Título: Excluídos têm de ser localizados
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Fonte: Correio Braziliense, 25/07/2011, Opinião, p. 10
O número não é novo. Mesmo assim, causa espanto. Segundo o Censo Único de Assistência Social (Suas), divulgado na quinta-feira passada pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 10% das pessoas que vivem em extrema pobreza estão excluídas dos programas sociais do governo. Sem ajuda, nada menos que 1,2 milhão de brasileiros vegetam com menos de R$ 70 mensais.
Durante a campanha eleitoral, Dilma Rousseff prometeu um país sem pobreza. Ao assumir o poder, retomou o tema. Reafirmou a determinação quando lançou o plano Brasil sem Miséria em junho deste ano. No primeiro artigo publicado depois de se sentar na cadeira presidencial, Dilma escreveu que a única fome admissível é a "fome de conhecimento".
Juntou, então, as duas pontas da tragédia nacional. De um lado, a crônica invisibilidade dos desvalidos. Gerações se sucedem ao longo dos séculos sem que medidas efetivas sejam capazes de mudar o cenário. De outro, a inadiável urgência de promover avanços na educação. O Brasil, num esforço hercúleo iniciado na década de 1970, democratizou o acesso à escola. Mas não deu acesso ao conhecimento. Sem o salto qualitativo, manterá a reprodução da pobreza.
Impõe-se apressar medidas aptas a localizar as famílias que estão fora dos programas sociais patrocinados pelo governo. Incluí-las no Bolsa Família constitui providência impreterível. Não significa que os recursos destinados aos beneficiários sejam suficientes para resgatar a multidão de desamparados. Muitos, mesmo socorridos, não terão condições físicas, mentais e psicológicas de alcançar outro patamar. Mas, para muitos, se abrirá a porta de saída.
Para fazer jus à bolsa, os pais terão de cumprir certas exigências. Entre elas, matricular as crianças na escola e vaciná-las regularmente. Trata-se de passo importante capaz de salvar as gerações futuras. Daí a premência de acionar a busca ativa. Prevista no programa Brasil sem Miséria, a iniciativa forma mutirões para encontrar os até agora esquecidos das autoridades. É hora de Dilma Rousseff passar das palavras à ação.