A presidente Dilma Rousseff é alvo da pior avaliação de um governo desde de 1999. A constatação é do instituto MDA, em pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT). O levantamento mostra que apenas 10,8% da população avaliam o governo positivamente, e 64,8%, negativamente. No total, 45,6% dos entrevistados o classificam de “péssimo”, contra 1,9% que o consideram “ótimo”. O que agrava a situação é que 59,7% dos brasileiros são a favor do impeachment, enquanto 34,7% são contrários à medida. A pesquisa CNT/MDA entrevistou 2.002 pessoas em 25 municípios, entre 16 e 19 de março.

Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) João Paulo Peixoto, o índice de pessoas favoráveis ao impeachment não surpreende. “É resultado da baixa avaliação do governo. Enquanto as pesquisas forem feitas por agora, os resultados continuarão assim. Não houve nada para melhorar o cenário”, diz. Para ele, é o tempo que vai definir o tamanho da preocupação que se deve ter com os pedidos para a saída de Dilma. “É preciso observar se esse sentimento vai aumentar e quanto tempo vai durar. É sempre preocupante (ter um índice como esse).”

Os resultados reforçam a conjuntura traçada pelo Instituto Datafolha, que mostrou, na semana passada, que apenas 13% da população aprovam o governo de Dilma. No quesito desempenho pessoal, segundo o CNT/MDA, a presidente teve aprovação de apenas 18,9% da população, pior marca na série histórica.

Entre os entrevistados, 41% declararam ter votado em Dilma, enquanto 37,8% disseram ter votado em Aécio Neves (PSDB). Se o segundo turno das eleições fosse hoje, 55,7% votariam no tucano, e somente 16,6%, na petista.

Dos entrevistados, 83,2% dizem apoiar as manifestações, embora 96,1% não tenham ido aos protestos do dia 15. Outro dado do levantamento é que 85% das pessoas declararam ter ouvido falar ou acompanham a Operação Lava-Jato, e 63,9% afirmaram que a corrupção é a responsável pela situação econômica do país. Os atos ilícitos na Petrobras investigados atualmente são atribuídos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por 67,9% dos consultados. Quando a pergunta é sobre Dilma, 68,9% atribuem o escândalo à presidente.

Perspectivas ruins
O pessimismo é a marca dos resultados. Do total de entrevistados, 92,8% se dizem preocupados com a situação econômica, e 91,2% declararam ter sentido reflexos da inflação no cotidiano. Apenas 25,2% das pessoas avaliam que as medidas tomadas pelo governo serão capazes de reverter o cenário negativo em que o país se encontra. Já 66,9% acreditam que elas não serão suficientes.


De mal a pior

Confira o que a população pensa do governo Dilma, segundo pesquisa CNT*

Março de 2015 Setembro de 2014

Avaliação do governo
Positiva 10,8% 41%
Negativa 64,8% 24%
Regular 23,6% 35%

Desempenho pessoal da presidente
Aprovam 19% 56%
Desaprovam 77,7% 40%


>> Se o segundo turno das eleições fosse hoje, você votaria em:

Aécio Neves 55,7%
Dilma Rousseff 16,6%
>> Candidatos em que os entrevistados afirmaram ter votado

Dilma Rousseff 41%
Aécio Neves 37,8%

O que pensam os entrevistados

43% avaliam o comportamento de Dilma, neste início de segundo mandato, como péssimo

81% acham que Dilma não está cumprindo o que prometeu

4,7% acreditam que a petista está cumprindo o que prometeu

38% acham que o governo estaria melhor se Aécio Neves tivesse sido eleito

32% acreditam que a situação estaria igual, independentemente de quem tivesse vencido

85% acompanham ou ouviram falar da Operação Lava-Jato

75,7% tomaram conhecimento da lista de políticos envolvidos no escândalo

67,9% acreditam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é culpado pelos casos de corrupção investigados hoje
92,8% se consideram preocupados com a situação econômica do país

91,2% já sentiram os reflexos da inflação na vida

43,8% acreditam que o governo deveria promover a reforma política para reduzir despesas e reequilibrar contas, sem onerar o cidadão

*O instituto entrevistou 2.002 pessoas em 25 municípios, de 16 a 19 de março, e traz resultados similares à pesquisa Datafolha da semana passada, que também aponta cenário negativo para o governo.

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Repercussão no parlamento

A pesquisa CNT/MDA divulgada ontem ecoou forte no Congresso. Enquanto os dados alimentavam o discurso da oposição, governistas tentavam minimizar as estatísticas. O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), pediu que Dilma renuncie ao cargo. Se houvesse alguma visão republicana, ela renunciaria ao mandato e convocaria novas eleições. Só a vaidade pessoal de Dilma a mantém na Presidência, pois não há mais nenhuma base de sustentação, afirmou. Se, hoje, 60% da população pedem o impeachment, é porque não a querem mais à frente do comando do país, avaliou o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP). 

Em nota, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que os resultados são um claro reflexo dos equívocos na economia e da incapacidade de resolver problemas denunciados na campanha. Ela (Dilma) deve se desculpar por ter tirado de milhões de brasileiros a perspectiva de um futuro melhor, afirmou o tucano.

Já os parlamentares da base se esforçavam em minimizar os números. Para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), a queda na aprovação de Dilma é um fenômeno conjuntural. Eu já vi prefeito de capital rejeitado por 82%. E, na reeleição, ele ganhou. Portanto, isso é do momento, é conjuntural, disse Guimarães. Quem lutou, como nós lutamos, contra a ditadura e pela democracia, não pode se assustar com a voz das ruas. Temos que criar propostas que viabilizem esse diálogo com as ruas. É isso que nós estamos fazendo, é isso que a presidente Dilma está fazendo, completou.

No PMDB, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (RJ), também relativizou a impopularidade de Dilma. Está se vulgarizando muito essa palavra impeachment. Temos que tratar isso com a seriedade devida. As pessoas acabam respondendo sem conhecer, afirmou.