SÃO PAULO

O presidente do Senado, Renan Calheiros, e o da Câmara, Eduardo Cunha, ambos do PMDB, não têm outra saída: ou diminuem a artilharia contra o governo ou ficarão isolados, segundo analistas políticos ouvidos pelo GLOBO. Para os especialistas, o governo buscará novos canais de diálogo no Congresso, caso os dois mantenham a postura agressiva contra a política da presidente Dilma Rousseff. Em um momento de crise, analisam, o rompimento entre PT e PMDB é pior para o partido de Cunha e Calheiros, já que, segundo eles, se o partido perder o espaço dentro do governo, automaticamente perderia força.

- O foco do PMDB emparedando o governo não tem espaço neste momento em que as principais lideranças estão enfraquecidas e sob investigação. Superavaliamos a relação do PMDB com o governo. O partido não está tão por cima assim - analisa a historiadora da Fundação Getúlio Vargas Marly Motta.

Para ela, se o PMDB mantiver a política "fogo amigo" contra o governo, Dilma pode buscar uma nova composição de forças, diminuindo o espaço da legenda no governo. Em janeiro, Dilma comandou uma reforma política que deu espaços importantes do governo a aliados como Cid Gomes (PROS) e Gilberto Kassab (PSD), que ficou com o comando do Ministério das Cidades. A pasta era cobiçada pelo PMDB, que não gostou da escolha.

- esquecemos que o PMDB só é o PMDB sendo governo. Se o partido, no meio dessa crise perde espaço no governo, perde sua força. E não acredito que neste momento o PMDB vai querer ser oposição - defendeu a historiadora.

O clima de "crise constante" não é bom nem para o Executivo, tampouco para o Congresso, avalia o cientista político e pesquisador da UFRJ Sandro Corrêa. Para ele, a deflagração da fase política da Operação Lava-Jato levou a crise, que estava restrita ao Executivo, para dentro do Congresso, equilibrando os papéis entre os poderes. Apesar de afirmar que a tensão se manterá nas próximas semanas, ele acredita que um rearranjo de forças será articulado:

- Com o Congresso sob investigação, é difícil acreditar que eles vão querer manter esse cabo de guerra com o governo para sempre. Eles sabem que numa guerra, é melhor ter aliados ao seu lado do que mais um flanco aberto a ataques - explicou Corrêa.

A presidente Dilma Rousseff, no entanto, tem dado sinais claros que vai buscar novos interlocutores para esfriar o caldeirão da crise. No início da semana, ela convidou os caciques do PMDB para um jantar no Palácio do Alvorada. Além disso, a partir de hoje, ela vai ter um encontro semanal com aliados no Congresso. O primeiro está marcado com as lideranças da base aliada no Senado. O gesto é visto como uma tentativa de diluir os constantes ataques sofridos por Renan Calheiros.

Depois de faltar ao jantar com Dilma, o presidente do Senado devolveu ao governo a Medida Provisória 669, que acabou com a política de desoneração, vista pelo governo como uma das peças fundamentais para enfrentar a crise econômica. Mesmo após a divulgação de seu nome na lista, Renan continuou em rota de colisão com a presidente.

- Renan dá sinais claro que não vai afundar sozinho - afirma Corrêa

O cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, Fundação Getúlio Vargas, não acredita numa melhora na relação entre os dois poderes. Para ele, a crise vai "aglutinar" ainda mais a relação já estremecida entre Congresso e Planalto. Teixeira afirmam ainda que a liderança de Cunha e Calheiros está ameaçada:

- Eles estão sendo colocados em xeque.

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Força dos protestos vai depender da economia 

 

SÃO PAULO

A divulgação da lista de parlamentares que serão investigados na Operação Lava-Java por suspeitas de corrupção pode aumentar a desconfiança da população em relação à classe política e provocar protestos no Brasil. Mas as mobilizações só devem ganhar escala, segundo analistas políticos, se a situação econômica piorar.

Manifestações marcadas para a semana que vem devem ser um termômetro do alcance que os protestos podem ter neste ano. Por enquanto, dizem os cientistas políticos, esses protestos ainda seguem a polarização observada nas redes sociais. Na sexta-feira, dia 13, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e movimentos sociais ligados ao governo pretendem ir às ruas defender a Petrobras. Dois dias depois, no domingo, é a vez dos grupos que querem o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

- Ainda há uma divisão muito clara das pautas. Temos que compreender em que medida esses protestos vão acontecer: se vamos assistir a um debate mais denso ou se serão esvaziados, com pautas diversas - diz o analista Humberto Dantas, da Faculdade Escola de Sociologia e Política (Fesp).

Segundo Dantas, a situação política é muito grave, com "o Legislativo caindo em descrédito" e a falta de resposta do Executivo. Mas a população tende a se revoltar mais quando sente os efeitos em sua vida cotidiana, caso a inflação suba e os preços aumentem.

O cientista político Nelson Rojas de Carvalho, pesquisador do Observatório das Metrópoles, acredita que a situação vivida pelo governo Dilma é mais complicada do que aquela enfrentada pelo PT durante o mensalão:

- O governo federal está desgastado. A imagem do Congresso tem tido uma exposição negativa em razão dos presidentes das duas Casas estarem envolvidos. A crise econômica agrava um cenário que já é desfavorável. No mensalão, o país estava em condições econômicas melhores.

Carvalho acredita que a instabilidade política não interessa a nenhum partido e que é mais provável que a lideranças procurem fazer uma coalização.