Atensão na capital da República atingiu níveis altíssimos com a expectativa quanto aos nomes, ou à confirmação dos já citados, que constam na lista da Operação Lava-Jato (veja quadro ao lado) entregue pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. Além das autoridades da Esplanada, fontes ligadas à Operação Lava-Jato indicaram ao Correio ontem que os governadores do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e do Acre, Tião Viana (PT), integrarão a lista de pedidos de inquérito que o Ministério Público apresentará ao STJ. Os procedimentos serão analisados pelo ministro-relator do caso, Luiz Felipe Salomão.

A tendência é que o ministro Teori Zavascki conclua a análise dos material do Ministério Público hoje e, assim, divulgue todos os políticos implicados, o que aliviará a tensão de uns e consternará outros tantos. São 54 investigados e ainda há o caso de governadores a ser enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Entre os listados, estão oito senadores, ou 10% da Casa, como Gleisi Hoffman (PT-PR) e Fernando Collor (PTB-AL).

Os sinais de elevação da pressão política estão por todos os lados. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decide atacar o procurador-geral da República (leia abaixo), integrantes da CPI da Petrobras batem boca na primeira sessão, deputados despistam ao serem indagados sobre a lista, senadores emitem notas, desligam celulares e desaparecem do plenário. As incertezas sobre quem será investigado pelo STF tiram o sono e o apetite dos eleitos para o mandato parlamentar.

No Planalto, o medo de que a economia fique ainda mais paralisada com as investigações sobre as empreiteiras não esconde uma sensação de alívio ao ver que o Congresso terá agora o ônus da Lava-Jato sobre si. “Sofremos um ano com essa história; deixa eles penarem também”, disse um vingativo ministro palaciano.

Melhor não pensar assim, como disse o ex-senador José Sarney durante uma reunião do PMDB há duas semanas. “Quem não sente a presença de uma crise institucional chegando rapidamente pode estar certo que está olhando para o lado errado”, segundo relato de um correligionário.

Ontem, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, autorizou depoimentos de políticos como testemunhas de defesa do presidente da UTC, Ricardo Pessoa. Serão ouvidos a partir de abril: o ministro da Defesa, Jacques Wagner, e os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP), Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP), Paulinho da Força (SD-SP) e Jutahy Magalhães (PSDB-BA). O juiz disse que incluirá o ex-ministro Paulo Bernardo entre os depoentes só depois de definidas datas com exatidão.

Sem citar nomes, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, chamou de “inaceitável” ontem a declaração do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que dissera que o governo tentou colocar pessoas da oposição da lista de Janot. Ele afirmou que jamais influenciaria no trabalho do Ministério Público e afirmou que nunca sequer foi procurado para interferir na investigação. “O governo conhece muito claramente o campo das suas atuações. E é por isso que posso afirmar que, se no passado, governos agiam dessa maneira, não nos meçam por regras antigas, pelo que já foi.”

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Janot, o novo alvo de Renan

Mantendo a escalada ascendente de críticas e ataques proferidos há duas semanas,o presidente do Senado,Renan Calheiros (PMDB-AL),reclamou do fato de não ter sido ouvido antes pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável pela lista de investigados na Operação Lava-Jato entregue ao Supremo Tribunal Federal.

E ameaçou atrapalhar o processo de recondução de Janot ao cargo.―Nós estamos com o procurador-geral da República em processo de reeleição.Quem sabe se nós, mais adiante,não vamos ter também, a exemplo do que estamos fazendo com as reeleições do Executivo, que regrar esse sistema que o Ministério Público tornou eletivo‖ ,insinuou. As ameaças,nada veladas,ao procurador Rodrigo Janot, já haviam sido comunicadas por Renan a pessoas próximas ao longo da quarta-feira.

Depois de negar que tenha sido avisado com antecedência sobre a inclusão de seu nome na lista entregue ao Supremo,o presidente do Senado mudou a postura de atuação nos bastidores e decidiu partir para o confronto aberto .― A política é muito criativa. Mas não vejo no horizonte possibilidades de recuo de Renan ‖, disse um interlocutor do presidente do Senado. A nova rodada de ataques de Renan foi feita em um momento em que os senado resdiscutiam uma proposta incluída na reforma política, que prevê a desincompatibilização do cargo para os mandatários que disputam a reeleição. ―Essa é uma prática, senador Reguffe (PSB-DF), que devia valer para todas as eleições do Executivo e até mesmo do Ministério Público ‖, provocou.

Ao deixar o plenário, o peemedebista fez as críticas diretas ao procurador-geral. ―Sólamento que o MP não tenha ouvido as pessoas, como é praxe, para que as pessoas questionadas possam se defender,apresentar as suas razões.Mas isso tudo é da democracia. Quando há excesso,quando há pessoas citadas injustamente ,a democracia depois corrige tudo isso ‖, afirmou.

O episódio de ontem foi o capítulo mais recente do surgimento de um novo Renan. ―Ele cansou de falar ,avisar e não ser ouvido. Na reunião de líderes,lembrou que já tinha sido líder de um governo em recessão e não queria passar por isso de novo ‖, afirmou um aliado presente ao encontro, realizado na última terça-feira, no Senado. Alguns correligionários do presidente do Senado,contudo ,lembram que a impaciência do peemedebista está mais ligada à Operação Lava-Jato e à substituição de Sérgio Machado no comando da Transpetro do que aos problemas da economia. ―Cada vez mais me convenço que Renan soube que seria citado no início da semana passada,antes do jantar com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy . A inflexão no comportamento começou ali‖ ,declarou um senador da base de apoio ao governo.

“Coalizão capenga”

 Os primeiros recados foram dados ao chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, eterno desafeto,nos dias subsequentes. Renan disse que a― coalizão era capenga‖ e que o ajuste fiscal era pífio ‖. Na quinta-feira, Renan abriu as portas da residência oficial para o ex-presidente Lula. ―Claro que ele não falou nada para Lula sobre a mudança de postura. Não dá para adiantar estratégias em um encontro com 10 pessoas‖, disse um aliado direto de Renan.

A semana mal começou e Renan recusou-se a jantar com a presidente Dilma Rousseff na segunda, devolveu uma medida provisória de ajuste fiscal na terça e atacou Janot ontem. ―Renan abandonou o morde e assopra tradicional da política e está mordendo cada vez mais forte.

E em alvos diferentes. É uma tática arriscada‖ , disse um correligionário que não apoia o comportamento do presidente do Senado. Esse interlocutor lembra que, em outros momentos, quando se sentiu acuado , Renan já ensaiara uma tática agressiva semelhante. Isso aconteceu, por exemplo, em 2007, quando teve que se defender das acusações de ter as contas pessoais pagas por uma empreiteira. ―Ele esticou acorda ao máximo para se defender .Mas teve que recuar. Preservou o mandato, é verdade, mas foi obrigado a renunciar à Presidência do Senado ‖, recordou o peemedebista. Se Renan está pressionado,a situação de Janot mostra-se longe de ser confortável. Antes mesmo das declarações contra Janot desferidas pelo presidente do Senado,procuradores do Ministério Público temiam areação de um enfrentamento com o Congresso .

Para eles, havia o perigo de os projetos de interesse da instituição ficarem sob risco de retaliação por causa dos desdobramentos da Lava-Jato a começar dos presidentes das duas Casas. O Correio apurou que uma das principais bandeiras hoje é o aumento salarial para os servidores, parte deles em greve. Outros projetos importantes são quatro propostas que autorizam, explicitamente, as investigações criminais no Ministério Público. As medidas sepultariam de vez ―futuros filhotes‖da PEC 37 e sofrem oposição da Polícia Federal, que luta para derrubá-las. A carta de Rodrigo Janot aos colegas anteontem foi uma maneira de pedir apoio. Alguns colegas não gostaram da aparição do procurador-geral na frente da PGR na segunda-feira à noite, segurando um cartaz que o elogiava. ―Janot, você é a esperança do Brasil‖, dizia o texto. Porém, alguns viram na atitude de Janot uma forma de ganhar apoio popular, como fez o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, relator do mensalão.