O PT sofreu mais um duro golpe na Operação Lava-Jato. O juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, recebeu denúncia do Ministério Público Federal contra o tesoureiro da legenda, João Vaccari, e o ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato Duque, ligado aos petistas. O primeiro é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro; o segundo responderá pelos mesmos dois crimes e por formação de quadrilha. De acordo com a Procuradoria, parte das propinas pagas a partir de obras superfaturadas em quatro obras na Petrobras foram parar no caixa do partido da presidente Dilma Rousseff. Os R$ 4,26 milhões em doações foram registrados no Tribunal Superior Eleitoral, considerados uma “quantia substancial da propina” pelo juiz Sérgio Moro.

De acordo com a denúncia, as empreiteiras OAS, Mendes Júnior, Setal e MPE Montagem obtiveram, de 2006 a 2012, contratos para executar obras nas refinarias Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR), Replan, em Paulínea (SP). Também prestaram serviços para gasodutos Pilar-Ipojuca, entre Alagoas e Pernambuco, e Urucu-Coari, no Amazonas. Executivos da MPE não foram denunciados, ao menos por enquanto. “É necessário aprofundar as investigações”, esclareceu Moro.

Segundo os procuradores, os serviços contaram com propina de 1% a 2% dos contratos, segundo depoimento do ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco, que fechou delação premiada com a força-tarefa de procuradores do caso. “Tais vantagens indevidas eram pagas a partir de contratos — e respectivos aditivos — sobrevalorados, firmados pelas empreiteiras cartelizadas para a execução de obras da Petrobras, no interesse das Diretorias de Abastecimento, Gás e Energia, Exploração e Produção, e pela própria Diretoria de Serviços chefiada por Renato Duque”, narram os procuradores. Metade da propina ia para Barusco e Duque; o restante, para o PT por meio de Vaccari, “seja mediante doações legais, seja mediante outras operações delavagem de dinheiro”.

Depósito
Seguindo depoimento de outro delator, o executivo Augusto Mendonça, da Setal, o Ministério Público acusa Vaccari de indicar até as contas dos diretórios do PT onde o dinheiro deveria ser depositado.

A assessoria do PT e de Vaccari não prestaram esclarecimentos ao jornal ontem, mas a defesa do tesoureiro tem afirmado que as denúncias “não correspondem à verdade”. “Torna-se importante reiterar que o senhor Vaccari não participou de nenhum esquema para recebimento de propina ou de recursos de origem ilegal destinados ao PT”, afirmou o advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, na semana passada. “Causa estranheza o fato de que o senhor Vaccari não ocupava o cargo de tesoureiro do PT no período citado pelos procuradores”, disse, em entrevista ontem, uma vez que ele assumiu essa posição apenas em fevereiro de 2010. “Ele não recebeu ou solicitou qualquer contribuição de origem ilícita destinada ao PT, pois as doações solicitadas pelo senhor Vaccari foram realizadas por meio de depósitos bancários, com toda a transparência e com a devida prestação de contas às autoridades competentes.”

Para “lavar” o dinheiro, os executivos das empreiteiras e os diretores da Petrobras, entre eles Paulo Roberto Costa, da Área de Abastecimento, se valiam de operadores, como Júlio Camargo e o empresário Adir Assad, investigado na CPI do Cachoeira. Empresas dos dois foram usadas para lavar dinheiro do esquema. O juiz Sérgio Moro determinou a quebra do sigilo bancário das firmas.

Ainda ordenou que Augusto Mendonça apresente em 30 dias extratos e documentos de transferências bancárias entre o consórcio Interpar (Mendes Júnior, Setal e MPE) e suas empresas. O juiz ainda determinou que Júlio Camargo entregue comprovantes de propriedade de suas contas no banco Credit Suisse.

O dinheiro também era lavado no exterior. Documentos do banco Julius Bar, de Mônaco, informam o bloqueio de 20,5 milhões de euros pertencentes a Duque. O advogado dele, Alexandre Lopes, nega as acusações de propina e afirma que seu cliente não tem dinheiro no exterior. Ontem, Lopes não foi localizado pelo jornal.

A OAS rejeitou as acusações. “A OAS nega as acusações e responderá a elas nos autos do processo”, afirmou a assessoria da empreiteira em nota ao Correio. A Mendes Júnior disse que não comenta processos judiciais em andamento.


Quem é quem
Vinte e sete pessoas suspeitas de participar de fraudes em obras da Petrobras em duas refinarias e dois gasodutos

Réu Função Acusações do MPF*

Adir Assad Operador Quadrilha e lavagem de dinheiro

Agenor Franklin Medeiros Executivo da OAS Corrupção ativa e lavagem de dinheiro

Alberto Elísio Vilaça Executivo da Mendes Jr. Corrupção ativa e lavagem de dinheiro



Alberto Youssef Doleiro Corrupção ativa e lavagem de dinheiro

Ângelo Alves Mendes Executivo da Mendes Jr. Corrupção ativa e lavagem de dinheiro

Augusto Mendonça Executivo da Setal Quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro

Dario Teixeira Ligado à Rockstar Quadrilha e lavagem de dinheiro

Francisco Perdigão Executivo da Mendes Jr. Quadrilha e lavagem de dinheiro



João Vaccari Tesoureiro do PT Corrupção passiva e lavagem de dinheiro

José “Léo” Pinheiro Executivo da OAS Corrupção passiva e lavagem de dinheiro

José Américo Diniz Executivo da Mendes Jr. Quadrilha e lavagem de dinheiro

José Cruvinel Resende Executivo da Mendes Jr. Corrupção ativa e lavagem de dinheiro

Júlio Camargo Operador Quadrilha, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro

Lucélio Góes Operador Quadrilha e lavagem de dinheiro

Luiz Almeida Executivo da OAS Quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro

Mário Frederico Góes Operador Quadrilha, corrupção ativa e passiva

Marcus Teixeira Executivo da OAS Quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro

Mateus Coutinho de Sá Executivo da OAS Corrupção ativa e lavagem de dinheiro

Paulo Roberto Costa Ex-diretor da Petrobras Lavagem de dinheiro



Pedro Barusco Ex-gerente da Petrobras Quadrilha e corrupção passiva




Renato Duque Ex-diretor da Petrobras Quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro

Renato Siqueira Executivo da OAS Quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro

Rogério Cunha de Oliveira Executivo da Mendes Jr. Corrupção ativa e lavagem de dinheiro

Sérgio Cunha Mendes Executivo da Mendes Jr. Quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro

Sônia Mariza Branco Ligada à Legend e SM Terraplenagem Lavagem de dinheiro

Waldomiro de Oliveira Dono da MO Consultoria Lavagem de dinheiro

Vicente Carvalho Representante da Mendes Jr. Lavagem de dinheiro