Apesar de terem, em média, mais anos de estudo que os homens, as mulheres continuam ganhando menos, embora sejam capazes de atrair maior riqueza para as empresas. Estudos internacionais apontam que as companhias com mulheres em cargos de liderança superaram mais rapidamente os efeitos da crise econômica global de 2008 nos Estados Unidos. Segundo as pesquisas, dirigentes do sexo feminino entregam lucros 47% maiores que os de organizações predominantemente masculinas.

“Mesmo assim, no Brasil não há sequer uma mulher como principal executiva (CEO, na sigla em inglês) entre as companhias abertas que compõem o mais importante índice de ações da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa). É preciso que esse potencial seja reconhecido”, afirma Silvia Fazio, presidente da Will Latin America, organização com foco no desenvolvimento da liderança feminina no país e na América Latina.

Mudar essa realidade é o desafio do seminário “Convidando homens para o debate: Liderança feminina gera lucro”, que ocorre amanhã em Brasília, sob coordenação da entidade. “O tema é forte. Mas não adianta só encontro entre mulheres. É fundamental que eles, em situação de liderança, participem. E, neste momento de tantos escândalos (de corrupção), é importante destacar as pesquisas que mostram que as mulheres são muito menos propensas a se envolverem em fraudes”, afirma Silvia. Ela ressalta que os dados científicos sobre o assunto ainda são poucos. “Em termos de números, apenas uma pesquisa da Università Commerciale Luigi Bocconi (Milão, Itália) comprovou que as mulheres entregam entre 12% a 18% de lucratividade a mais”, explica.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que mulheres são a maioria da população (51,4%) e as mais escolarizadas, representando 57,1% dos universitários de 18 a 24 anos. Embora tenham conquistado aumento real do rendimento médio entre 2010 e 2000 de 12%, as disparidades permanecem: elas ainda ocupam poucos cargos de liderança e ganham, em média, 68% do salário dos homens.

Barreiras
Na maioria das vezes, o preconceito é disfarçado com justificativas, na surdina, de que as mulheres faltam mais ao trabalho por conta de tensão pré-menstrual (TPM) e de compromissos familiares. Isso é percebido claramente por elas: 50% das executivas ouvidas nas pesquisas apontaram a dupla jornada e 46% delas indicaram a necessidade de estarem disponível todo o tempo como as maiores dificuldades de ascensão. “É importante encontrar formas de isolar quem tem essa visão. Mas temos também que combater as barreiras que estão dentro da gente”, destaca Silvia Fazio.

Leila Melo, diretora executiva do Itaú-Unibanco, acredita que a presença das mulheres nas empresas não deve ser medida apenas pelos cifrões, mas com base na meritocracia. “Como as empresas não enxergam esses detalhes, acabam registrando fuga de talentos e, consequentemente, de receitas e resultados. Hoje, mulheres e homens são igualmente ambiciosos. É importante que isso seja percebido”, afirma. A escassez de políticas específicas para as trabalhadoras é uma das queixas de Leila. Levantamento do International Business Report (IBR), da consultoria Grant Thornton, indica que, no Brasil, durante a licença-maternidade, somente 9% das empresas pagam salários por um período maior do que a lei recomenda, e apenas 19% garantem acesso aos programas de educação continuada e desenvolvimento profissional. “A gente tem que estimular mudanças”, pontua.

No início da carreira no setor financeiro, Luciana Ribeiro, diretora do Santander Asset Management no Brasil, teve dificuldades. “Nas reuniões, eu precisava falar mais alto. Um dia, descobriram que a louca tinha alguma coisa interessante. Então, as lideranças começaram a me perceber”, conta.

A diretora executiva do Instituto Fecomércio, Elizabeth Campos, acompanha há anos a evolução do papel feminino nas empresas e avalia que, quando os resultados das mulheres no trabalho aparecem, os argumentos contrários caem por terra. “Preconceito, sem dúvida, existe. O importante é não ter medo e acreditar no que se faz. Acho que por isso nunca fui discriminada”, diz.

Para Andrea Antinoro, diretora executiva da Selos Consultoria Empresarial, as dificuldades, às vezes, são estrategicamente criadas. “A mulher não joga futebol nem sempre pode ir aos encontros pós-expediente. São nesses locais que o primeiro escalão decide muita coisa, compartilha informações, principalmente sobre indicações”, analisa. “A melhor saída é enxergar o homem como aliado e não como concorrente, e provar que o melhor não é ser objeto, é mostrar conteúdo”, emenda.
“Neste momento de tantos escândalos (de corrupção), é importante destacar as pesquisas que mostram que as mulheres são muito menos propensas a se envolver em fraudes”
Silvia Fazio, presidente da Will Latin America