Preços em disparada

Apesar da queda no preço do petróleo no mercado internacional, a gasolina foi a grande vilã da inflação brasileira no mês passado. De acordo com o IBGE, o preço do combustível subiu 8,42% em fevereiro e foi o item com maior influência na alta de 1,22% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país. A taxa foi a mais alta para um mês de fevereiro nos últimos 12 anos e ficou acima das expectativas do mercado, que projetava inflação de 1,08%.

O resultado também foi quase o dobro do registrado em fevereiro do ano passado, quando ficou em 0,69%, e ainda permaneceu no mesmo ritmo da alta registrada em janeiro deste ano, 1,24%. Assim, no acumulado em doze meses, o aumento nos preços chegou a 7,70%, o maior em quase dez anos e acima do teto da meta do governo, que é 6,5%.

Em fevereiro, o litro da gasolina ficou acima de R$ 3 em todas as 13 regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. Segundo especialistas e representantes dos postos de gasolina, o aumento do combustível é explicado pela elevação do PIS/Cofins, como parte do pacote de aumento de tributos do governo para elevar a arrecadação, pela volta da cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), pela recomposição de margem de lucro das empresas revendedoras e pela greve dos caminhoneiros, que prejudicou o abastecimento em diversas regiões do país, reduzindo os estoques.

- Os preços do litro de gasolina eram inferiores a R$ 3 em janeiro. O que vimos em fevereiro é que nenhuma região tem preço médio do litro menor que R$ 3,10. Vai de R$ 3,10 em São Paulo a R$ 3,53 em Salvador. Em janeiro, o preço em São Paulo era de R$ 2,89 e em Salvador, de R$ 3,10 - explicou Eulina Nunes, coordenadora de índice de preços do IBGE.

No Rio, destacou o IBGE, o preço médio do litro era de R$ 3,21 em janeiro e passou a R$ 3,38 em fevereiro - alta de 5,29%.

diesel e etanol sobem

Além da gasolina, o preço do diesel (que também sofreu com o aumento das alíquotas do PIS/Cofins) subiu 5,32% em fevereiro. O etanol (álcool) seguiu o movimento e ficou 7,19% mais caro. Com a disparada dos preços dos combustíveis, o consumidor também sentiu no bolso o custo maior do transporte - o grupo teve alta de 2,2% e impacto de 0,41 ponto percentual no IPCA.

Maria Aparecida Schneider, presidente do Sindicomb Rio, que reúne os postos, lembra ainda que o ICMS incide sobre o preço cheio do combustível, que ficou mais caro por conta da alta nos tributos.

- Assim, o ICMS acabou tendo peso ainda maior nos preços. E hoje o Rio conta com a maior alíquota no país, de 31% sobre cada litro vendido, acima da média de 25% nos outros estados do país - explicou Maria Aparecida.

Já, de acordo com levantamento feito pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) em mais de oito mil postos, o preço da gasolina subiu 8,19% no Estado do Rio entre janeiro e março, para R$ 3,448. No Brasil, o avanço foi de 9,45%, para R$ 3,325, no mesmo período de comparação. Foi um percentual maior que os 7% esperados pelo próprio governo:

- O governo esqueceu de considerar, na conta dos 7%, o aumento do ICMS sobre a gasolina. A alíquota se manteve a mesma, mas, como a base de impostos aumentou, a arrecadação teve incremento. Um aumento puxou o outro - aponta Leonardo França Costa, economista da consultoria Rosenberg Associados.

O especialista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), destacou ainda a busca por margens maiores das empresas revendedoras.

- Houve avanço no custo da energia elétrica e das despesas em geral no país. É natural que os preços aumentem em velocidade maior para que o empresário recupere sua margem. O diesel, principal combustível da matriz rodoviária, também teve forte aumento em seu preço, mas não pesa tanto na composição do IPCA.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, destaca o aumento generalizado de custos para o setor:

- Em parte tem o efeito da greve dos caminhoneiros, mas também há o efeito de uma aceleração inflacionária mais grave, como insumo, câmbio e salário. Assim como a indústria, os serviços perderam muita margem nos últimos anos.

Especialistas, no entanto, apostam que a gasolina pode ter mais reajustes, já que a cotação do dólar atingiu ontem a maior cotação em oito anos, a R$ 3,05.

- Em janeiro, a Petrobras comprava os combustíveis mais baratos no exterior, por conta da queda no preço do petróleo, e vendia aqui no Brasil 68% mais caros. Agora, com o dólar alto, não há mais essa diferença, e a Petrobras terá de rever seus preços - disse Pires.

Alimentos também em alta

Diante da alta de preços maior que a esperada em fevereiro, bancos e consultorias revisaram para cima as projeções do IPCA em 2015. Na LCA Consultores, a estimativa passou de 7,80% para 8%. Na Fator Corretora, subiu de 7,56% para 8%.

- O patamar da inflação mudou e em grande parte de 2015 vai ficar acima dos 8% em doze meses - aponta Fábio Romão, economista da LCA Consultores.

Além dos combustíveis, o IBGE destacou que os preços dos alimentos se mantêm elevados, apesar da desaceleração registrada no mês passado - o grupo alimentos e bebidas passou de aumento de 1,48% em janeiro para 0,81% em fevereiro.

- No Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em Goiânia, a alta no preço dos alimentos já ultrapassa a casa dos dois dígitos. Está bem mais caro fazer as refeições - afirmou Eulina, do IBGE.

Ela destacou que os preços dos alimentos no país subiram 8,99% nos doze meses encerrados em fevereiro. No Rio, a alta foi de 11,25%. Goiânia teve a maior alta no preço de alimentos no resultado acumulado em doze meses, de 13,12%. Já em Porto Alegre, 10,12%.

Segundo especialistas, os preços de alimentos vêm sendo afetados pela seca, que atinge muitas regiões do país e prejudica alimentos mais sensíveis, como hortaliças. A carne também é uma pressão, já que a Rússia ampliou as compras de carne brasileira diante das restrições comerciais impostas por EUA e Europa. Em fevereiro, os preços de alimentos tiveram um impacto adicional: a valorização do dólar.