O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro mostra uma inflação muito influenciada pelo ajuste fiscal do governo. Um quarto (25,41%) da alta do mês veio da gasolina, que subiu 8,42% e foi responsável por 0,31 ponto percentual da variação de 1,22% do IPCA. O aumento da gasolina é reflexo da volta da cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre combustíveis, que estava zerada desde 2012, e da alta da alíquota do PIS/Cofins. Este mesmo imposto também pressionou outros combustíveis, como o diesel (alta de 5,32%) e o etanol (7,19%), e levou junto os preços de transportes coletivos.

Já a recomposição das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) teve efeito no preço de automóveis novos, alta 2,88%, e eletrodomésticos, que ficaram 2,15% mais caros. Os cosméticos também tiveram os preços pressionados pela alta do IPI. Segundo a responsável pelos índices de preços do IBGE, Eulina Nunes, a elevação dos impostos teve "influência significativa" na inflação de fevereiro.

- Com o aumento de impostos, alguns preços ficam mais altos para o consumidor. Esse é um resultado já esperado do ajuste fiscal. Por outro lado, o ajuste vai atuar também para reduzir a alta de outros preços, mas isso ainda não ocorreu. E seu efeito será aliado à alta das taxas de juros - avalia o professor de Economia da FEA/USP e economista-chefe da Fator Corretora José Francisco de Lima Gonçalves.

Outro preço controlado pelo governo que está impactando a inflação é o da energia elétrica. Em fevereiro, a alta foi de 3,14%, e, nos últimos 12 meses, o choque nos preços chegou a 30,27%. E novos aumentos já estão contratados para março, por causa da elevação de 83% no valor da bandeira tarifária (cobrança extra por causa do uso de termoelétricas), além de reajustes de tarifas de várias concessionárias.

- Em março, teremos aumentos importantes, com peso significativo no orçamento, como energia elétrica. Será um mês em que haverá pressão dos preços monitorados sobre a inflação - afirmou Eulina.

Imune aos juros

O que se vê na inflação deste início de 2015, segundo Eulina, é uma mudança em seu perfil. Os preços administrados estão avançando em ritmo superior ao da média da inflação. Até algum tempo atrás, eles foram fundamentais para puxar o IPCA para baixo. Em 2013, a inflação de preços administrados ficou em 1,5%. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, a alta foi de 9,66%, bem acima dos 7,7% do IPCA geral.

É por causa desse novo perfil da inflação que, a despeito do ciclo de aumento da taxa básica de juros da economia, que visa a derrubar os preços por meio da queda de consumo, já se estima uma inflação beirando os 8% em 2015. A alta da Selic - que na quarta-feira subiu 0,5 ponto percentual, a 12,75% ao ano - não tem efeito sobre os preços administrados.

- Os juros levam de seis a nove meses para fazer efeito sobre a atividade econômica e mitigar alguns reajustes de preços. Só que tem um pedaço da inflação que não vai reagir à alta da Selic. Independentemente da Selic, vai haver reajuste de preços administrados - diz o economista da LCA Consultores Fabio Romão.