Reflexo da lentidão econômica global, o barateamento de produtos como petróleo, minério de ferro e soja tem sido saudado como um alento para países desenvolvidos que tentam sair da crise. Mas não é todo mundo que está sorrindo. Por serem grandes exportadores de Commodities , Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru, Argentina e Venezuela devem sofrer este ano perda de US$ 72,4 bilhões em suas balanças comerciais com a queda dos preços globais. Isso equivale a duas vezes o valor de mercado da Vale na Bolsa. No Brasil, a perda deve chegar a US$ 14 bilhões.

A conta é do banco Itaú Unibanco, que estimou quanto esses países devem comercializar em Commodities este ano e comparou com 2013, antes de os preços começarem a cair com força. O cálculo desconta a economia com a importação de combustíveis, que ficaram mais baratos com a queda da cotação do petróleo, apesar de esse recuo não ter sido repassado para os preços internos.

O impacto nas sete principais economias da América Latina é alto porque foi o preço de produtos básicos que impulsionou essas nações na última década. Mas a combinação de uma economia global em dificuldades e a desaceleração da China, maior consumidora de Commodities do mundo, derrubou as cotações. Tal cenário vem se desenhando há dois anos, mas o tombo de 50% do preço do petróleo no último semestre trouxe a sensação de que os anos dourados acabaram. Em meados de janeiro, o índice de Commodities da Bloomberg caiu ao menor nível desde 2002, quando a arrancada chinesa precipitou o boom.

- O preço das Commodities funciona como transferência de renda. Quando estão em alta, a riqueza é transferida de países consumidores, em geral mais desenvolvidos, para produtores. Agora, o que ocorre é o inverso - diz Maurício Molan, economista-chefe do Santander.

venezuela é o país mais afetado

A fatura é mais alta para a Venezuela, segundo os cálculos do Itaú. Quase metade (46,7%) das perdas na região será paga pela nação de Nicolás Maduro, que deixará de ganhar US$ 33,8 bilhões. O país é dependente da venda de petróleo, produto que mais perde valor. No Brasil, o prejuízo é de US$ 14 bilhões, resultado da diferença entre US$ 33 bilhões em exportações e US$ 19 bilhões em importações, especialmente de combustíveis, que respondem por 17% das compras brasileiras lá fora. Na Colômbia, o impacto será de US$ 15 bilhões. A menor perda vem do Chile, de US$ 200 milhões, já que o país exporta cobre, mas importa petróleo. Efeitos menos intensos também são observados em México (US$ 3,9 bilhões), Peru (US$ 2,4 bilhões) e Argentina (US$ 3,1 bilhões).

Para João Pedro Resende, do Itaú Unibanco, o cenário deve frear investimentos e reduzir renda e confiança no país.

Por outro lado, a China economizará US$ 175 bilhões. Embora os números do Itaú não incluam Europa e EUA, eles serão beneficiados. Apesar do aumento da produção americana de petróleo, o país continua importador líquido de Commodities.

A queda acentuada de preços levou alguns especialistas a anunciarem o término do "superciclo" das Commodities iniciado nos anos 2000 com a ascensão da China. Nem todos são categóricos em decretar o fim, mas há consenso de que os recordes nas cotações ficaram para trás.

- O pico dos preços de Commodities já passou, mas isso não quer dizer que vão ficar abaixo dos últimos 25 anos. É o fim do superciclo. Durante um bom período o entusiasmo e os ganhos com Commodities serão menores. Ao contrário dos três superciclos que vivemos desde o século XIX, a fase posterior não será de colapso, particularmente em alimentos - afirma o economista brasileiro Otaviano Canuto, conselheiro sênior sobre economias do Brics no Banco Mundial (Bird).

O que colabora para isso, diz ele, é a mudança na geografia do Produto Interno Bruto (PIB) mundial: o crescimento econômico em países de renda mais baixa deve manter a demanda por Commodities mais forte que em ciclos anteriores, como Índia, Vietnã, Camboja e países da África.

O Banco Mundial prevê que os nove índices de Commodities caiam em 2015, com recuperação modesta em 2016. Para as agrícolas, a projeção é de redução de 4,8% este ano, após queda de 3,4% em 2014. Os preços de metais devem recuar 5,3%, após tombo de 6,6% no ano passado. Já o índice de energia, puxado por petróleo, deve cair 40,5% em 2015, seguindo-se a um recuo de 7,2% em 2014.

A expansão da economia chinesa foi a principal razão do superciclo da década passada. Mesmo com a crise econômica mundial de 2008, os preços de Commodities mantiveram ritmo expressivo de expansão. Nos últimos anos, a mudança do perfil de crescimento da China atingiu a demanda. De um crescimento baseado em investimentos e construção - que estimula a compra de metais -, a China busca crescer por meio do consumo.

- Acabaram os dias de crescimento anual de dois dígitos do consumo chinês de Commodities , sobretudo de metais. Mas não creio em colapso na demanda. A China é uma economia muito maior hoje. Mesmo um crescimento mais fraco exige consumo elevado de metais. Muitos países ainda estão se desenvolvendo e precisam de infraestrutura - diz Caroline Bain, economista da Capital Economics.

A valorização do dólar também derruba os preços das Commodities . Em geral, a cotação desses produtos anda na contramão da moeda americana, já que são comercializados em dólar. Quando o dólar está mais forte, adquirir a mesma quantidade de produtos exige um montante maior nas moedas locais dos importadores. Isso reduz a demanda, e o preço cai.

EFEITO NO PIB

Artur Moreira Passos, economista do Itaú Unibanco, lembra que a disparada dos preços incentivou investimentos para ampliar a capacidade produtiva. A oferta aumentou num período de desaceleração em vários segmentos, como é o caso do minério de ferro. Canuto diz que, se no pós-crise os emergentes conseguiram se descolar e manter a expansão de suas economias, isso não ocorre agora.

A América Latina já dá sinais de desaceleração. Citando o peso das Commodities , o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a projeção para a expansão da região e do Caribe de 2,1% para 1,3% em 2015 e de 2,8% para 2,3% em 2016. O HSBC reduziu de 2% para 0,9% sua estimativa para as nove principais economias da região. Para o Brasil, a projeção passou de alta de 1% para retração de 0,5%.

____________________________________________________________________________________________________________________

Gasolina sobe até 8% em postos do Rio. Alta no diesel chega a 7%   

 

Gasolina, diesel e etanol já estão mais caros em postos de gasolina do Rio. O aumento de R$ 0,22 no preço do litro da gasolina e de R$ 0,15 no diesel que começou a valer ontem nas refinarias da Petrobras levou a reajustes que variaram de 0,32% na Tijuca a 8,11%, na Gávea. Em pesquisa em dez postos da cidade, da Zona Norte à Zona Sul, seis já mudaram o valor da gasolina. No diesel, que subiu em quatro postos, a alta variou de 5% a 7,41%.

A alta no combustível foi provocada pelo repasse do aumento de impostos decretado pelo governo federal no último dia 19 de janeiro. Foram restabelecidos PIS/Cofins e Cide para equilibrar as contas do governo este ano. Esta última é uma contribuição criada para financiar investimentos no setor de transporte e tinha sido zerada em 2012 para evitar que o aumento no preço da gasolina chegasse ao consumidor.

na zona sul, preço maior

A alta de até 8,11% ficou pouco acima das estimativas iniciais de repasse próximo de 7%.

Até o etanol, que não sofreu aumento de carga tributária, ficou em torno de 7% mais caro em quatro postos da cidade.

Em quatro casos, o preço foi mantido o mesmo da semana passada. Mas por pouco tempo. Segundo funcionários, isso ocorreu porque ainda havia gasolina com o preço antigo. Mas houve também quem já reajustasse os preços no sábado, antes do aumento entrar em vigor.

- Ontem (sábado) houve fila das 2h da tarde às 10h da noite, com todo mundo querendo abastecer antes do aumento. Subimos só um pouco o preço (a alta foi de 0,32%) - afirmou o frentista Paulo Sérgio de Jesus, do Posto Pop Star Tijuca, na Rua São Francisco Xavier, que cobra R$ 3,099 pelo litro da gasolina.

O maior reajuste de 8,11% foi encontrado na Gávea, no Posto Jockey, na Bartolomeu Mitre, na Gávea. A gasolina lá custa R$ 3,999, depois do aumento.

A dispersão entre bairros permanece. A diferença pode chegar a 30% entre um posto na Gávea e outro na Tijuca.

O empresário Antonio Carlos Nunez aproveitou que o preço ainda não havia subido, num posto na Tijuca, para dobrar o gasto que pretendia fazer. Ele tem uma empresa de mototáxi com custo de R$ 500 por mês em combustível. O aumento vai apertar o orçamento doméstico e o da empresa:

- Uso o combustível no trabalho, meu custo vai subir.