O Brasil parou em 2014. Com inflação em disparada, juros em alta, descontrole das contas públicas e desconfiança de empresários e consumidores, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou variação de minguado 0,1%, anunciou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi pior desempenho desde 2009, ano de crise, e o terceiro menor entre os países que integram o G 20, grupo que reúne as principais economias do mundo. O Brasil só se saiu melhor do que a Itália, com queda de 0,4%, e do que o Japão, que ficou em zero. Entre os Brics, o resultado brasileiro foi o pior. Até a Rússia, abalada com a queda do preço do petróleo, conseguiu crescer mais: 0,3%. Na América Latina, também fizemos feio. A Argentina avançou 0,5% e o México, 2,1%. Em valores correntes, o PIB atingiu R$ 5,521 trilhões.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, avisou que a situação só vai piorar neste ano, com forte retração da economia, sobretudo nos três primeiros meses. Os economistas apostam em tombo entre 1% e 2%, com forte aumento do desemprego. Diante do resultado de 2014, a média de crescimento do PIB no governo Dilma foi de 2,1%, o segundo pior desde a redemocratização do país. Só superou a administração Collor de Mello, que tomou posse em março de 1990 e foi deposto no fim de 1992 por corrupção — queda média anual de 1,7%. Nem mesmo durante os anos 1980, classificados como década perdida, se viu desempenho tão ruim da economia. Poderia ter sido ainda mais desastroso não fosse a revisão do PIB pelo IBGE em 2011, 2012 e 2013, sempre para melhor.

Nenhum dos componentes do PIB conseguiu se sustentar ante o desarranjo da economia provocado por Dilma. A inflação detonou o consumo das famílias, que avançou apenas 0,9% sobre 2013, o menor crescimento desde 2003. Com os empresários assustados diante da forte intervenção do Palácio do Planalto na economia, os investimentos desabaram 4,4%. Sem competitividade, a indústria encolheu 1,2%. O setor de serviços, que vinha sustentando a atividade, apontou incremento de apenas 0,7%, o pior da série histórica do IBGE. “O quadro é preocupante. Estamos diante de um país parado”, disse o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade de Campinas (Unicamp), na qual deu aulas para a presidente Dilma.

Que venha 2016
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reconheceu o baque na economia. Mas, para ele, o que houve foi uma “pausa no crescimento”. O chefe da autoridade, que vem conduzindo forte aumento de juros, depois de ceder ao caprichos de Dilma e levar a taxa básica ao menor nível da história, 7,25%, mesmo com a inflação em alta, garantiu que o quadro dramático da economia será revertido. “Os ajustes macroeconômicos em curso tendem a construir bases mais sólidas para a retomada da confiança e do crescimento”, apostou.

Com 2015 praticamente perdido, a perspectiva de melhora em 2016 é desafiada por economistas. “Não há garantias de que o ajuste fiscal, que está sendo apontado como a salvação do país, promova a volta do crescimento”, afirmou Belluzzo. Na avaliação dele, a situação atual é consequência de desbalanço na relação do Brasil com outros países e da perda de competitividade da indústria, ambos resultantes da sobrevalorização do real em relação ao dólar durante um período muito longo. Segundo o economista, o quadro inverso, de forte desvalorização do real, que tem ocorrido nos últimos meses, não resolve os problemas. “Isso tem o lado bom de impedir a concorrência predatória promovida por alguns países, mas resulta em maiores custos para a indústria, que agora tem muitos insumos importados, e eleva as dívidas do setor.”

Para este ano, analistas são unânimes em apontar queda significativa do PIB. O Banco Central estima redução de 0,5%, mas o mercado vê recuo de pelo menos 1%. “Esperamos deterioração maior da economia, devido ao aperto na política monetária e na política fiscal, à alta da inflação e à queda na confiança de empresários e consumidores”, apontou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho. Na opinião dele, os detalhes do PIB são mais reveladores do que o resultado consolidado. “Apesar de o crescimento ter vindo ligeiramente melhor do que o esperado, os números mostram um quadro negativo da economia, com queda nos investimentos e no consumo”, assinalou.

Lava-Jato
Os resultados do quarto trimestre do ano passado são o retrato claro de que 2015 começou no atoleiro. Quase todos os itens ficaram abaixo do resultado geral, demonstrando que a economia pisou fortemente no freio depois das eleições. O PIB caiu 0,2% frente aos três últimos meses de 2013. O tombo da indústria foi de 1,2% e o dos investimentos, de 5,8%. O consumo do governo também teve queda, de 0,2%. A alta nos serviços limitou-se a 0,4%. Apenas dois itens vieram com desempenho melhor: a agropecuária (1,2%) e o consumo das famílias (1,3%).

“É importante ter esperança de que as coisas melhorem. Mas não é mais do que isto: uma esperança”, disse João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para ele, antes de mais nada, será preciso promover a retomada da confiança de empresários e consumidores. “O problema é que o quadro tende a piorar com a queda no emprego e na renda. Tem ainda as consequências da Operação Lava-Jato, que provocou a paralisação de várias obras da Petrobras”, destacou. A coordenadora da contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis, confirmou esse ponto como um dos grandes riscos para o já combalido PIB de 2015. “A operação Lava-Jato foi deflagrada só no fim de 2014. Portanto, as consequências na economia vão aparecer no resultado deste ano”, afirmou.