A desconfiança em relação ao governo travou os investimentos produtivos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os desembolsos para a ampliação e a construção de fábricas encerraram 2014 com queda de 4,4%, o pior resultado desde 1999. Entre os executivos de empresas, a visão é de que a presidente Dilma Rousseff, com sua política intervencionista e inflacionária, tirou a previsibilidade da economia e escureceu o horizonte. Hoje, é melhor deixar o dinheiro aplicado em títulos públicos, a juros de 12,75% ao ano sem riscos, do que investir nos negócios.

Com isso, a taxa de investimento em relação do Produto Interno Bruto (PIB) caiu para 19,7%. Nesse nível, não há como a atividade se expandir sem que o custo de vida aumente. Para que a economia deslanche, sem pressões inflacionárias, o indicador teria que estar próximo dos 25%. Nenhum economista, porém, vê essa taxa tão cedo. Além de a confiança dos empresariado não dar sinais de retomada, o país não detém recursos suficientes para bancar obras. A taxa de poupança em 2014 despencou para 15,8% do PIB, o menor patamar desde .

Na avaliação dos especialistas, o quadro para os investimentos em 2015 é dramático. Responsável pela maior parte dos projetos que ampliam a capacidade de oferta de produtos no país, a Petrobras foi obrigada a botar o pé no freio e suspender empreendimentos devido à corrupção descoberta pela Operação Lava-Jato.

Segundo levantamento do Sistema Firjan, pelo menos 144 projetos estão ameaçados de paralisação em função da Lava-Jato. Isso corresponde a R$ 424,8 bilhões em investimentos, ou 7,7% do PIB. Boa parte dessas obras está em andamento e a previsão é de que os empreendimentos sejam concluídos nos próximos cinco anos. Desse total, R$ 242,8 bilhões estão previstos para serem aportados em 109 obras de infraestrutura. O restante destina-se ao setor de petróleo e gás.

O desânimo é geral. “A fotografia, com a revisão do PIB dos anos anteriores, pode até ter melhorado um pouco a economia, mas o filme continua ruim”, disse o economista Samuel Pessoa, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para ele, o grande problema é que a diferença entre as taxas de investimento e de poupança não diminuiu, fazendo com que o deficit nas contas externas continuasse elevado, acima de 4% do PIB.

A mesma opinião é compartilhada pelo economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. “Não é só o filme que está ruim, mas o enredo também”, afirmou. “Houve uma leve melhora na taxa de investimento, porque passaram a ser considerados no cálculo gastos na área de pesquisa e desenvolvimento. Mas o quadro geral não mudou para quem está olhando o futuro a fim de decidir se investirá ou não no país”, acrescentou. Ele estima retração de 1% no PIB deste ano.

Para a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, o PIB cairá 1,2% em 2015 por causa, sobretudo, da retração dos investimentos. “Os riscos continuam elevados para a economia, principalmente por causa da Operação Lava-Jato”, frisou ela, que prevê queda de 30% nos investimentos da Petrobras e de 15% nos desembolsos das empreiteiras envolvidas na Lava-Jato. “Essa operação tem um peso brutal na retração do PIB deste ano, de 1,9 ponto percentual. Somente o corte nos investimentos da Petrobras tirará 1,1 ponto percentual do Produto”, disse. Pelas contas de Alessandra, o impacto desse escândalo de corrupção pode chegar a 10% do PIB.


BNDES investirá menos em petróleo
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reduziu em 30% a previsão de investimentos do setor de petróleo e gás no Brasil, entre 2015 e 2018, para R$ 360 bilhões. Segundo o gerente do Departamento de Gás e Petróleo e Cadeia Produtiva do banco, André Pompeo Mendes, a nova estimativa foi impactada pela queda de investimentos previstos pela Petrobras. Em janeiro, a estatal informou que investiria US$ 33 bilhões neste ano, ante a média anual entre US$ 40 bilhões e US$ 45 bilhões. “Sendo assim, em seguida, ajustamos o número anterior por volta da mesma ordem de grandeza, uma vez que os investimentos do setor dependem fortemente da Petrobras”, afirmou Mendes.

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Construção encolhe

O desaquecimento da economia se deu principalmente em alguns setores. E quem considerou a queda de 2,6% na indústria da construção civil em 2014 ante a 2013 ruim pode se preparar. Na opinião do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Carlos Martins, o recuo neste ano deve ficar em torno de 5%. Segundo ele, entre outubro de 2014 e fevereiro de 2015, foram dispensados 250 mil trabalhadores com carteira assinada. E o setor, que conta hoje com aproximadamente 3 milhões de empregados, deve demitir cerca de 10% disso, se as obras em andamento forem interrompidas e os pagamentos regularizados.

O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), o maior do país, também está pessimista. A entidade piorou as estimativas para 2015 e, agora, espera uma queda de 5,5% no PIB do setor, ante previsão anterior de estabilidade ou alta de 0,5%.

Em relação ao emprego, o Sinduscon avaliava uma retração de 2% este ano, com baixa de 1,5% na produção de insumos. Apenas nos dois primeiros meses do ano, a indústria paulista já demitiu 42 mil pessoas. De acordo com o presidente do sindicato, José Romeu Ferraz, deve haver cortes de mais 300 mil postos até o fim do ano. “A queda no emprego tem atingido todos os segmentos”, enfatizou.

Sobre 2016, o presidente da CBIC não quis se arriscar a fazer prognósticos. “Hoje em dia, a gente dirige como se estivesse em uma neblina muito forte. Só consegue enxergar um pouquinho à frente”, ironizou.

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Indústria tem o pior resultado desde 2009

A indústria brasileira segue descendo a ladeira sem freio: em 2014, registrou um recuo de 1,2%, o pior desempenho entre os setores produtivos do Produto Interno Bruto (PIB), como divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde 2009, quando, em meio aos baques da crise econômica mundial, o ano fechou com retração de 4,8%, o resultado não era tão ruim. Os dados não causam estranheza aos industriais, que projetam um 2015 ainda mais complicado.

O avanço de 8,7% da indústria extrativa mineral — após recuo de 2,5% em 2013 — ajudou a amenizar o tombo do setor no ano passado, contendo parte das quedas significativas observadas nos outros segmentos. A construção civil encolheu 2,6%, assim como a produção e a distribuição de eletricidade, gás e água. Já a indústria da transformação, puxada pelo péssimo resultado de empresas automotivas e de máquinas e equipamentos, diminuiu 3,8% em relação a 2013. O setor representou 23,4% do PIB de 2014.

No ano, pela ótica da oferta, a indústria foi a que mais contribuiu para o desempenho pífio do PIB brasileiro. Diante de um cenário nebuloso, no quarto trimestre, a indústria da transformação caiu menos (-1,6%). “O setor automotivo melhorou um pouco no fim do ano. Com a perspectiva de aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), os consumidores anteciparam as compras de veículos”, analisou Rebeca de la Rocque Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

A falta de confiança na retomada da economia a curto prazo fará de 2015 um ano ainda pior para o setor, na opinião do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. A entidade estima uma queda de pelo menos 4% neste ano. “Não há dúvida de que teremos problema de desemprego”, comentou. A burocracia, a carga tributária e os custos com logística estão entre os entraves elencados por Skaf ao avaliar a competitividade da indústria.

Mesmo com o dólar mais alto — o que potencializa as exportações —, a indústria terá mais um ano de poucos investimentos. “A toda hora, o governo lança ações em um caminho e, de repente, muda de rumo. Com essa gestão pública desastrada, não há como o empresário pensar a médio ou a longo prazo”, sustentou o presidente da Fiesp. “Quanto ao dólar, é importante lembrar que as exportações não se recuperam da noite para o dia”, emendou.

O “pibinho” do setor industrial era aguardado pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Walter Cover. “A indústria ficou e ainda continua na berlinda. Os indicadores de renda e de emprego desaceleraram e falta confiança por parte das famílias e dos empresários”, sublinhou. A dificuldade de pagamentos no programa Minha Casa, Minha Vida — que responde atualmente por 15% do setor de construção civil — é ameaça extra em 2015.

O escândalo de corrupção na Petrobras também afetou fortemente a indústria da construção no fim de 2014, lembrou Cover. “E os afeitos serão ainda maiores neste início de ano”, ponderou ele, que estima queda de 5% do segmento. “2015 começou muito ruim, com queda nas vendas do varejo de materiais de construção e no número de projetos. Ainda que a confiança seja recuperada, esse processo será lento e gradual”, afirmou.

O índice de confiança do empresário medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) atingiu em março deste ano o pior patamar da série histórica, iniciado em janeiro de 1999. O pessimismo tem aumentado em todos os segmentos da indústria, refletindo as incertezas sobre o impacto das medidas de ajuste da economia anunciadas pelo governo, além de preocupação com a crise hídrica e o aumento do preço da energia.

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Contas não fecham sem capital externo   
 
O Brasil está cada vez mais dependente do capital externo para fechar as contas. A necessidade de financiamento da economia bateu recorde no ano passado: R$ 233,56 bilhões. Esse volume ficou R$ 44,39 bilhões acima dos R$ 189,17 bilhões de 2013, ou seja, um crescimento de 23,46%, conforme os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O economista-chefe da agência de classificação de risco nacional Austin Rating, Alex Agostini, considera a situação do Brasil preocupante. “Isso significa que o país é tomador de recursos externos para fechar o balanço de pagamentos equivalente a 4,2% do PIB. Esse número não é confortável”, afirmou.

Metodologia
Ele lembrou que a base de comparação desses dados tem uma limitação com a metodologia nova e só chega até 2010. Naquele ano, a necessidade de financiamento externo era de R$ 98,29 bilhões e, durante os quatro anos do governo da presidenteDilma Rousseff, esse resultado negativo para as contas nacionais deu um salto de 138%, ou seja, mais do que dobrou. “Um dado como esse não é fácil administrar. Pois, em última instância, significa atraso nos processos de crescimento e de desenvolvimento econômico do país”, emendou Agostini.

De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do órgão, Rebeca Palis, o aumento do deficit no saldo externo de bens e serviços teve peso determinante para o resultado: cresceu R$ 31,7 bilhões no ano passado, passando de R$ 120,5 bilhões, em 2013, para R$ 152,2 bilhões. “Isso explica a maior parte da piora na necessidade de financiamento”, explicou.

A remessa de renda de propriedade também contribuiu para o resultado. De acordo com Rebeca, o deficit desse item passou de R$ 78,8 bilhões para R$ 87,3 bilhões. Desses R$ 8,5 bilhões, a maior parte (R$ 6,9 bilhões) refere-se ao aumento do envio de lucros e dividendos. O restante (R$ 1,6 bilhão) equivale ao incremento no pagamento de juros.

Diante desse quadro, o economista chefe da Austin Rating prevê retração de 1,4% na economia neste ano. Para ele, se a Operação Zelones, deflagrada esta semana, e que investiga corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), do Ministério da Fazenda, tiver um impacto na economia parecido com o da Operação Lava-Jato, essa desaceleração do PIB pode se estender até 2016. Pelas estimativas da Polícia Federal e da Receita Federal, os prejuízos aos cofres da União podem ultrapassar R$ 19 bilhões.
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Exportação recua 1,1%

A retração de 1,1% nas exportações e de 1% nas importações, em 2014, não surpreenderam. A queda nos preços das commodities, principais itens da pauta comercial do país, foi um dos fatores que mais influenciou para o resultado ruim das vendas internacionais. Assim como a retração do mercado interno, ocasionou a queda nas compras do exterior.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, lembra que, o país pode não ter perdido a 7ª posição no ranking global, mas certamente vai descer alguns degraus entre os maiores exportadores do planeta. “O Brasil caiu para o 22ª lugar, em 2013, e perderá duas ou três posições em 2014”, apostou. Ele demonstrou frustração com o desempenho do país abaixo da média internacional. “Mais uma vez estamos na rabeira dos PIBs, logo, podemos dizer que estamos gerando a crise mundial”, resumiu.

Para Castro, a desvalorização do real frente ao dólar pode ajudar o para reverter o deficit comercial de US$ 3,9 bilhões de 2014, mas não incrementar o comércio de manufaturados. “O câmbio, sozinho, não garante aumento das exportações. Se houver superavit este ano, ele ocorrerá pela queda das importações. A tendência não é de melhora, principalmente, nas regras do jogo de comércio exterior”, disse. Vale lembrar que o Plano Nacional de Exportação, que deveria ter sido lançado na segunda metade de março, foi adiado para abril.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, é mais otimista: acredita que a tendência é de melhora nas vendas internacionais. Mas não estende suas previsões para a economia como um todo. Tanto que ele elevou de 1% para 1,4% sua projeção de retração do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano.