Brasília, 10/3/2015 - A tentativa de trazer a gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso para o centro do depoimento do ex-gerente da Petrobrás Pedro Barusco deixou o PT isolado ontem (10), durante sessão da CPI na Câmara que investiga irregularidades na estatal. Mesmo deputados de partidos da base, aliados aos oposicionistas, atuaram para barrar a iniciativa dos petistas.
A bancada petista esperava que Barusco detalhasse os desvios no período anteriores à chegada do PT ao Planalto, com a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o ex-gerente da Petrobrás frustrou a estratégia ao dizer que o esquema de desvios se “institucionalizou” entre 2003 e 2004, sob a liderança do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e que antes agiu sozinho.
“Comecei a receber propina entre 1997 e 1998. Foi uma iniciativa pessoal minha junto com representante da empresa”,afirmou Barusco. O ex-gerente reiterou o que havia dito na delação e não entrou em detalhes sobre as propinas na era tucana. “Na forma mais ampla, em contato com outras pessoas, de forma mais institucionalizada, isso foi a partir de 2003, 2004.”
O relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), insistiu em questionar se Barusco era o único que atuava no esquema antes de 2003. O ex-gerente afirmou que não tinha trânsito com a cúpula da empresa. “Não vou tecer maiores detalhes sobre esse período. Há uma investigação em curso.”
Depois, o petista Afonso Florence (BA) saiu em defesa de Vaccari e disse haver disputa política na CPI. “Não é porque o senhor diz que será dado como verdade”, afirmou. “Se alguém praticou ilícito, não foi em nome da presidente Dilma, Lula, Graça (Foster) ou (José Sergio) Gabrielli”, emendou, citando os dois últimos presidentes da Petrobrás.
A petista Maria do Rosário (RS) também tentou vincular os desvios à gestão do PSDB. Acabou repreendida em voz alta pelo presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB). Outro peemedebista que foi incisivo em inibir os petistas do confronto com os tucanos foi Darcisio Perondi (RS).
Rebatida. No fim da sessão, o PSDB celebrou o depoimento de Barusco. Os tucanos consideram que as falas de Barusco, enterraram a estratégia do PT de estender a crise deflagrada há um ano pela Operação Lava Jato para o governo FHC.
“O depoimento foi um banho de água fria para o PT”, disse o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), líder da minoria da Câmara e sub-relator da CPI. “Essa estratégia dos petistas já era esperada, mas Barusco deixou claro que a propina institucionalizada começou em 2004. Foi uma pá de cal”, afirmou o deputado Bruno Covas (PSDB-SP), também sub-relator da CPI.