Título: Humala toma posse de olho no Brasil
Autor: Martínez, Manuel
Fonte: Correio Braziliense, 28/07/2011, Mundo, p. 25

Novo presidente chega hoje ao poder com a missão de fortalecer a relação bilateral

Negócios de brasileiros com peruanos poderão ser afetados ¿ para bem ou para mal ¿ nos próximos anos. O esquerdista Ollanta Humala toma posse hoje como presidente do Peru. Sua principal missão será manter o desenvolvimento econômico num país que, na última década, registrou taxa média de crescimento de 6%. Também deverá provar ao Brasil que pretende fortalecer a relação. Foi isso que levou exportadores e empresas do Brasil a apostarem no Peru. A Petrobras há pouco tempo anunciou até 2015 aportes de cerca de US$ 225 bilhões. A construtora Odebrecht é uma das empreiteiras brasileiras que realizam projetos no país andino. Além disso, entre 2001 e 2010 as exportações do Brasil para o Peru passaram de US$ 287,8 milhões para US$ 2,02 bilhões.

No entanto, ainda pairam dúvidas sobre a conduta que o novo presidente adotará. Por um lado, ele deu sinais de que não seguirá um nacionalismo extremado, como ocorre na Bolívia, no Equador e na Venezuela. Por outro lado, direta ou indiretamente, esteve envolvido em suspeitas.

Uma notícia que provocou apreensão foi dada na semana passada. Humala anunciou que deseja rever os contratos de exploração de gás. Ele poderia, inclusive, forçar os concessionários a suspenderem suas exportações. As medidas lembram as intervenções na Venezuela e Bolívia. Neste último país, tropas até invadiram instalações da Petrobras.

O novo líder, porém, tem buscado demonstrar que respeitará o Brasil. Ele deu a garantia à presidente Dilma Rousseff, com quem se reuniu após sua vitória em junho ¿ aliás, o Brasil foi o primeiro que visitou como presidente eleito. Humala assegurou que não fará invasões à boliviana e tampouco expulsões como a que a Odebrecht enfrentou no Equador. Segundo fontes da diplomacia brasileira, Humala sabe das consequências negativas para bolivianos e equatorianos por suas decisões. De fato, ele procurou ser cuidadoso na campanha eleitoral e afastou-se da figura do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que contribuiu para sua derrota em 2006.

Passado Mesmo eleito com 51,4% dos votos, o apoio dos peruanos a Humana é considerado tênue. Recentemente, sua popularidade caiu de 70% para 41%. O motivo foram as reuniões de seu irmão Alexis com autoridades russas. Os peruanos não querem que se repita a corrupção resultante da intromissão de familiares de Alejandro Toledo em seu governo (2001-2006).

Pesa também contra o novo líder ter seguido o "etnocacerismo", uma doutrina política peruana que defende iniciativas nacionalistas. Humala enfrentou ainda um processo em que foi acusado de violar os direitos humanos quando era militar. Em resposta, assegurou que não comunga mais do conceito nacionalista e lembrou que foi absolvido. Outra tentativa de tranquilizar população e investidores se deu com seu ministério: escolheu figuras neoliberais, progressistas e moderadas.

"Humala enfrenta o que Lula teve pela frente logo que chegou à Presidência. Tomara que siga o modelo brasileiro, como garantiu", disse ao Correio uma fonte do governo peruano. Para ela, o presidente com nome indígena ¿ Ollanta, "guerreiro que vê tudo" ¿ tem que continuar os avanços sem fechar os olhos para o Brasil.