SÃO PAULO e RIO

Sair de uma loja de produtos importados com a sacola cheia de novidades vai custar cada vez mais caro para os consumidores. Isso porque o dólar comercial beirando os R$ 3 já traz muita dor de cabeça a comerciantes especializados em itens fabricados fora do país, sobretudo aqueles de baixo valor. Sem acesso a mecanismos de proteção financeira capazes de minimizar a alta da moeda, a saída para esses lojistas é aumentar os preços e correr o risco de ver produtos encalhados nas prateleiras. Ou reduzir as margens de lucro, mesmo diante do aumento dos custos de importação.

A Daiso Japan, no Brasil há pouco mais de dois anos, já não descarta reajustes e até alertou os clientes, em sua página no Facebook, sobre a variação do dólar desde o ano passado. A rede de lojas, com mais de 2.600 unidades em Japão, Estados Unidos e Austrália, cobra um preço único por todos os seus mais de 4 mil produtos. Atualmente, cada item custa R$ 6,90, mas a apreciação do dólar tem dificultado manter esse preço.

- Vamos tentar manter até o limite possível o valor-base de R$ 6,90, porém uma parte das mercadorias terá que sofrer algum reajuste - afirmou Reginaldo Gonçalves Paulista, gerente-geral das lojas no Brasil.

Ele afirma que, para compensar a alta do dólar, todos os custos operacionais das lojas estão sendo revistos.

- Estamos nos esforçando para que as lojas Daiso sejam conhecidas nacionalmente. O público brasileiro gosta dos produtos Kawaii - diz Paulista, referindo-se à mercadoria, predominantemente produtos coloridos para casa ou com motivos divertidos.

proteção custa caro

A francesa Pylones, especializada em produtos de design para a casa, segue o mesmo caminho. Para o proprietário das unidades brasileiras, Fernando Saliba, a saída será fazer reajustes mais constantes.

- É muito caro fazer um contrato de proteção financeira ( Hedge ), então preferimos assumir o risco. Eu não quero aumentar mais os preços, mas temos um limite - explica ele, admitindo, porém, ser impossível repassar todo o aumento de custo, já que isso dificultaria as vendas em um momento de economia desaquecida.

Segundo Saliba, embora seja 100% dependente de importações, o custo de um contrato de Hedge em banco ou corretora é muito elevado e acaba não compensando o benefício de ter um valor predeterminado para a moeda americana. A solução é dar prioridade a produtos de maior saída e fazer reajustes a cada nova chegada de mercadorias no Brasil. Ele explica que, na compra, já é feito um adiantamento dos valores à sede na França. Na chegada dos produtos no Brasil, é preciso pagar os impostos. Leva-se em conta a cotação do dia da liberação da mercadoria na alfândega:

- O que no fim do ano passado era pessimismo, agora virou realidade. Vamos ter uma pequena crise no comércio, ainda mais para o nosso tipo de produto, que é supérfluo.

Já a Full Fit, importadora de produtos de decoração e utilidades domésticas, percebeu que os clientes (em geral, lojas de presentes ou redes de varejo) estão fazendo compras menores.

- Eles ficam com receio de comprar e ver os produtos encalharem, por conta das vendas mais fracas. Alguns esperam que o dólar possa cair nos próximos meses, então compram só para repor estoque - conta Toninho Mansilia, gerente de vendas da empresa.

Com estruturas enxutas, essas empresas de menor porte não conseguem recorrer a instrumentos de proteção financeira e acabam assumindo todo o risco da variação cambial - o que, para os consumidores, significa encarar preços muito mais elevados de uma hora para outra.

- O problema é que há um custo fixo, independente do tamanho da operação. É uma operação complicada e cara. Para as grandes empresas, que têm uma área financeira especializada, acaba compensando. Já o pequeno importador não tem como arcar com isso - explica Carlos Eduardo de Andrade, diretor de câmbio do Banco Rendimento.

risco de fechar as portas

No Centro do Rio, Denys Darzi, presidente do Polo Centro Rio e dono da loja de tecidos Parati Decorações, conta que muitos revendedores já estão repassando o aumento do dólar integral ou parcialmente:

- Eu só reajustei os preços do estoque novo, que ficou de 5% a 16% mais caro. E esse número pode ser ainda maior se o dólar continuar a subir.

Quem também vê impactos negativos nas vendas já fracas é Enio Bittencourt, presidente da Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega (Saara):

- O comerciante vai aguentar até onde puder. Quando não der mais, vai fechar as portas. Alguns já estão querendo vender as lojas. O empresário não aguenta mais esta situação, e o governo ainda quer aumentar os impostos.