Há quem diga que o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros é o quintal de Brasília. Para muitos, a paisagem do cerrado e as belas cachoeiras do local são um alento em meio ao estresse do dia a dia. No entanto, a reserva está em perigo. A elaboração de um plano de manejo para a Área de Proteção Ambiental (APA) do Pouso Alto — que engloba seis municípios vizinhos à Chapada, entre eles, os destinos turísticos de Alto Paraíso, São João da Aliança e Cavalcante — divide opiniões de ambientalistas e produtores rurais, além de chamar a atenção dos brasilienses, preocupados com a preservação da Chapada. Diante disso, um grupo de ativistas do DF se mobiliza para fazer um abaixo-assinado em protesto contra intervenções na região.
 
A APA do Pouso Alto foi criada em 2001 e tem área de 872km². Desde então, aguarda um plano de manejo, instrumento legal que normatiza o uso do solo e dos recursos naturais. Uma empresa contratada pela Secretaria das Cidades e Meio Ambiente de Goiás (Secima) elaborou uma proposta, em discussão há um ano pelo Conselho Consultivo da APA do Pouso Alto (Conapa). Segundo o projeto, a unidade de uso sustentável seria dividida em duas: a área do parque nacional, que apenas permitiria atividades de baixo impacto, e o terreno em volta, com normas mais flexíveis. Nesse segundo zoneamento, estariam liberadas a pulverização aérea com agrotóxicos, a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e a mineração.
 
Alguns brasilienses frequentadores da reserva se uniram para lutar pela preservação do meio ambiente. No domingo passado, ativistas organizaram um evento no Jardim Botânico, o SOS Chapada dos Veadeiros, que contou com piquenique e palestras sobre o assunto, além da abertura de um abaixo-assinado contra o plano de manejo. Atualmente, o documento conta com cerca de 3 mil assinaturas. Um dos organizadores do movimento, o servidor público e ambientalista Marcelo Ottoni destaca a importância do debate. “Tanto brasilienses como moradores dos municípios goianos envolvidos participaram do abaixo-assinado. Na quarta, seria realizada a votação do plano, mas ela foi adiada graças a uma manifestação no local”, comemora

 
Proteção
 
Quem apoia a causa enxerga o plano de manejo como motivo de alerta. “Até um tempo atrás, quando eu ia visitar a reserva, só via cerrado no caminho. Agora, é cada vez mais comum ver plantações. Com o esse projeto, isso pode piorar”, avalia o administrador Frederico Gall, 41 anos, morador do Paranoá. Ele tem uma equipe de corrida de aventura e, quando pode, vai à Chapada. Ele brinca que, como Brasília não tem praia, as cachoeiras são o alívio dos moradores da capital e que, por isso, a região precisa ser protegida. “Lamentavelmente, vivemos em um país onde as regras não se cumprem. Se der espaço para os produtores rurais e empresários fazerem obras na unidade de uso sustentável, eles driblarão qualquer norma imposta”, queixa-se.
 
O publicitário Marcos Vinícios Lima, 42 anos, mora no Paranoá e faz trilhas na Chapada. Como Frederico, o atleta se opõe a qualquer intervenção na reserva. “A capital é a porta de entrada para a Chapada, que é parte da nossa casa e nosso centro de diversão. Por isso, temos de ajudar a preservá-la”, defende. A empresária Sicilia Candiotto, 29, mora no Jardim Botânico e tem um santuário ecológico em Pirenópolis. “Estamos cada vez mais envolvidos com aquele lugar. É como se fosse nosso jardim e temos de protegê-lo”, diz.
 
As preocupações dos brasilienses se unem às queixas de muitos moradores das cidades próximas à APA. O prefeito de Alto Paraíso — principal destino turístico da região —, Alan Barbosa, acredita que a discussão sobre o tema está longe de chegar a um consenso. “Nós contestamos até a composição do Conapa, que não representa quem mora na região. O plano de manejo pode prejudicar muito a natureza, e isso precisa ser mais bem debatido”, explica.