ACUSADO POR EX-POLICIAL, ANASTASIA ENTRA NA LISTA

BRASÍLIA

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, considerou válido o depoimento do ex-policial Jayme Alves, o Careca, e enxergou indícios suficientes para dar continuidade às investigações sobre um suposto recebimento de propina pelo senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que foi governador de Minas Gerais e coordenador do programa de governo da candidatura do tucano Aécio Neves à Presidência. Agora, o senador que já era alvo de um inquérito, será investigado no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF).

Além da manutenção do inquérito no Supremo, Janot pediu o reconhecimento da validade dos procedimentos adotados para tomar o depoimento de Careca, e a divisão das investigações. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o ex-deputado Luiz Argôlo (SDD-BA) também são apontados como beneficiários de propina a partir de uma entrega feita pelo ex-policial. Janot ainda pediu, no procedimento referente a esse episódio, a instauração de um "procedimento autônomo" para apurar a conduta de Anastasia. O objetivo é que exista uma "posterior análise individualizada das providências a serem tomadas".

Em depoimento, o ex-policial afirmou que, em 2010, viajou a Belo Horizonte para entregar uma quantia em dinheiro a Anastasia. Careca disse que entregou o dinheiro - R$ 1 milhão - para uma pessoa que não reconheceu no momento. Depois, "vendo os resultados eleitorais", ele diz que se trataria de Anastasia.

"riqueza de detalhes"

O depoimento veio a público pouco depois, e o doleiro Alberto Youssef negou ter determinado a entrega de qualquer quantia ao senador. O procurador-geral ressalta, no entanto, que o doleiro confirmou que "diversas empresas pediram a entrega de valores em Minas Gerais, decorrentes de caixa dois", inclusive com a indicação de endereço e valor. Careca fez entregas a pessoas em Minas, como confirmou o doleiro.

"A riqueza de detalhes apresentada por Jayme, somado ao reconhecimento pessoal do senador, apontam para a necessidade de aprofundamento das investigações", argumentou o procurador-geral para pedir a continuidade das investigações. Além disso, Janot cita um documento intitulado "Transcareca", referente a uma contabilidade do dinheiro entregue pelo ex-policial entre 2011 e 2013, a pedido de Youssef.

Antonio Anastasia, tido como braço-direito é o único tucano citado na lista divulgada ontem.

PRESIDENTES DE CÂMARA E SENADO SÃO ACUSADOS DE RECEBER PROPINA

 

 

BRASÍLIA

O Supremo Tribunal Federal autorizou abertura de inquéritos para apurar o envolvimento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) em suspeitas de crime de corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O ministro Teori Zavascki, do STF, também determinou abertura de inquérito contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Cunha é acusado de receber propina da Samsung, empresa de afretamento de navios, e de empreiteiras com contratos com a Petrobras. O deputado também é associado ao pagamento de mais de R$ 25 milhões no Brasil e no exterior.

renan fez reuniões em casa

No caso de Renan, o procurador-geral, Rodrigo Janot, cita depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Em delação premiada, Costa afirmou que manteve diversas reuniões com Renan, e que o deputado federal Aníbal Gomes era uma "espécie de interlocutor de Renan".

De acordo com o depoimento de Costa, um percentual dos valores envolvidos nos contratos da Transpetro eram canalizados para Renan, com quem Sérgio Machado (ex-presidente da Transpetro) se reunia periodicamente em Brasília.

Costa afirmou que não sabia o percentual de propina que seria pago a Renan, mas recordou-se que somente na contratação de navios ele recebeu diretamente R$ 500 mil em espécie, junto com Sérgio Machado, no apartamento deste, em São Conrado. O pagamento teria ocorrido entre 2007 e 2008.

Ao falar das propinas recebidas por Renan das empreiteiras contratadas pela Petrobras, o delator afirmou que algumas reuniões para tratar deste assunto foram feitas na casa do próprio presidente do Senado. Costa também afirmou que foi procurado por senadores do PMDB e que se encontrou nas casas de Renan e de Romero Jucá para tratar do apoio do partido para mantê-lo no cargo. Depois de acertada a permanência de Costa, os acertos para o pagamento das propinas passaram a ser feitos por Aníbal Gomes.

Já as acusações contra Eduardo Cunha estão baseadas em depoimentos da delação premiada do doleiro Alberto Youssef e do policial federal Jaime Alves. Segundo petição do procurador Janot, parte do dinheiro destinado a Cunha era repassada pelo lobista Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de propina. Outra parte dos recursos teria sido levada ao deputado por Jaime Alves.

Num dos casos da propina, Cunha é acusado de pressionar a Samsung e outras duas empresas, Mitsue e Toyo, para forçar a liberação de parte do pagamento do suborno recebido por Fernando Baiano. Julio Camargo, executivo da Mitsue, fazia parte dos negócios da Samsung com a Petrobras.

O relato sobre a suposta extorsão consta de um dos depoimentos de Alberto Youssef. Segundo ele, Cunha apresentou requerimento de informação em uma das comissões da Câmara para, a partir daí, obrigar as empresas a voltar a pagar propina a Fernando Baiano.

Depois da pressão, Camargo liberou R$ 6 milhões para Fernando Baiano. Cerca de 70% do dinheiro foram pagos no exterior, a partir de contas do empresário Leonardo Meirelles. O restante foi entregue no escritório de Youssef pelo próprio doleiro.

Renan disse que dará todas as explicações "à luz do dia" e ressaltou que nunca autorizou "o deputado Aníbal Gomes ou qualquer outro" a falar em seu nome. Mais cedo, ele acusou Janot de atropelar a legislação ao não lhe dar o direito de se defender antecipadamente.

Cunha disse que quer conhecer o conteúdo das acusações antes de se manifestar. "Se for o assunto que já é de conhecimento público, do depoimento daquele policial, direi qual tipo de detalhe está faltando e explicarei com o maior prazer. Se for outro, também saberei explicar e rebater com a maior tranquilidade". Cunha disse ainda ter "total tranquilidade" para permanecer no cargo, mesmo com a abertura de inquérito.