BELO HORIZONTE

Um dia depois de ser conduzido à força para depor na Polícia Federal e ser acusado de receber US$ 50 milhões de propina no esquema de corrupção da Petrobras, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi aplaudido ontem no encontro do Diretório Nacional do partido, em Belo Horizonte, ao falar sobre o depoimento e afirmar que respondeu todas as perguntas dos policiais, sem deixar nenhuma sem resposta.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também recebeu aplausos de petistas ao defender Vaccari. Em encontro a portas fechadas, Lula pediu apoio ao tesoureiro e, com a ressalva de que pessoas que cometem erros devem pagar, usou o seguinte argumento para afirmar que confia em Vaccari:

- Na dúvida, fique com o companheiro.

Lula classificou a condução coercitiva de Vaccari para depor na PF como "repugnante" e conclamou dirigentes a não vacilarem na defesa do partido e do tesoureiro.

À noite, em discurso no aniversário de 35 anos do PT, a presidente Dilma Rousseff disse que o partido e seu governo têm força para resistir ao que chamou de tentativa de golpe dos adversários. Dilma disse ainda que o momento não é "de vacilar", mas de preservar a história do partido e de seu governo:

- Nós temos força para resistir ao oportunismo e ao golpismo, inclusive quando se manifesta de forma dissimulada. Estamos juntos para vencer aqueles que tentam forjar catástrofe e flertam com a aventura.

Sem citar a acusação de que o PT teria recebido US$ 200 milhões em propina, segundo o delator Pedro Barusco, Dilma disse que o partido não pode temer diante das acusações.

- Nós não podemos vacilar, não podemos temer. Se tiver erro, aqueles que erraram que paguem pelos erros, mas temos de preservar a história de nosso partido, do meu governo e do presidente Lula - disse ela, acrescentando que a Petrobras não pode ser classificada como "uma vergonha do Brasil".

Lula também discursou na festa, reclamou de uma suposta "criminalização da sigla por parte da imprensa" e disse que teria sido "muito mais simples a PF ter convidado nosso tesoureiro a se apresentar do que buscá-lo em casa":

- Estão repetindo o mesmo ritual que vejo nesse Brasil desde 2005, quando começaram as denúncias que eles chamaram de mensalão.

Lula conclamou os petistas:

- Se a ficarmos quietos, a sentença já está dada. O PT vai ter que voltar para a luta. Não podemos permitir que quem não tem moral venha dar moral na gente.

Confiança de Rui Falcão

Na reunião do Diretório, Vaccari anunciou que o partido fará corte de gastos. Vaccari frisou a necessidade de o partido economizar recursos. Com 20 deputados a menos que na legislatura anterior, o partido viu encolher a cota do fundo partidário, recurso público do Orçamento da União distribuído aos partidos com base na representação da bancada na Câmara dos Deputados. O PT estima que deve deixar de receber, no mínimo, R$ 1 milhão mensais do Fundo Partidário.

O novo líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), disse que é necessário recompor a base e organizar o partido e a militância. Guimarães também defendeu o ajuste fiscal do governo e afirmou que para isso era preciso dialogar com os movimentos sociais. Esta semana, o presidente da CUT, Vagner Freitas, disse que o governo retrocedeu em conquistas trabalhistas.

Corrente vê "encruzilhada"

"O PT está em uma encruzilhada e precisa de mudanças", afirma um texto divulgado durante a reunião do diretório pela segunda maior força da sigla, o grupo Mensagem ao PT, do qual fazem parte o ex-governador Tarso Genro, o ministro José Eduardo Cardozo e os integrantes da Democracia Socialista (DS), como os ministros Pepe Vargas e Miguel Rossetto. O documento acusa a mídia de formar um "cartel" e pede reação dos petistas. Para a Mensagem, a mídia "transformou política em crime".

"Ou aprofundamos o processo de transformação que desencadeamos na sociedade brasileira, produzindo alterações relevantes no sistema político partidário do país, e que resultou nos governos Lula e Dilma, ou sucumbimos à moléstia que acometeu as legendas que nos precederam", afirma o texto.

A proposta, que não foi integralmente encampada pelo PT, diz ainda que as autoestimas dos brasileiros e do partido foram "sistematicamente demolidas pelo cartel da mídia conservadora que pretende converter a política em crime".

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De volta, Cesar Oliveira e a GDK   

SÃO PAULO

O dossiê entregue pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco ao Ministério Público Federal (MPF) trouxe à tona um dos personagens do mensalão que levou parte da cúpula petista para a cadeia. O empresário Cesar Oliveira, da construtora baiana GDK, foi apontado por Barusco como um dos empreiteiros que pagaram propina ao ex-diretor de Serviços da estatal, Renato Duque, e ao tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Em 2005, durante o mensalão, Oliveira foi quem presenteou o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, com uma Land Rover, avaliada na época em R$ 76 mil.