CORUMBÁ DE GOIÁS (GO)

Depois de oito meses de invasão, os sem-terra ligados ao MST começaram a desocupar ontem uma área invadida da fazenda Agropecuária Santa Mônica, em Goiás. A propriedade pertence ao senador Eunício de Oliveira (PMDB-CE), líder do partido no Senado. A coordenação nacional do MST e as famílias que estavam acampadas no imóvel entraram num acordo com a Polícia Militar para deixar a terra de forma pacífica. A saída dos sem-terra não se encerrou ontem e levará mais alguns dias.

Nos últimos dias, os sem-terra, como modo de pressionar, ameaçaram invadir a sede da fazenda, mas fizeram uma mobilização apenas na frente do imóvel. A notícia sobre a ação do MST chegou ao Palácio do Planalto, e a presidente Dilma Rousseff aproveitou uma reunião com os políticos do PMDB para avisar que pediria agilidade na reintegração de posse. O ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário) foi acionado para negociar a saída dos sem-terra.

PM mobilizou 1.600 homens

O propósito era evitar confronto entre sem-terra e policiais, o que foi alcançado. A Polícia Militar foi para a fazenda com um forte contingente. Segundo o comando da PM local, cerca de 1.600 homens, da força de choque e também do batalhão de cavalaria, estavam nas proximidades e seriam acionados caso necessário. O coronel Júlio César Mota cuidou da retirada dos acampados. A imprensa não pôde acompanhar de perto a saída dos sem-terra.

- O ideal é termos um teatro de ação mais enxuto. Estamos cumprindo uma decisão judicial e a retirada está sendo pacífica - disse o coronel.

Vários ônibus, alguns escolares, e caminhões foram usados para retirada de barracos, madeiras e transporte dos sem-terra. Eunício de Oliveira disponibilizou seis ônibus para o deslocamento dos acampados. A coordenação nacional do MST estima que cerca de três mil famílias frequentavam o acampamento. Destas, 1.200 permaneciam o tempo inteiro no local. As outras, geralmente, seguiam para a área nos finais de semana. As famílias que começaram a ser retiradas ontem irão para três acampamentos do MST na região.

A assessoria do senador informou que metade das pessoas que estavam na terra deixou ontem o local. A PM afirmou que não foi estabelecido prazo para os sem-terra saírem completamente da Santa Mônica, e que os policiais permanecerão na região pelo tempo que for necessário. Cálculos da PM estimavam que, ontem, cerca de 1.200 sem-terra - entre homens, mulheres e crianças - estavam na área no momento da reintegração da área. Integrantes do Conselho Tutelar de Corumbá de Goiás acompanharam a ação, visando proteger as crianças.

O coordenador do MST no acampamento, Valdir Mirzernovski, estima que o processo pode levar até uma semana. Além da infraestrutura que precisa ser desconstruída, há também plantações que ainda serão colhidas. Valdir afirmou que são 200 hectares plantados na terra com 22 produtos.

Não desistimos deste latifúndio

O coordenador do movimento afirmou que em reunião ontem com o ministro Patrus Ananias, o governo teria se comprometido a providenciar, em 60 dias, 18 mil hectares de terra para alojar em definitivo os sem-terra. Mirzernovski afirmou que o MST ainda não desistiu da terra do senador.

- Estamos recuando, saindo, mas não desistimos deste latifúndio. Ainda vamos transformá-lo num dos maiores assentamentos da reforma agrária e numa área livre de agrotóxicos.

Os policiais montaram uma barreira e mantiveram jornalistas e moradores da região a cerca de seis quilômetros da entrada do acampamento. Os acampados que tentavam chegar ao local para retirar seus pertences faziam fila para serem cadastrados pelos policias.