SÃO PAULO

O tesoureiro do PT João Vaccari Neto negou ontem, em depoimento à Polícia Federal, em São Paulo, ter recebido propina de fornecedores da Petrobras, como denunciou o ex-gerente da estatal, Pedro Barusco, em delação premiada realizada na Operação Lava-Jato. Vaccari foi conduzido coercitivamente para prestar esclarecimentos na Superintendência da PF, em cumprimento a mandado expedido pela Justiça Federal no Paraná, onde tramitam os autos da operação. Quando policiais chegaram a sua casa, na Zona Sul de São Paulo, eles tiveram que pular o muro porque Vaccari não abria a porta.

Na casa do tesoureiro do PT, que há 15 dias deixou o conselho de Itaipu, policiais recolheram diversos documentos, entre eles uma agenda pessoal do petista. Ele permaneceu na sede da PF por três horas e deixou o prédio por uma porta lateral no fim da manhã, onde um táxi o aguardava no estacionamento. De cara fechada, não quis falar com a imprensa.

"Moch": nome dado a Vaccari

Por meio de seu advogado, Vaccari disse que o PT "não tem caixa dois, nem conta no exterior", e "somente recebe contribuições legais ao partido, em absoluta conformidade com a lei, sempre prestando as respectivas contas às autoridades competentes". A defesa também criticou a condução coercitiva do petista, por entender que "bastaria intimá-lo" a depor. Em texto divulgado no site do PT, Vaccari disse que "todas as dúvidas foram esclarecidas à PF". À tarde, ele viajou para Belo Horizonte para participar de evento hoje em comemoração do aniversário do partido. Ontem mesmo, ele se reuniu com dirigentes, a quem disse que "o depoimento não teve nada de novo".

Em depoimentos à polícia e ao Ministério Público, Barusco disse que Vaccari recebia, como representante do PT, 0,5% do valor de todos os contratos de diretorias onde havia pagamento de propina, como Abastecimento e Serviços; e 0,6% do valor de contratos de estaleiros, no período em que Barusco prestava serviços para a Sete Brasil. O ex-gerente da Petrobras apresentou à Justiça uma tabela com detalhamento da divisão de propina em 87 contratos da empresa, realizados entre 2003 e 2013. Nela, cita Vaccari pelo apelido "moch", que significa "mochila", em referência ao fato do tesoureiro petista sempre estar usando uma bolsa do tipo quando se encontravam.

Apesar de detalhar percentuais e valores recebidos pelo petista em cada contrato da Petrobras, Barusco diz "não saber como Vaccari operacionalizava os recebimentos em favor do PT". Nos depoimentos, ele afirma "não saber se recebia mediante transferências no exterior ou em dinheiro" e "se havia pagamento de propina na forma de doações oficiais ao partido". Em uma das retificações feitas durante a delação, Barusco ainda afirma que a parte destinada a Vaccari "poderia ter outro operador e outro interlocutor junto às empresas". Pelas regras da delação, a polícia precisa agora buscar provas independentes para apoiar o depoimento do delator.

Barusco disse que o tesoureiro petista tinha "proximidade muito grande e contato muito forte" com Renato Duque, na época em que ele era diretor na Petrobras. Citou os hotéis Windsor Copacabana, no Rio, e antigo Meliá Mofarrej, atual Trivoli Mofarrej, em São Paulo, como pontos de encontro dos dois. E menciona o nome de Zwi Skornicki, representante do esteleiro Keppel Fels, como operador do pagamento de 4,5 milhões de dólares em propina a Vaccari, com a ressalva de que "não sabe dizer como e onde foi recebido".

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'My way', o apelido de Duque 

 

Hit na voz de Frank Sinatra, a música "My Way" batizou a nona fase da Operação Lava-Jato, deflagrada ontem pela Polícia Federal. Era assim que o então gerente da Diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco chamava Renato Duque, na época diretor da área e agora acusado de participar do esquema de corrupção na estatal.

Lançada em 1969, a música escrita por Paul Anka, inspirada numa canção francesa, tem trechos que dizem: "Agora o fim está próximo / E eu encaro a cortina final". "Arrependimentos, eu tive alguns/Mas então, tão poucos para mencionar/Eu fiz, o que eu tinha que fazer/ E eu vi tudo, sem exceção". E também: "Eu fiz do meu jeito/Sim, esse era meu jeito".

As informações de Barusco, que se tornou um dos delatores do esquema de corrupção, somadas à de uma nova testemunha ligada a uma fornecedora da petroleira, foram essenciais para a investigação iniciada nessa nova fase.

Já a letra de "My Way", além de lembrar Duque, pode ser associada a vários momentos da Operação Lava-Jato, marcada por várias delações premiadas e que teve início em 2014.

Quando Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, afirmou, em depoimento à Justiça Federal do Paraná, que a delação premiada "deixou sua alma mais pura", ele também poderia cantarolar um trecho da famosa música: "Arrependimentos, eu tive alguns"...