Título: Jobim continua na corda bamba
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 31/07/2011, Política, p. 10

Ministro, que declarou ter votado na eleição do ano passado em José Serra (PSDB), de quem é amigo pessoal, ainda corre o risco de ser demitido. Bom relacionamento com militares, no entanto, pode favorecê-lo

A situação do ministro da Defesa Nelson Jobim no governo permanece indefinida. Jobim sabe que a declaração explícita de voto em José Serra causou enorme constrangimento no Palácio do Planalto, mas jura que não está demissionário ou que tenha dado a declaração para provocar alguma crise política. Pessoas próximas ao ministro acreditam que a defesa veemente feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dizendo que "Jobim virou ministro por sua competência, não pela opção de voto", poderia diminuir a tensão com a presidente. Mas Dilma continua incomodada, cumprimentou o ministro com frieza durante cerimônia em Brasília e não será surpresa, segundo interlocutores, se ela sacramentar a demissão do titular da Defesa.

A decisão não está tomada. Ao contrário das especulações, Jobim e Dilma não conversaram ontem. A presidente foi ao Rio participar do sorteio das eliminatórias da Copa do Mundo de 2014. Até o momento, não existe qualquer previsão de um encontro de ambos ao longo deste domingo. Jobim mantém a agenda de trabalho da semana, que inclui uma entrevista ao programa Roda viva da TV Cultura, onde o tema, inevitavelmente, virá à tona novamente.

Jobim tem dito a companheiros de ministério não entender o tamanho do problema causado pelas suas recentes declarações. Lembrou, inclusive, que já tinha manifestado opinião semelhante no ano passado, durante reunião ministerial. Avisou ao então presidente Lula que não poderia fazer campanha explícita a favor da petista Dilma Rousseff por sua ligação muito próxima com o tucano José Serra. O ex-governador de São Paulo foi padrinho de casamento de Jobim e Adriana e os dois chegaram a dividir apartamento durante um tempo.

Defensores do ministro da Defesa lembram, contudo, que Jobim, por seu estilo "outsider", coleciona admiradores e desafetos em sua trajetória pessoal. Ao mesmo tempo em que transita com liberdade em todas as correntes do PMDB, em momentos de impasse tem poucos pemedebistas dispostos a lhe dar sustentação. No partido, ele não é unanimidade. No PT, muito menos. E o principal posto político do país é ocupado por alguém pouco maleável a divergências políticas e de opinião.

Há quase um mês, Jobim já havia proferido uma frase que soou de mau gosto para o PT e para o governo. Durante a celebração dos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ¿ de quem foi ministro da Justiça ¿, Jobim enalteceu as qualidades do tucano e aproveitou para citar Nélson Rodrigues: "Antes, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos mas, hoje, os idiotas perderam a modéstia". Mais um tumulto nas hostes petistas.

Há duas semanas, durante coquetel oferecido pela presidente Dilma aos aliados para marcar o encerramento do primeiro semestre legislativo, Jobim não estava entre os ministros presentes. Na ocasião, a presidente elogiou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) e o vice-presidente, Michel Temer. Aproveitou para destacar a missão dada ao vice. "Ele vai coordenar, ao lado do ministro da Justiça, o Plano de vigilância das fronteiras e manter um diálogo muito próximo com as Forças Armadas". Para um interlocutor da presidente, Dilma poderia repetir a mesma fórmula adotada por Lula em determinado momento de seu governo, quando o vice-presidente José Alencar acumulou os cargos de ministro da Defesa e vice-presidente da República.

Caso a presidente não opte por esse caminho ¿ Temer rechaça veementemente essa alternativa ¿ Dilma terá dificuldades para demitir Jobim. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal foi, indiscutivelmente, o melhor titular da pasta da Defesa. Conseguiu o respeito dos comandantes das Forças Armadas e conduz um plano de reestruturação do setor desde que assumiu o cargo, em 2007.

Mas ao longo do governo Dilma, Jobim foi perdendo espaço. A presidente adiou a decisão sobre a escolha dos caças Rafale e o ex-presidente do STF foi afastado gradualmente do papel de interlocutor junto ao Judiciário, fatos que provocaram desconforto no ministro.