Com medo de perderem reajustes, gratificações e reestruturações salariais aprovados pelo governo anterior, servidores públicos do GDF foram novamente às ruas, na manhã de ontem. Mais de 1,5 mil funcionários do Estado pararam as atividades para ir à praça do Palácio do Buriti cobrar do Executivo que interceda contra a ação direta de inconstitucionalidade (Adin) apresentada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que pretende impedir os aumentos previstos a 31 categorias profissionais. A manifestação atrapalhou a vida de outros brasilienses. Durante o ato, os servidores fecharam as seis vias do Eixo Monumental, o que causou longos engarrafamentos, mesmo após o encerramento do protesto. 


A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) tentou negociar a liberação das vias, mas os manifestantes estavam irredutíveis. Foram para o Eixo com faixas e cartazes, cobriram a via com uma grande lona dos sindicatos, alguns se sentaram no meio da pista. Órgãos de trânsito do DF desviaram o fluxo na altura da Torre de TV. Os servidores permaneceram no local até a chuva dispersar o movimento, por volta das 12h30, quando o trânsito ainda era lento, inclusive nas seis pistas sentido Rodoviária do Plano Piloto. Com a correria para tentar chegar a um acordo antes que a chuva aumentasse, os manifestantes votaram rapidamente pelo início do estado de greve, com prazo de 10 dias para que o governo se posicione sobre a Adin do MPDFT. 

Foram quase três horas de mobilização. São parcelas de correções inflacionais. Essa medida é um atentado às nossas conquistas. Esperamos que o governo resolva a situação sem mexer nos direitos dos servidores, justificou o presidente do Sindicato dos Agentes de Atividades Penintenciárias do DF (Sindipen), Leandro Allan Vieira. Segundo ele, 1.250 servidores serão prejudicados caso a Justiça vote favoravelmente à ação do MP. 


No caso dos agentes, o reajuste estava acordado para o salário de setembro passado. As primeiras parcelas do escalonamento foram pagas no governo de Agnelo Queiroz, mas a maior parte delas foi deixada para quem assumisse o GDF a partir de 2015. O DF previu reajustes, gratificações e reestruturações remuneratórias sem a prévia dotação orçamentária e sem a consequente destinação dos valores necessários a honrar esses compromissos legais, diz trecho da ação, assinada pelo procurador-geral de Justiça, Leonardo Roscoe Bessa, e pelo assessor cível e de controle de constitucionalidade da Procuradoria-Geral de Justiça, promotor Antonio Henrique Graciano Suxberger. 

Participaram do ato de ontem 17 representantes de sindicatos e 9 de associações. À frente do Sindicato dos Servidores Públicos da Administração Direta do Distrito Federal (Sindireta-DF), Ibrahim Yusef criticou a ação. Ele questionou a origem da provocação ao MP. Ao todo, 150 mil funcionários aguardam reajustes. Discutir o rito depois de dois anos? Alguém está sendo omisso. Quem pode ter provocado o MP justamente agora, perto dos reajustes, dois anos após passar pelo processo legislativo?, indagou Ibrahim. 
Pelo Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Brasília (SindSaúde-DF), cerca de 3 mil funcionários  também esperam pela resolução do impasse. Para a presidente da entidade de classe, Marli Rodrigues, o governo precisa repensar a forma como está tratando os assuntos relacionados aos servidores. Vamos nos defender política e juridicamente, afirmou. Além de contestar as mais de 30 leis, a Adin proposta pelo MPDFT pede que a Justiça suspenda liminarmente a aplicação dos reajustes. Boa parte dos aumentos começaria a vigorar na folha deste mês. 


O governo afirmou que está atrás de soluções, e uma delas é tentar aumentar a arrecadação. Segundo a Secretaria de Relações Institucionais e Sociais, nenhum representante dos sindicatos foi recebido porque isso não foi solicitado. O Executivo disse ainda que prestará as informações orçamentais que forem necessárias ao MPDFT e aguardará uma decisão judicial.