As cobranças pela mudança na articulação política do governo, com a diminuição dos poderes atribuídos ao chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, obrigou a presidente Dilma Rousseff a admitir que, mesmo garantido na pasta, o petista passará a dividir com outros ministros a responsabilidade pelas negociações políticas com o Congresso. Mercadante passou por um longo processo de fritura durante a quarta-feira, promovido especialmente por PT e PMDB, por conta dos sucessivos erros de avaliação e as derrotas sofridas pelo governo recentemente.

Segundo a presidente, serão incluídos no atual conselho político do governo composto até então exclusivamente por petistas o titular das Cidades, Gilberto Kassab (PSD); o da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo (PCdoB); e o da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB). Vamos chamar, eventualmente, ministros para participar da discussão, principalmente quando o assunto for correlato a eles, explicou Dilma, na noite de ontem, em visita ao Acre. Ela disse ainda que as reuniões poderão ser semanais ou mais que semanais. 

Enquanto o futuro de Mercadante estava ameaçado, com aliados pedindo a cabeça do ministro, duas notas oficiais foram divulgadas antes da entrevista de Dilma uma da Secretaria de Comunicação Social da Presidência e outra do Instituto Lula. Não corresponde à verdade o rumor de que a presidente Dilma Rousseff tenha recebido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a sugestão de mudança na chefia da Casa Civil, afirmava a primeira. As frases atribuídas erroneamente a Lula nunca foram ditas pelo ex-presidente, completou a segunda.

Até então, as queixas pela atuação do chefe da Casa Civil eram encaradas por setores do Planalto como o choro de petistas enciumados com o trânsito livre e o prestígio de Mercadante perante a presidente. Mas os ataques mudaram de patamar quando o PMDB passou a vocalizar a mesma insatisfação do PT. Questionado se Mercadante deveria permanecer na articulação política, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi irônico na noite de ontem: Ele faz a articulação política? Não sabia.

Envelheceu
Mais cedo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), desafeto de Mercadante desde os tempos em que este era senador, destacou a edição de uma nova medida provisória corrigindo a tabela do Imposto de Renda como produto de uma negociação com o Congresso. Mas, segundo ele, essa é uma questão pontual, que não resolve a capenguice da coalizão governista. A aliança precisa ter um fundamento. Esse governo parece que envelheceu, afirmou o peemedebista.

Renan não esquece que, em 2007, Mercadante pediu a renúncia do peemedebista por conta das suspeitas de ter as despesas pessoais pagas por um lobista. Posteriormente, quando era líder do PMDB, Renan bancou a indicação de Fernando Collor (PTB-AL) para a presidência da Comissão de Relações Exteriores do Senado, minando a tentativa de Mercadante de emplacar Ideli Salvatti (PT-SC) no posto.

No domingo, após uma semana em que peitou frontalmente o Planalto, Renan acompanhado de outros peemedebistas, como os senadores Romero Jucá (RR), Eunício Oliveira (CE) e o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, que alertaram o presidente do Congresso do risco de estender demais a corda na relação com o Executivo se reuniu com o ministro da Defesa, o petista Jaques Wagner. Ambos acertaram um distensionamento nas relações políticas. Dois dias depois, as duas partes fecharam acordo para a edição da medida provisória com regras de correção da tabela do Imposto de Renda.

Não adianta mudar o nome de A ou B, é preciso mudar o conceito de coalizão. Senão, vão ficar dizendo novamente que o PMDB está de olho em cargos, frisou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira. O PT e o governo precisam estar mais atentos e abertos às pressões que vêm das ruas, da sociedade e dos nossos aliados, completou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), referindo-se aos protestos marcados para domingo, em todo o país, contra o governo. 
Colaborou Daniela Garcia

Fogo amigo de todos os lados

Confira quem são os aliados que têm causado dor de cabeça a Dilma e a Mercadante

PMDB
» O partido reclama que não tem o valor que merece, não é chamado para debater as medidas políticas e econômicas e tem menos espaço do que julga necessitar no governo. Ainda queixa-se da capacidade de articulação política do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
 
Renan e Eduardo 

» Além das queixas gerais do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmam que o Planalto trabalhou pela inclusão de ambos na lista da Operação Lava-Jato. Nenhum dos dois enxerga Mercadante como interlocutor político.
 
PT
» O partido reclama que não é ouvido e acha as medidas de ajuste fiscal muito duras, desconectadas do discurso dos movimentos sociais e do projeto de poder do partido. Senadores e deputados reclamaram diretamente ao ex-presidente Lula da capacidade de articulação do chefe da Casa Civil.

Lula
» Defende que a presidente Dilma se comunique mais com a sociedade e com o Congresso, além de reconhecer a necessidade de mais espaço para o PMDB e de uma melhor articulação política com os aliados. O problema é que o cacique tem repetido as sugestões a Dilma, mas a presidente não acata os conselhos, o que tem deixado Lula insatisfeito. 
 
Movimentos sociais e sindicatos
» Afirmam que Dilma colocou um pé no freio dos avanços sociais, não é capaz de dialogar com a própria base e, ainda por cima, apresentou um ajuste fiscal que prejudica os trabalhadores.
 
Classe média
» Apontada como a responsável por verbalizar os pedidos de impeachment e por consolidar o panelaço na noite de domingo, protesta contra o arrocho, o aumento dos impostos, dos combustíveis e da energia elétrica, além dos escândalos de corrupção que assolam o governo. 
 
Empresários

» Queixam-se da falta de estímulo à produção e à competitividade, do crescimento pífio da economia e da falta de interlocução com o governo.