BRASÍLIA

Em um ano que promete ser de dificuldades econômicas e políticas, sobretudo pela eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara, o Planalto teve ontem ao menos uma vitória para celebrar: a de Renan Calheiros (PMDB-AL), que inicia o quarto mandato à frente do Senado. Na avaliação do governo e do PT, Renan terá papel fundamental para a governabilidade do país já que o Congresso se revela hostil, e a base aliada pouco fiel na Câmara.

Na disputa mais acirrada que já enfrentou para assumir a presidência do Senado, o alagoano foi reconduzido ao cargo com 49 votos e derrotou seu adversário, senador Luiz Henrique (PMDB-SC), que tinha a oposição a seu lado e que recebeu o apoio de 31 colegas. Na eleição de ontem, ainda houve um voto nulo.

Nos últimos dias, Renan jogou todo seu peso político para garantir a permanência no comando do Senado e, apesar de estar desgastado internamente e sob ameaça de novas citações na Operação Lava-Jato, saiu vitorioso.

O cenário, no entanto, estava complicado. A oposição tinha conseguido lançar um nome da própria base aliada. Então, para garantir apoios, Renan teve que se expor na última hora, deixando os bastidores e fazendo campanha. Em 2005, quando foi candidato único, ele foi eleito com 73 votos. Em 2007, teve 51; e, em 2013, foi 56.

Assim que o resultado foi anunciado, Renan foi aplaudido discretamente e recebeu cumprimentos de senadores aliados. Depois, disse que a disputa com Luiz Henrique era "coisa do passado" e que vai lutar tanto pela reforma política quanto por uma agenda econômica que devolva o crescimento ao país:

- As disputas democráticas robustecem a democracia e enobrecem aqueles que dela participam. Mas a disputa agora já é passado, e todos nós ansiamos pelo futuro. Serei presidente de todos os senadores. Aqui, todos podem mais, por serem todos iguais. Antes ser crivado pela crítica do que ser arruinado pela bajulação.

Sobre o quarto mandato, Renan disse que, neste momento de crise econômica, será importante "construir consensos" e prometeu o "compromisso pela autonomia e independência do Senado":

- Esperamos construir um consenso para que tenhamos uma agenda econômica e façamos, no curto espaço de tempo, a reforma política.

O PMDB e o PT garantiram a vitória de Renan, como queria o Planalto. O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB), que acompanhou a votação, disse que Renan tem uma "relação de confiança" com a presidente Dilma e que, por isso, era o melhor nome da disputa.

A candidatura de Luiz Henrique teve apoio de sete partidos (DEM, PSDB, PP, PSB, PSOL, PV e PSB). Eles totalizariam 35 votos, mas ele recebeu somente 31 votos.

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'Senador-fênix' sobrevive a crises  

O novo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), é considerado por seus pares como uma espécie de fênix. Reeleito para o 4º mandato ontem - ganhou em 2005, 2007 e 2013 -, já chegou a ser visto como carta fora do baralho. Sobretudo em meados de 2007, quando veio à tona a informação de que uma construtora pagava R$ 12 mil por mês a Mônica Veloso, com quem Renan teve uma filha.

A informação detonou denúncias contra o alagoano de 59 anos. Foram seis representações no Conselho de Ética. Foram arquivadas e Renan e renunciou para não ser cassado. E foi reconquistando espaço. Em 2009, virou líder do PMDB e, em 2013, substituiu José Sarney na presidência da Casa. Em 2014, elegeu Renan Filho governador de Alagoas.

Desde a chegada do PT ao governo, Renan ganhou a simpatia do governo. Embora não tenha com Dilma o mesmo prestígio que tinha com Lula, o Planalto sabe que ele é estratégico para a governabilidade.