Caetano Oliveira reclama que o preço de praticamente tudo subiu (Fotos: Andre Violatti/Esp.CB/D.A Press)

Caetano Oliveira reclama que o preço de praticamente tudo subiu

 

Arnaldo dos Santos: faltou humildade à presidente para assumir os erros

Arnaldo dos Santos: faltou humildade à presidente para assumir os erros

Panelaço nas ruas, vaias nas janelas de prédios e xingamentos pela internet. Os protestos que tomaram conta do país na noite de domingo, durante pronunciamento da presidente Dilma Rousseff em cadeia de rádio e televisão, sinalizam o total descontentamento de parcela crescente da população com a situação caótica do país. Se, em parte, os gritos contra a petista representam a revolta com a corrupção desvendada pela Operação Lava-Jato, outro foco de insatisfação, talvez ainda mais intenso, é o comportamento errático da economia. 

Desde que obteve um segundo mandato nas urnas, Dilma passou a fazer o oposto do que prometeu na campanha. E não foram poucas as maldades postas em prática. Houve alta de juros, tarifaço na conta de luz e na gasolina, arrocho de impostos. O resultado foi uma pressão ainda maior sobre a renda das famílias, já assolada por uma inflação galopante que, desde 2009, tem ficado muito acima da meta, de 4,5% ao ano. Em 2015, os trabalhadores poderão experimentar a primeira queda real da renda desde 2002. 

Parte dessa má estatística se deve ao comportamento corrosivo da inflação, consequência dos erros de política econômica acumulados por Dilma no primeiro período no Palácio do Planalto. Em fevereiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 1,22%, a maior elevação para o mês desde 2003. Acumulada em 12 meses, a carestia chegou a 7,7% o segundo mês consecutivo de estouro do teto da meta, de 6,5%. 

Crise prolongada 
 Em março, vai ficar ainda mais pesado, principalmente por conta dos reajustes da conta de luz, que serão quase todos sentidos no bolso apenas agora, frisou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. Nas contas dele, o IPCA deverá subir 1,41% neste mês, praticamente um terço da meta para o ano todo. Não por outro motivo, ele calcula que o custo de vida chegará a 8,22% no acumulado em 12 meses o maior patamar desde dezembro de 2003. E não se trata de uma dificuldade passageira, como disse a presidente. Ao contrário, as previsões são de que a crise deve se prolongar por alguns anos à frente. 

Para piorar, o mercado de trabalho também está em perigo. Em janeiro, nada menos que 81,8 mil empregos foram eliminados nas empresas, desempenho que, para os economistas Fabio Silveira e Amabile Ferrazoli, da GO Associados, reflete a estagnação da economia brasileira. 

Diante da paralisia dos projetos tocados por empresas que mantinham negócios com a Petrobras, proliferam demissões nos canteiros de obras. Na indústria, que há quatro anos amarga colapso na produção, o efeito de medidas como o fim do desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre automóveis foi pesado. Boa parte das montadoras decidiu colocar empregados em férias coletivas. Quando voltarem ao trabalho, se a situação não tiver melhorado, o desfecho tende a ser a demissão. 

Os analistas nunca estiveram tão pessimistas. As expectativas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) caem há 10 semanas consecutivas entre as instituições financeiras consultadas pelo Banco Central na pesquisa Focus. A última previsão, divulgada ontem, é de retração de 0,66% em 2015 o pior desempenho em 25 anos. Para a indústria, a projeção é ainda pior: queda de 1,38%. É a comprovação de que as medidas adotadas pelo governo para salvar o setor produtivo surtiram o efeito contrário: ajudaram a afundá-lo ainda mais. E, por mais que Dilma diga que o país segue e mesma tendência do resto do mundo, os números a contradizem: enquanto o Brasil mergulha na recessão, a economia global crescerá 3,4% este ano (veja quadro). 

Os analistas são unânimes: quando o assunto é o desempenho da economia, há razões de sobra para protestos. Nos últimos quatro anos, Dilma e seus auxiliares venderam a ideia de que um pouquinho a mais de inflação ajudaria o país a crescer mais rápido. A estratégia, que recebeu o nome pomposo de nova matriz econômica, foi baseada em dois pilares: abandono da disciplina fiscal e estímulo ao consumo a qualquer custo, sem a devida contrapartida de incentivo ao investimento. 

Não tinha como dar certo, criticou o ex-economista-chefe da Febraban Roberto Luis Troster. Ao mesmo tempo em que se estimulou a demanda no Brasil, houve aumento da importação da China. Ou seja, aumentou o consumo de alguns e tirou o emprego de outros. Desde que Dilma assumiu o governo, o país passou a registrar deficits crescentes nas transações correntes. No ano passado, as trocas comerciais e de serviços do Brasil com o exterior fecharam no vermelho em US$ 91,288, o pior desempenho desde 2001.