A produção industrial de janeiro registrou alta de 2% em relação a dezembro passado, mas encolheu 5,2% na comparação com mesmo período de 2014, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem. Já no acumulado dos últimos 12 meses, houve recuo de 3,5%, mantendo a trajetória descendente iniciada em março de 2014 (2%). Trata-se do resultado negativo mais intenso desde janeiro de 2010, quando foi de -4,8%.

O gerente da Pesquisa Industrial Mensal — Produção Física do IBGE, André Macedo, considera a alta boa, mas não animadora. “É um aumento de ritmo, mas não altera em nada o panorama de menor intensidade que a produção industrial nos mostra”, afirmou. Para ele, o resultado acontece sobre uma base de comparação baixa e não sinaliza recuperação nos próximos meses.

O dado positivo do primeiro mês do ano também não animou os analistas que já previam o aumento depois de dois meses seguidos de retração. Em novembro, o indicador de atividade da indústria havia caído 1,1%, e, em dezembro, 3,2%. “Uma melhora era esperada em janeiro frente à queda de 3,2% no mês anterior. Mas a tendência é de que a produção industrial continue se contraindo em termos anuais”, afirmou o economista Edward Glossop, especialista em Mercados Emergentes da consultoria britânica Capital Economics.

Na avaliação dele, ainda não há sinais de recuperação. “O setor industrial ainda está lutando, mas a produção global vem se contraindo como tem feito desde o ano passado. E, com o governo apertando o cinto de forma acentuada, uma retomada em 2015 é altamente improvável”, disse.

A mesma opinião é compartilhada pelo economista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, que prevê retração de 2,5% na atividade industrial neste ano. “Os dados da indústria sugerem que o setor continua em uma tendência de queda”, afirmou o analista. Para ele, o forte aumento do custo de energia e o aperto fiscal programado pelo governo serão responsáveis pela contração de 2015.

De acordo com a pesquisa, a atividade da indústria de bens de capital, setor que é o termômetro da confiança do empresário — já que só amplia negócio quem acredita —, avançou 9,1% em janeiro na comparação com dezembro. Essa alta, no entanto, é justificada por uma atividade atípica na venda de caminhões e não foi suficiente para reverter a queda de 10,9% no acumulado de 12 meses.

O segmento de bens duráveis continua refletindo a desaceleração do consumo dos brasileiros. Essa categoria encolheu 1,4% em relação a dezembro e recuou 13,9% na comparação com janeiro de 2014. Influenciaram na alta da produção 13 dos 24 ramos pesquisados. O principal impacto positivo veio dos produtos alimentícios, que avançaram 3,9%, eliminando parte da perda de 4,5% acumulada nos meses de novembro e dezembro. Já o pior desempenho veio de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis (-5,8%).

Faturamento cai pelo 3º mês

O faturamento da indústria caiu em janeiro 2,6% em relação a dezembro. Essa é a terceira queda consecutiva dos ganhos, apesar de o número de horas trabalhadas — que indica o nível de atividade — ter aumentado 1,9%, o emprego ter se mantido estável e o uso da capacidade instalada ter crescido 0,4 ponto percentual na mesma comparação. Os dados foram divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na comparação anual, há queda nos principais indicadores: as horas trabalhadas recuaram 8%, as vagas caíram 3,5%, e o uso das fábricas ficou 0,3 ponto percentual abaixo dos 81,8% de janeiro de 2014.