Quadrilha na petrobras

BRASÍLIA

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki enviou à Justiça Federal do Paraná o pedido para que seja investigada a doação de campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010, que supostamente teria sido negociada pelo ex-ministro Antonio Palocci, que apareceu ontem na lista dos que serão investigados pelo esquema de corrupção descoberto pela Lava-Jato. O caso será examinado pelo juiz Sérgio Moro.

Dilma pessoalmente não será alvo de qualquer tipo de investigação. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, alegou "vedação constitucional" para analisar o caso por ele ser anterior à sua gestão como presidente.

Citação feita por Costa

A presidente foi citada no depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, numa menção ao dinheiro usado para o financiamento da campanha presidencial de 2010. Costa declarou que recebeu um pedido de Youssef e que autorizou o uso de R$ 2 milhões destinados ao PP, desviados de contratos da estatal, na campanha de Dilma. O pedido teria partido do ex-ministro Antonio Palocci, conforme a delação de Costa. Youssef desmentiu o depoimento do ex-diretor. Mesmo assim, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, entendeu que "a suposta solicitação da vantagem deve ser apurada em relação a quem a teria feito".

Janot pediu a remessa dos autos - exclusivamente sobre o ex-ministro - para a Justiça Federal no Paraná, em razão de o político não ter mais foro privilegiado e de as citações não terem conexão com outros investigados no âmbito do STF. O procurador-geral descartou investigar Dilma com base no artigo 86 da Constituição Federal: "O presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções."

Youssef afirmou "categoricamente" que a declaração de Costa não é verdadeira. "Quanto à afirmação de Paulo Roberto Costa, no sentido de que teria sido o depoente procurado para atender demanda de Antonio Palocci, de forma que fossem liberados R$ 2 milhões do PP para a campanha presidencial de Dilma Roussef, declara, categoricamente, que esta afirmação não é verdadeira", cita a petição do procurador-geral, no trecho relacionado ao depoimento de Youssef.

Costa disse que Youssef não esclareceu a ele se o pedido deste montante foi feito pessoalmente por Palocci ou se por meio de algum assessor. "Apenas mencionou que era um pedido vindo de Antonio Palocci." O ex-diretor afirmou ter conhecido Palocci em 2004, quando o ex-ministro integrava o Conselho de Administração da Petrobras e Dilma, então ministra de Minas e Energia, presidia o colegiado. Costa esteve em "várias reuniões com Antonio Palocci, pois este era membro do conselho e também ministro da Fazenda", cita a delação do ex-diretor.

Ainda conforme o depoimento, a solicitação foi recebida por meio de Youssef, "quando Antonio Palocci já não ocupava nenhum cargo no governo federal". O doleiro teria dito ao ex-diretor que o pedido era de Palocci e que "este valor sairia da cota de um por cento do PP", conforme a delação de Costa.

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YOUSSEF: PRESIDENTE SABIA DE COMISSÃO NA ESTATAL

BRASÍLIA

Em um dos depoimentos da delação premiada, o doleiro Alberto Youssef declarou que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "tinham conhecimento da estrutura que envolvia a distribuição e repasse de comissões no âmbito da estatal (Petrobras)". O trecho está citado na petição da Procuradoria Geral da República (PGR) que pede abertura de inquérito contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). O depoimento traz ainda os nomes de ministros dos governos de Dilma e Lula como conhecedores do esquema.

Ainda conforme a petição da PGR, a declaração foi feita em complementação a um depoimento do dia anterior, em que o doleiro detalhou as circunstâncias em que supostamente entregou R$ 1 milhão à campanha de Gleisi ao Senado, em 2010. No trecho, Youssef diz que "gostaria de ressaltar que tanto a presidência da Petrobras quanto o Palácio do Planalto tinham conhecimento" da distribuição de comissões.

Indagado sobre a quem se referia com o termo "Palácio do Planalto", o doleiro listou nomes. "Esclarece que (se referia) tanto a Presidência da República, Casa Civil, ministro de Minas e Energia, tais como Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, Ideli Salvatti, Gleisi Hoffmann, Dilma Rousseff, Antônio Palocci, José Dirceu e Edison Lobão, entre outros relacionados", diz o trecho do termo de colaboração de Yousseff. Dirceu foi ministro de Lula. Lobão, Palocci e Carvalho, de Lula e Dilma. E Ideli e Gleisi foram ministras da presidente. O final do trecho do depoimento reproduzido na petição traz uma ratificação, por parte de Yousseff, do que havia dito anteriormente: "Que reafirma que o alto escalão do governo tinha conhecimento". Parte desse depoimento foi divulgado pela revista "Veja" na véspera da eleição de 2014.

No caso da senadora Gleisi Hoffman, ela será investigada por crime de corrupção passiva por ter supostamente recebido R$ 1 milhão do esquema de corrupção da Petrobras, em agosto de 2010, para bancar a campanha ao Senado. Alberto Yousseff, em depoimento, afirmou ter entregado, pessoalmente, a quantia a um emissário de Gleisi em um shopping de Curitiba.

O ex-diretor da Petrobras afirmou que os valores desviados em favor de Gleisi estão anotados com as letras "PB" - iniciais de Paulo Bernardo, que é marido da senadora - e "1,0".

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que recebeu a inclusão do seu nome na lista "com tristeza e ao mesmo tempo com tranquilidade". Na nota, a senadora diz que "não conhece e jamais manteve contato com Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef".