Título: Só neste caso
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Fonte: Correio Braziliense, 25/07/2011, Política, p. 4

Os promotores da liberalização do consumo de drogas abordam o tema por dois ângulos. O central é a defesa da liberdade individual. O segundo é a busca de abordagem mais flexível para algo que supostamente não pode ser evitado: a busca humana por substâncias-muleta para o espírito.

Mais recentemente, diante da recusa popular às ideias liberalizantes, políticos engajados nessa trip organizaram certo recuo tático. É uma nova fase, mascarada, no proselitismo. Agora, o melhor combate à epidemia das drogas será reduzir a dureza das punições e dar prioridade ao tratamento e ao desestímulo, para o usuário deixar de sê-lo.

É a legalização benevolente e limpinha. Como se não houvesse consenso absoluto para a necessidade de ajudar as vítimas do mal. Como se houvesse antagonismo entre combater o vício e ajudar quem nele vai mergulhado.

Notei outro dia a assimetria argumentativa quanto a certos valores. Dei o exemplo do contraste entre duas formas de olhar o direito à vida. A vida das plantas e animais merece engajamento irrestrito. Corta uma árvore para ver o que te acontece.

Já a vida do embrião ou feto humano deve estar, segundo esse viés, submetida ao livre arbítrio da mulher que carrega o novo ser. Em nome da liberdade irrestrita de a mulher decidir o que fazer com o próprio corpo. Ainda que o embrião ou feto não faça parte do corpo materno. Ela apenas o abriga.

São discussões complexas, mobilizam convicções religiosas e filosóficas profundas, e precisam ser tratadas com os devidos respeito e seriedade.

Nenhum segmento social deve ser excluído. Na última campanha eleitoral, por exemplo, causou espécie aos autonomeados modernos que igrejas se mobilizassem contra a legalização do aborto.

Para certos democratas, a defesa do direito a abortar é legítima bandeira político-eleitoral, ensejando inclusive o lançamento de organizações para a promoção da tese. Mas quem se opõe deve ficar calado, pois representa o "atraso". São democratas mesmo, como se vê. Compreendem a expressão "fazer o debate" como sinônima de "suprimir a opinião contrária".

Nas drogas é algo parecido. É evidente que elas são problema grave, ameaça a crianças e jovens, vetor gravíssimo de dano à saúde, à família, à sociedade. Mas há um segmento social convencido de que, neste caso, sua própria liberdade de escolha deve estar acima do interesse social. Mas só neste caso, claro.

E volta a guerra do "avanço" contra o "atraso".

A pior forma A Prefeitura de São Paulo e o governo federal vão dar um estádio de presente ao Corinthians.

O governo estadual vai garantir o dinheiro para ele abrigar a abertura da Copa. Suponhamos que isso seja mesmo prioridade, em si já duvidoso. Mas suponhamos.

Então, se os governos decidiram fazer, o patrimônio resultante deveria ficar para o povo, e não para os amigos dos governos.

Se são os impostos, atuais e futuros, que vão bancar o presentinho, que ele seja dado à população. O estádio merece carregar o "municipal", o "estadual" ou o "federal".

Se o dinheiro é estatal, o valor que ele permite criar deve ser de propriedade do público, e não de alguns amigos do governante de plantão.

O placar Quantos sírios precisarão ser mortos a mando de Bashar Assad para que a dupla Dilma Rousseff e Antonio Patriota, a dos "direitos humanos inegociáveis", aceite apoiar no Conselho de Segurança da ONU pelo menos uma condenação formal?

Talvez o Brasil devesse estabelecer esse número. Uma meta. Pelo menos poderíamos acompanhar com alguma segurança o andamento do placar. E talvez Assad pensasse duas vezes antes de atingi-la.

Num outro placar, em compensação, estamos ganhando de goleada. No prejuízo trazido ao país pelas maluquices da dupla precedente, Luiz Inácio Lula da Silva e Celso Amorim. Que num triste dia fizeram nossa diplomacia pender para o eixo Damasco-Teerã.

Vexame Mas vexame mesmo nestes dias passaram os apressadinhos que correram a culpar o Islã pelos atentados na Noruega. Provou-se, novamente, que esperar pelo esclarecimento dos fatos é sempre melhor do que dar vazão aos instintos e preconceitos.