Título: País importa álcool e gasolina
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Fonte: Correio Braziliense, 28/07/2011, Economia, p. 21

Com a demanda em alta e sem capacidade imediata para ampliar a produção, Brasil recorre ao exterior para evitar desabastecimento

A Petrobras pode voltar a importar gasolina para atender o mercado brasileiro. O presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, afirmou que, caso o governo decida reduzir a mistura de etanol no produto, de 25% para até 18% ¿ medida cogitada pelas autoridades para tentar combater a disparada de preços do álcool anidro, que tem pesado na inflação ¿, a procura pelo combustível aumentará e a importação será a única forma de atender a demanda dos brasileiros. "Se o consumo crescer, será preciso importar, porque não temos condições de aumentar a produção de gasolina no Brasil", afirmou.

Gabrielli lembrou que a Petrobras importou, em 2010, o equivalente a quatro dias de consumo doméstico de gasolina. Em 2011, foi comprado no exterior um volume equivalente a três dias de abastecimento. "A capacidade de crescer a produção de gasolina chegou ao limite", destacou. Apesar de ser autossuficiente em petróleo, o atual parque de refino brasileiro não está preparado para qualquer aumento na procura por gasolina. Além da possibilidade de importar o combustível, o Brasil deverá trazer de fora cerca de 650 milhões de litros de etanol. Até agora, o país já importou 400 milhões de litros de etanol anidro.

Para o diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, a discussão atual deveria ser sobre a expansão da produção interna, e não sobre importação de produtos derivados. "Precisamos aumentar as plantações de cana-de-açúcar. Temos, hoje, um deficit de 48 milhões de toneladas", disse. Há também, entre os empresários, o pleito para que o governo reduza os impostos sobre o setor, principalmente o PIS e a Cofins incidentes sobre equipamentos. O setor também pede mais crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ampliar os investimentos.

O Brasil enfrenta dificuldades para atender a demanda por álcool desde a safra passada, com uma produção muito aquém das expectativas. A capacidade de moagem de cana das usinas é de 750 milhões de toneladas, mas, nesta safra, serão processadas 590 milhões. Assim, com os estoques apertados, a saída será apelar para o mercado externo. Além dos Estados Unidos (maiores fornecedores), o Brasil também recorre aos mercados europeus.

Certo do aumento das plantações de cana, Rodrigues acredita que a chave para suprir a demanda nacional será priorizar a produção de álcool anidro, sem fazer alterações na composição da gasolina, de 25% para 18%, como quer o governo. "Com o aumento da fabricação de álcool, o mercado ficará ajustado. Não vejo razão para alteração na mistura", afirmou.

O governo alega, no entanto, que usineiros estão jogando contra e preferindo produzir açúcar refinado, que vêm registrando altas de preços no mercado internacional. "Só não faremos mais açúcar porque não tem cana disponível", disse Rodrigues. Dados da Unica apontam que a produção de açúcar do Centro-Sul do Brasil para 2011 foi reajustada para 32,3 milhões de toneladas. A estimativa do começo do ano era de 34,5 milhões.

Cade dá 60 dias à Cosan O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) negou o pedido para a revisão da fusão entre a Shell e a Cosan. As empresas terão 60 dias, contando a partir da próxima segunda-feira, para cumprir a decisão do órgão antitruste. O argumento das companhias para que o Cade reconsiderasse a sua decisão foi o de que, caso a união tivesse sido concretizada, elas não teriam conseguido atender a demanda por combustível de aviação. A fusão foi aprovada no começo de fevereiro, mas com restrições. O Cade determinou que todos os ativos físicos da empresa deveriam ser alienados. Além disso, o comprador dos bens deverá ter o direito de utilizar as áreas que pertenciam à Cosan nos aeroportos de Pampulha (MG), Brasília (DF), Campinas (SP) e Curitiba (PR). Caso o prazo de 60 dias seja desrespeitado, a empresa terá mais 30 dias para desfazer toda a negociação.