As aulas na rede pública de ensino do DF começaram há nove dias, mas parte dos 470 mil alunos matriculados não teve matérias essenciais, como português e matemática. Faltam ainda profissionais de sociologia, inglês, espanhol, física e artes. O déficit, de acordo com a Secretaria de Educação, é de 3,5 mil docentes. Depois de o ano letivo começar atrasado e uma greve adiar ainda mais o início, os estudantes sofrem com a escassez de profissionais. O problema se soma a cadeiras quebradas, falta de livros, merenda precária e infraestrutura deficiente. Há, ainda, 106 ônibus parados na garagem da TCB. Os veículos deveriam atender os alunos de escolas especiais e integrais, mas falta concluir o processo de contratação dos motoristas.

Impedido de contratar até maio por estar no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal, o Governo do Distrito Federal conseguiu autorização do Tribunal de Contas do DF, na última quinta-feira, para chamar os temporários a fim de suprir as carências diárias geradas por licenças e atestados. A cada hora, três professores da rede pública de ensino protocolam um atestado médico na Secretaria de Educação. Entre os 6,5 mil da lista de temporários, pouco mais de 2,5 mil foram convocados, mas o processo é moroso. ” Durante todo o ano, há uma rotina de substituição devido aos pedidos de licença. Mas, em um primeiro momento, a situação se agravou porque os professores deveriam ter começado a ser chamados no ano passado, o que não aconteceu”, explicou o secretário de Educação, Júlio Gregório.

Revoltados com a situação, cerca de 300 alunos secundaristas do Centro de Ensino Médio Asa Norte (Cean); do Setor Leste, na Asa Sul; e do Centro Educacional 5, de Taguatinga, mobilizaram-se na manhã de ontem. Eles saíram do Cean e caminharam até a Secretaria de Educação, no Setor Bancário Norte. Quatro representantes de cada instituição de ensino participaram de uma negociação com o chefe da pasta. O problema da falta de docentes para essas instituições foi parcialmente resolvido. No Setor Leste, por exemplo, a carência de seis professores caiu para três.

Ontem, chegaram os docentes de sociologia, história e biologia. “Ainda faltam os professores de português e dois das salas de recursos. Em 2014, ficamos o ano todo sem um professor generalista, que atende os alunos com complicações cognitivas. Esse atendimento é muito importante, não podemos ficar sem ele”, afirmou a diretora do Setor Leste, Ana Lúcia Marques.

As alunas da instituição Daphne Almeida de Sousa, 15 anos, e Júlia Evelyn Santos, 16, do 2º ano do ensino médio, relatam outros problemas. “Não temos livros e só é servido biscoito com leite no lanche”, afirmou Daphne. Júlia lamentou a falta de conteúdo. “Depois da greve, os professores estão acelerando muito as matérias. No ano passado, não tivemos professor de sociologia. Não queremos que este ano aconteça a mesma coisa. Ficamos prejudicados no PAS, por exemplo”, concluiu.

Infraestrutura

Em toda a rede, faltam 70 mil cadeiras. Situação que reflete diretamente na vida dos estudantes do 2º ano Arthur Oliveira, 16; João Pedro Bichara, 17; Beatriz Campelo, 16; e Ana Paula Almeida, 17. “Já assisti a aula sentado no chão. Este ano, não temos nem livros. Fico preocupado com o vestibular”, lamentou João Pedro. A Secretaria de Educação do DF informou que o lanche não foi servido normalmente nos últimos dias devido à greve das merendeiras, parcialmente encerrada na última segunda-feira. Os livros são fornecidos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento à Educação (FNDE). A reportagem entrou em contato com a assessoria do FNDE, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

O diretor do Sindicato dos professores, Washington Dourado, considera a situação da educação do DF crítica. “Ao nosso ver, o déficit de professores é de 5 mil. O governo não está tomando as medidas que um momento de exceção exige. Vemos justificativas e não uma solução”, afirmou o diretor.