Título: Dólar do consumo
Autor: D"angelo, Ana ; Monteiro, Fábio
Fonte: Correio Braziliense, 31/07/2011, Economia, p. 14/15

As turbulências da economia internacional, que podem bater no Brasil a qualquer momento, não atormentam apenas os que têm dinheiro para aplicar. Para os consumidores, o quadro nebuloso também tem provocado muitas dúvidas. Todos querem saber o que fazer: se é melhor adiar as compras ou antecipá-las, sobretudo quando os objetos de desejo são importados e estão com os preços convidativos por causa do dólar barato. A cotação da moeda norte-americana caiu a R$ 1,553 na sexta-feira e está em seu menor nível desde janeiro de 1999, o que obrigou o governo a lançar uma série de medidas para conter a supervalorização do real.

Para o presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior, nada em excesso é bom. Ou seja, mesmo que os produtos importados estejam baratos, sempre é bom consumir com consciência, sem fazer dívidas acima da capacidade de pagamento. Ele diz ser natural que os consumidores se entusiasmem diante de mercadorias que nunca imaginaram comprar. "O Brasil tem um grande contingente de pessoas com demanda reprimida, ávidas por bens duráveis e importados", analisa.

Mas o auxiliar administrativo Robson Pereira, 30 anos, está exatamente de olho na cotação da moeda norte-americana. Ele conta que, para conseguir o menor preço, sempre acompanha as notícias sobre o câmbio. "Recentemente, comprei um notebook. Adiei o quanto pude, mas, com a queda do dólar, paguei mais barato. Fiz uma boa economia", garante. Seu próximo alvo é um iPad.

A servidora pública Lilian Oliveira, 44 anos, e a filha Dafny Oliveira, 18, também festejam o derretimento do dólar. Nas últimas semanas, elas pesquisaram preços de notebooks e iPads. "Os preços desses produtos estão despencando e acho que vão cair mais", ressalta Lilian. "Queria comprar logo, mas entendo que é melhor esperar. Quem sabe não dá para comprar um iPod também?", planeja Dafny.

Apesar de o consumidor ser beneficiado a curto prazo, gastos excessivos com produtos importados não são bons. "Existem dois grandes problemas com aquisições de produtos de fora: a indústria nacional pode ser fortemente abalada e os preços menores podem aumentar os níveis de endividamento do brasileiro, que já estão bastante altos", analisa Bruno Fernandes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). (AD e FM)