Título: Participação estatal
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 25/07/2011, Economia, p. 9

O fim do monopólio estatal em vários ramos da economia não impediu que o governo continuasse sendo o maior responsável pelo aumento de preços domésticos. Após 17 anos de circulação do real, completados este mês, a moeda acumulou inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 286,36%. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram justamente preços regulados pelo Estado os que lideraram as altas no período, como combustíveis (790,36%), comunicação (700,7%) e aluguel (634,17%).

Setores mais expostos à concorrência externa tiveram reajustes bem menores ou até negativos, casos do vestuário e dos eletrônicos. No geral, o Brasil tem hoje produtos e serviços bem mais caros em dólar do que no ano de lançamento do real. Pegar táxi ou encher o tanque do carro, por exemplo, custa mais em São Paulo do que em Nova York. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a cesta básica custava US$ 67 em julho de 1994 e chegou a US$ 167 em maio último, num aumento de 150%.

Após 20 anos de cortes nas tarifas de importação, privatização de setores importantes como mineração e siderurgia e abertura do capital de várias empresas, o capitalismo brasileiro continuou orientado por uma rede restrita de relacionamentos. Em 1996, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) detinha participação, direta ou indireta, em 30 grandes empresas brasileiras. Em 2009, esse número triplicou e chegou a 90.

Reforço Se incluídos os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal), o governo estava presente em 119 empresas privadas no ano passado. Também aumentou a participação direta, com a criação de estatais, caso da Telebrás, ressuscitada para tocar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). O reforço do papel do Estado na economia era uma das principais bandeiras nos oito anos de governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sua sucessora, Dilma Rousseff, diz ter o mesmo ideário. (SR)