Título: Apostar na bolsa requer sangue frio
Autor: D"angelo, Ana ; Monteiro, Fábio
Fonte: Correio Braziliense, 31/07/2011, Economia, p. 14/15

Ainda se recuperando do tombo de 2008, quando a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) fechou o ano com perdas de 41%, os investidores em ações passam novamente por tormentas ¿ e elas parecem longe de acabar. Analistas de mercado avaliam que há espaço para mais quedas. E é justamente quando tudo parece perdido que surgem as boas oportunidades. "Investimento é uma maratona, não uma corrida de cem metros", ensina o analista Wilson Barcellos, da Unifinance, gestora de recursos de terceiros. O processo tem que se dar de acordo com o perfil de risco de cada um, mas com horizonte de médio e longo prazos.

Os prejuízos de quem investe na bolsa estão relacionados, quase sempre, a um erro típico dos maus aplicadores. Precipitados, eles geralmente decidem adquirir e vender os papéis no pior momento. "A máxima de comprar na baixa e vender na alta é correta, mas muitos investidores acabam fazendo o inverso em ocasiões de crise, por causa da emoção. Poucos conseguem ter a racionalidade de fazer o que é certo", constata José Kobori, professor de finanças do Ibmec.

O receituário de Barcellos é claro: se o investidor for mais agressivo, ou seja, preferir ativos de maior risco, que podem garantir ganhos mais elevados, caso das ações, ele deve olhar para os próximos três, cinco anos, e não para o curto prazo. "O mais conservador e menos propenso a risco, ou quem vai precisar de dinheiro rapidamente, deve aplicar em fundos mais conservadores, como os de renda fixa", recomenda.

Diversificação dos investimentos é tudo, enfatiza Rogério Olegário, da Prosperare Finanças Pessoais. "É um erro colocar grande parcela das economias somente na bolsa de valores. Se um ativo vai mal, outros com melhor desempenho compensam as perdas", observa. Tudo isso, é claro, exige disciplina, principalmente para quem quer administrar a sua própria carteira. Nesse caso, a dica é manter as metas iniciais de ganhos e o percentual máximo do dinheiro que pode ser exposto a riscos ¿ sempre uma parte menor das economias.

Se o investidor aceitou destinar no máximo 20% dos recursos em ações e obteve ganhos que elevaram a participação na carteira para 30%, deve realizar o lucro e retornar aos 20% que estabeleceu. O mesmo deve ser feito quando atingir a meta de retorno fixada. "Disciplina é tudo", destaca Barcellos.

Para iniciados O bancário Tomás de Faria, 29 anos, é um investidor agressivo: aplica todas as suas economias em apenas três ações ¿ duas delas são Petrobras e Vale do Rio Doce. Ele mesmo administra sua carteira, comprando e vendendo os papéis diretamente, por meio do sistema de home broker, pela internet. Mas Tomas adota uma forma de proteger o seu capital, ao recorrer ao sofisticado sistema de lançamento de opções de compra de ações que detém em carteira ¿ um bicho de sete cabeças para o investidor tradicional.

Com isso, o bancário conseguiu reduzir a perda do período ao receber ganhos no mercado de opções, enquanto as cotações dos papéis caíam. Tomás ressalta que, com toda a sua experiência, ainda está com carteira negativa. Contudo, ele não se afoba. "Estou tranquilo, porque invisto a longo prazo, pensando para os meus 40 anos pelo menos", afirma.

Márcio Cardoso, diretor da Título Corretora, alerta que, em momentos de incerteza como o atual, os riscos de perdas se multiplicam. Paciência, no entanto, é tudo no mercado de ações. Em 2008, quando o mundo ruiu por causa do estouro da bolha imobiliária norte-americana, as perdas nas bolsas foram violentas. No ano seguinte, quem esperou foi recompensado. "A recuperação foi forte", lembra. As ações subiram 82% em 2009.

IMÓVEIS, UM PORTO SEGURO Quando o sobe e desce do mercado financeiro abala o humor dos investidores, muitos procuram diversificar seus rendimentos em opções mais conservadoras. Nesse contexto, a procura pelo setor imobiliário sempre aumenta. "Ao longo dos últimos 50 anos, aplicar em imóveis tem sido um caminho atrativo, por causa da pequena desvalorização dos bens", afirma João Crestana, presidente do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP). Entretanto, apostar no setor também tem seus riscos. Crestana ressalta que a decisão de adquirir casas e residências não deve ser tomada pensando-se exclusivamente em lucros: "Não apoiamos quem compra um imóvel para revender em um pequeno espaço de tempo. Ao contrário, indicamos esse investimento para quem quer ter um porto seguro para seu patrimônio".