Título: Pelo rigor máximo
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 27/07/2011, Mundo, p. 16

Polícia estuda opção de acusar o autor da chacina por crime contra a humanidade e pedir sentença de até 30 anos de prisão

Cinco dias após o duplo ataque que matou 76 pessoas na Noruega, permanece a dúvida sobre o que teria motivado o autor confesso do massacre, Anders Behring Breivik, e sobre como ele deve pagar pela chacina. Ontem, enquanto a polícia norueguesa estudava a possibilidade de acusá-lo por crimes contra a humanidade, seu advogado deu a entender que poderá alegar insanidade. Na segunda-feira, Breivik, de 32 anos, teve a prisão preventiva decretada sob a acusação de terrorismo. Em interrogatório, ele mencionou a colaboração de "duas células" de extrema direita nos atentados. Para um especialista ouvido pelo Correio, seja qual for o veredito, Breivik não deveria ser solto nunca mais, pois sua recuperação é improvável.

O jornal norueguês Aftenposten informou, citando o promotor Christian Hatlo, que a ideia de levar Breivik à corte sob a acusação de crimes contra a humanidade é, por enquanto, apenas uma possibilidade. O crime está previsto no Código Penal da Noruega desde 2008 e, nesse caso, Breivik poderia ser sentenciado a até 30 anos de prisão, nove a mais do que a pena máxima para homicídio premeditado. Desde a detenção do autor confesso dos ataques, entretanto, juristas e constitucionalistas noruegueses falam sobre uma análise mais profunda das leis do país e admitem que existem mecanismos legais para manter Breivik na cadeia pelo resto da vida.

O advogado de defesa, Geir Lippestad, afirmou que "tudo indica" que seu cliente "está louco", mas não antecipou se essa será sua tese durante o julgamento. Ele declarou que o assassino está convencido de que "há uma guerra", garante que haveria "duas células atuando na Noruega e várias no exterior" e acredita que "essa guerra será vencida em 60 anos". Segundo Lippestad, seu cliente "odeia qualquer pessoa que não seja um extremista, odeia qualquer um que seja democrata e defenda os valores democráticos". Ideias como essa, além de um desprezo pela "mistura de raças catastrófica ¿ da qual cita o Brasil como exemplo ¿, dominam o manifesto de 1,5 mil páginas que Breivik publicou na internet horas antes dos atentados.

Limítrofe Na opinião do psiquiatra forense Guido Arturo Palomba, Breivik está em uma "zona fronteiriça" entre a loucura e a normalidade, que o especialista define como paranoia. "Normal ele não é", enfatiza. Segundo o médico, todas as características mostradas até agora traçam um perfil de paranoia. "E quando os paranoicos agem como criminosos, eles são frios, calculistas e obstinados, agem por princípio ou ideal, seja qual for o conteúdo. No caso dele, político", explicou, em entrevista ao Correio. "Isso se desenvolve em periculosidade e é absolutamente incurável."

Na segunda-feira, na primeira audiência perante um juiz, Breivik afirmou que pretendia "defender" a Noruega e a Europa Ocidental contra uma "invasão muçulmana" e contra o marxismo, e mencionou uma suposta rede continental de terror. Ontem, a Organização Europeia de Cooperação Policial (Europol) revelou que pretende fazer um "retrato exato e atualizado do extremismo de direita, principalmente nos países nórdicos". A organização europeia, que também faz um trabalho de apoio às autoridades norueguesas, montou um centro operacional com cerca de 50 peritos em serviços de informação, investigadores e especialistas em explosivos e terrorismo. A Europol pediu ainda a colaboração de peritos de diferentes forças policiais europeias, incluindo da britânica Scotland Yard, para traçar o retrato dos movimentos de extrema direita presentes no território europeu.

Primeiras vítimas são identificadas A polícia da Noruega divulgou ontem os nomes das primeiras quatro vítimas do massacre a serem identificadas. Antes do anúncio para a imprensa, os nomes foram informados oficialmente às famílias, procedimento que será adotado até a conclusão do processo. Além dos nomes, a polícia informou as idades das quatro vítimas e o local onde foram mortas: Tove Aashill Knutsen, de 56 anos, Hanna M. Orvik Endresen, de 61, Kai Hauge, de 33 (os três morreram na explosão no centro de Oslo), e Gunnar Linaker, de 23, único dos quatro morto na ilha de Utoya.