CURITIBA

O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, aliado do PT, era desorganizado e tinha dificuldade para controlar a dinheirama que recebia em propinas na Petrobras, segundo Pedro Barusco, que foi seu auxiliar na estatal. Como recebia a maior parte da propina em contas no exterior e tinha medo de ser flagrado, Duque pedia a Barusco que lhe desse R$ 50 mil em dinheiro vivo a cada 15 dias".

Após sair da Petrobras em 2012, Renato Duque procurou Barusco para acertar propinas pendentes. No total, o ex-diretor de Serviços da Petrobras tinha a receber R$ 70 milhões. Desses, R$ 58 milhões só da construtora Camargo Corrêa, e o restante de contratos de estaleiros. À frente da estatal, ele teria recebido cerca de US$ 40 milhões (R$ 108 milhões) ilicitamente.

No depoimento de delação premiada feito à Polícia Federal, Barusco contou que entregava o dinheiro no gabinete de Duque, na própria Petrobras. Para atender à exigência de Duque, ele guardava parte do dinheiro em espécie em sua casa. Quando foi deflagrada a primeira fase da Operação Lava-Jato, com a prisão de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Área de Abastecimento, Barusco tinha em seu poder R$ 3 milhões, que enviou ao exterior, e destruiu provas.

Duque, segundo o delator, era tão ruim na administração do dinheiro que chegou a levar calote de US$ 6 milhões. Em determinado momento, ele disse a Barusco para fazer remessas a um funcionário do banco Lombardi Odier, em Paris. O sujeito sumiu com o montante, e Duque fez com que Barusco assumisse o prejuízo. Incomodado por gerenciar a propina alheia, Barusco foi com Duque a Milão a fim de abrir contas para ele. Antes de Barusco, Duque usou também o operador Mário Goes, da Rio Marines, que representava oito grandes empresas. 

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Ex-gerente da estatal admitiu que corrupção era 'endêmica'   

 

Vivendo à sombra do então diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, o engenheiro Pedro Barusco, que admitiu ter recebido U$ 100 milhões em propinas, é expansivo e ambicioso e diz o que pensa, contam funcionários da estatal. O envolvimento em esquemas de corrupção, porém, teria mudado seu comportamento: ele ficou mais sério e agressivo, chegando a humilhar colegas de trabalho.

- Barusco era muito farrista. Nas festas de fim de ano, dançava com todas as colegas. Mas, no trabalho, era muito inteligente e demonstrava ambição - disse um ex-funcionário que trabalhou com ele.

Outro funcionário disse que ele era determinado:

- Ele sabia agradar a quem interessava e não se incomodada em desagradar a quem não tinha importância para ele. Nesses casos, fazia críticas à pessoa em plena reunião.

Um dos "peixes grandes" fisgados pelo Ministério Público Federal, Barusco fez acordo de delação premiada. Contou que o pagamento de propina era prática "endêmica". E disse ter começado a receber dinheiro da holandesa SBM Offshore em 1997, no governo Fernando Henrique Cardoso, quando era gerente de Tecnologia de Instalações da diretoria de Exploração e Produção. Em 2003, passou a gerente executivo de Engenharia, subordinado a Duque, de quem virou braço-direito. Duque, que chegou a ser preso ano passado, foi alçado ao cargo pelo PT e é afilhado do ex-ministro José Dirceu.

Barusco era responsável por redigir contratos e enviá-los à diretoria executiva, da qual Duque fazia parte. Desfrutava de regalias bancadas pela Petrobras, como viagens de primeira classe ao exterior para representar a estatal. É conhecido de garçons e maîtres em restaurantes cariocas e descrito como simpático. Em 2011, quando se aposentou, tornou-se diretor de Operações da Sete Brasil,que tem contratos de U$ 80 bilhões com a Petrobras. Ele se afastou da empresa em 2013 para tratar de um câncer.

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Duque nega as acusações feitas por Barusco   

O advogado Alexandre Lopes, que defende o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, nega todas as acusações feitas por Pedro Barusco, ex-gerente executivo da estatal.

- Barusco não consegue comprovar nada do que fala. Se tivesse comprovado uma linha do que falou, Duque hoje estaria preso - afirmou Lopes: - Ele (Barusco) fala absurdos ali. Inclusive, ele se saiu com a pérola de que recebeu a (propina) dele e a do Duque.

Lopes questiona outro ponto do depoimento do ex-gerente:

- Ele (Barusco) é o contador da propina, ele tem dinheiro lá fora e passa milhões para o Duque? Como ele repassava para o Duque se o dinheiro dele estava lá fora?

O advogado nega qualquer possibilidade de Duque fazer delação premiada porque seu cliente "não tem o que delatar" e não reconhece qualquer acusação.