BRASÍLIA.

Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados e um dos investigados na Operação Lava-Jato, divulgou ontem, na internet, um texto atacando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Ao afirmar que Janot "escolheu a quem investigar", Cunha questionou o arquivamento, a pedido do procurador, do procedimento em relação ao senador Delcídio Amaral (PT-MS). Janot considerou "vagas" as informações colhidas contra Delcídio.

No texto divulgado na internet, Cunha apontou que, assim como ele próprio, Delcídio recebeu doações legais de empresas investigadas na Operação Lava-Jato, no valor de R$ 800 mil. Mas criticou o fato de Janot só ter feito o levantamento nas contas eleitorais dele, e não nas do petista.

De acordo com a delação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, o senador petista seria padrinho político de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras, hoje preso. Costa também afirmou que soube "por meio de comentários" que Delcídio usou o apagão elétrico entre 2001 e 2002, quando era diretor de Gás e Energia da Petrobras, como justificativa para forçar uma compra em caráter emergencial de turbinas de termelétricas da francesa Alstom, tendo recebido propina com o negócio.

Socorro a Cerveró

O contrato bilionário teria rendido dividendos também a Cerveró, à época gerente de Energia Elétrica e subordinado de Delcídio. Nas palavras de Costa, Delcídio "ainda não era politico" quando integrava os quadros da estatal. Eleito senador pelo PT em 2002, Delcídio teria, segundo Costa, trabalhado pela indicação de Cerveró para a Área Internacional no início do governo Lula. E, depois do escândalo recente em torno da compra de Pasadena, nos Estados Unidos, socorreu Cerveró, realocando-o como diretor financeiro.

No depoimento, Costa disse que "causou muita surpresa entre os funcionários da Petrobras o fato de Cerveró continuar em um cargo de diretoria, ainda que uma diretoria menor, depois de todos os questionamentos envolvendo Pasadena".

O delator afirmou que a ex-presidente Graça Foster tem conhecimento do episódio envolvendo a compra das turbinas, visto que parte do material, adquirido em quantidade excessiva, ficou no almoxarifado de 2002 até "2009 ou 2010", quando foi usada em termelétricas em Cubatão, na época em que Foster já ocupava a diretoria de Gás e Energia da Petrobras.

Na petição em que pede o arquivamento, o procurador-geral justifica que "as afirmativas de Paulo Roberto Costa são muito vagas e, sobretudo, assentadas em circunstâncias de ter ouvido os supostos fatos por intermédio de terceiros e, ainda, de maneira não individualizada". A reportagem procurou Delcídio para comentar as declarações de Cunha, mas não obteve retorno.

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Ex-deputada também fez pressão sobre fundo de furnas

 

Requerimentos assinados pela ex-deputada federal Solange Almeida (PMDB-RJ) já se cruzaram mais de uma vez com assuntos ligados ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em 2009, ela solicitou audiência pública à Comissão de Minas e Energia da Câmara para debater "supostas irregularidades contábeis" no Real Grandeza, o fundo de pensão dos funcionários da estatal Furnas Centrais Elétricas. Na época, dirigentes da entidade identificaram no requerimento de Solange, repetido por outros dois parlamentares nos mesmos termos, uma manobra de Eduardo Cunha para mudar a direção do fundo e indicar os novos dirigentes.

Reportagem publicada ontem, pelo GLOBO, revelou que Solange Almeida também assinou, em 2011, dois requerimentos destinados a investigar os contratos do Grupo Mitsui com a Petrobras. Os papéis reforçam a delação premiada do doleiro Alberto Youssef contra Eduardo Cunha. O delator contou que aliados de Cunha teriam feito pressões sobre a Mitsui depois que o empresário Júlio Camargo, representante da empresa no Brasil, teria interrompido o pagamento de propina pelo contrato de aluguel de um navio-plataforma.

A investida de Solange sobre o Real Grandeza ocorreu no momento em que Furnas enfrentava uma crise interna, causada pela interferência do PMDB na gestão da estatal. A então deputada somou-se, na época, aos deputados Silvio Lopes (RJ) e Rômulo Gouveia (PB) para acusar os gestores do Real Grandeza, um dos dez maiores fundos de pensão do país, de omitir um passivo atuarial de mais de R$ 300 milhões nos balanços de 2007 e 2008.

Mas os dirigentes devolveram a acusação e disseram que o verdadeiro objetivo era afastar a diretoria do fundo e assumir o controle. Um dos então integrantes do Conselho Deliberativo do fundo, Jeovah Machado, associou os requerimentos à "tentativa de criar suspeitas e tirar proveito da situação". Para ele, a resistência da diretoria da Real Gradeza estaria "contrariando interesses dos que querem manipular o patrimônio da fundação".