPI se dará após o Carnaval, mas a expectativa é que todos os membros sejam indicados ainda na próxima semana.

CPI: PT quer emplacar relator

O líder do PT, Sibá Machado (AC), disse que irá brigar para emplacar um petista como relator. O nome, no entanto, ainda será definido até segunda-feira. Ontem, o PSD indicou os deputados Paulo Magalhães (BA) e Silas Câmara (AM) como titulares da comissão; o Solidariedade escolheu Paulinho da Força (SP); o PSDB terá o estreante Bruno Covas (SP), além de Izalci (DF) e Otávio Leite (RJ); pelo PR, estarão João Carlos Bacelar (BA) e Altineu Côrtes (RJ), outro estreante na Câmara; e o líder do PROS, Domingos Neto (CE), ligado ao ministro da Educação, Cid Gomes, optou pelo próprio nome para integrar a CPI.

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Cpis, pouca eficácia e fins melancólicos 

 

BRASÍLIA

Desde a CPI dos Correios, em 2005, que aprofundou as investigações sobre o mensalão, nunca mais esse instrumento teve a mesma eficácia no Congresso. Controladas pelo governo, que tem a maioria na Câmara e no Senado, as CPIs têm tido fins melancólicos.

Em 2014, duas CPIs para investigar a Petrobras foram instaladas: uma no Senado, controlada majoritariamente pelo governo e outra mista. O mesmo senador presidiu as duas: Vital do Rêgo (PMDB-PB). Na mista, O relator Marco Maia (PT-RS) não ia indiciar ninguém, mas mudou de ideia e propôs o indiciamento de 52 pessoas, a maioria já era réu. Na CPI exclusiva do Senado, o relator, José Pimentel (PT-CE), adotou o relatório do colega.

A CPI que será instalada neste ano tem potencial de causar mais danos: exclusiva da Câmara, onde a oposição não tem grande desvantagem como no Senado. E o PMDB pode dar caneladas no PT.