RIO - O Congresso Nacional que toma posse hoje dá início à 55ª Legislatura realçando um aspecto da política brasileira: o laço familiar. Dos 594 parlamentares, 307 têm algum grau de parentesco com políticos. No Rio Grande do Norte, são 10 dos 11 eleitos. No Rio e em São Paulo, somam mais de 40%. E mais: 73 nunca ocuparam antes um cargo eletivo, estreiam já na Câmara ou no Senado e, em sua maioria (63%), já têm algum político na família. Trata-se do maior percentual dos últimos 40 anos. Esses e muitos outros dados podem ser conferidos na plataforma O DNA do Congresso, que O GLOBO lança hoje no site da editoria País e que vem sendo construída há três meses por Gabriela Allegro, do Núcleo de Jornalismo de Dados.

Cobrindo a história dos parlamentares desde a República Nova, a ferramenta permite que o leitor tenha acesso à carreira política dos 594 deputados e senadores, além de pesquisar por período histórico, parentesco, processo na Justiça, partido político, bancada, região, grau de escolaridade, número de eleições, idade e ordem alfabética.

Com mais de 25 mil funcionários, o Congresso tem orçamento maior do que muitos municípios. Em 2013, estavam disponíveis R$ 8,5 bilhões para despesas que incluíam de salários até compra de materiais. Os parlamentares votam os projetos mais importantes do país, como o Orçamento da União, e fiscalizam o governo federal.

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No PMDB, 69% têm parentesco com outros políticos

A partir dos dados reunidos no projeto O DNA do Congresso, o leitor pode saber, por exemplo, que dois parlamentares estão há 60 anos na política — o senador José Maranhão (PMDB-MA) e o deputado federal Bonifácio Andrada (PSDB-MG) — e que 74 começaram a carreira durante o regime militar. Além disso, que, nesta Legislatura, 69% dos parlamentares do PMDB, que divide com o PT a maior bancada do Congresso, têm algum laço familiar com outros políticos. No PSDB, são 55%; no PT, 29%.

— Ter parentes na política certamente tem a ver com laços históricos, a oligarquização é um traço da política nacional. E, ainda que nos últimos 50 anos tenha havido uma maior diversificação e tenham sido criados novos partidos, se a liderança for forte, ela busca fazer o sucessor, impõe o nome do filho, da mulher, para se manter no poder — diz Americo Oscar Freire, cientista político e historiador da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Processos judiciais: 51%

Os cruzamentos também revelam que 38% dos 307 parlamentares que têm algum grau de parentesco com políticos começaram a carreira como deputados federais. E que, dos 366 que têm dados judiciais consolidados, 51% têm processo em andamento na Justiça.

No site, estão também disponíveis para download todas as planilhas com as bases de dados usadas pelo projeto, sendo possível gerar diferentes matrizes, entre elas o comportamento partidário dos 594 parlamentares. Por exemplo, dos 56 que começaram a vida eletiva no PSDB, 61% permanecem no partido. No PMDB, são 47%; no PT, 89%. Além disso, descobre-se a força de cada sigla nas regiões. O PMDB está entre as duas maiores bancadas em todas as regiões do Brasil.

O Núcleo de Jornalismo de Dados garimpou bases de dados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nos Tribunais Regionais Eleitorais, nas Assembleias Legislativas, nos portais da Câmara e do Senado, no site Transparência Brasil e em páginas pessoais dos parlamentares.