Os indicadores do comércio mostram que a situação do setor continua piorando e que o consumo poderá diminuir neste ano. Sem crédito o consumo não se sustenta - segundo a Fecomercio-SP, a proporção de endividados caiu 0,4 ponto porcentual entre janeiro e fevereiro e 12 pontos porcentuais entre fevereiro de 2014 e o mês passado, chegando a 38,9%.

O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), calculado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), cedeu 14,6% entre fevereiro de 2014 e fevereiro de 2015, atingindo 100,6 pontos, o patamar mais baixo desde o início da pesquisa, em 2011, e próximo do campo negativo, alcançado quando o indicador cai a menos de 100 pontos.

O conjunto de informações sobre a atividade econômica e o poder de compra do consumidor confirma os sinais de que o consumo poderá deixar de ser o elemento determinante do ritmo de negócios, como foi nos últimos anos.

Com a inflação projetada em 7,77% na pesquisa Focus de 6 de março e em até mais de 8% por alguns analistas, a renda real dos trabalhadores deverá cair neste ano. Para as classes de renda média e baixa, a queda do poder aquisitivo será ainda maior, por causa do impacto dos preços administrados e dos preços de alimentos, pois há limites para as famílias cortarem as despesas com esses itens.

Além da inflação, a maior ameaça ao consumo vem do mercado de trabalho. "O encaminhamento da política econômica é o fator de principal preocupação em relação ao mercado de trabalho", disse ao Estado o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloísio Campelo. Os serviços em geral e o comércio, em particular, seguraram os níveis de emprego nos últimos anos, mas a situação tende a mudar. É o que admitem, por exemplo, Fábio Bentes, da CNC, e representantes da área de turismo.

Marianne Hanson, da CNC, nota que os consumidores adotaram postura mais cautelosa, evitando dívidas e inadimplência. Nos cálculos da consultoria Tendências, a massa de rendimentos revelada pela Pesquisa Mensal de Emprego deverá cair 1,2% real, no ano, depois de ter subido 3,6%, em 2014.

Alta de juros e queda da confiança do consumidor são elementos determinantes da ameaça ao consumo, além de medidas pontuais, como o corte do programa Minha Casa Melhor, que facilita aos mutuários do programa de habitação a compra de bens para a casa.