Título: Barreiras ao capital
Autor: Nunes, Vicente ; D"Angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 27/07/2011, Economia, p. 8
Rosana Hessel
A impotência do governo em frear o derretimento do dólar e o acúmulo de prejuízos amargados pela indústria levaram os empresários a fazerem um apelo à presidente Dilma Rousseff. Durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), conhecido como Conselhão, os principais nomes do setor exigiram medidas concretas por parte do Ministério da Fazenda e do Banco Central, como a imposição de quarentena para o capital estrangeiro, ou seja, um prazo para a entrada e a saída de recursos do país. Na avaliação dos industriais, sem ações efetivas, o setor manufatureiro fechará o ano com um rombo de US$ 100 bilhões na balança comercial, por não poder mais competir com os importados, cada vez mais baratos.
"No caso da indústria, não existe vantagens com o dólar desvalorizado (em relação ao real). Quando há esse descompasso, a competitividade do país é roubada", disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. Para ele, o ritmo com que o governo vem combatendo a queda da divisa norte-americana é muito lento. "A velocidade desejável é para ontem. Já estamos em julho e temos US$ 50 bilhões negativos na nossa balança comercial", ressaltou.
Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, foi mais enfático. "O Brasil tem de barrar a entrada de recursos no país", afirmou. A mesma defesa foi feita pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade. "As importações em excesso estão tirando empregos no país", ressaltou.
No entender dos empresários, o governo precisa agir rapidamente para cortar impostos que estão matando o setor produtivo. A esperança é de que, em 2 de agosto, como prometeu Dilma Rousseff, o governo lance um plano de competitividade para estimular investimentos e a inovação tecnológica, já que há pouco a se fazer para conter a queda do dólar.
Divergências explícitas O governo teme que em, no máximo, uma semana, o dólar rompa o piso de R$ 1,50, o que será considerado um desastre para a economia do país, devido à perda de competitividade da indústria nacional. Mas há divergências entre a equipe econômica sobre o que fazer. Uma ala assegura que, nos atuais níveis, a moeda norte-americana contribui para a queda da inflação. Outra defende que, até R$ 1,70, o impacto sobre os índices de preços ao consumidor é irrelevante. Para a indústria, o dólar deveria estar hoje a R$ 2,20.