Título: Relatório indica erro humano
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 30/07/2011, Brasil, p. 12
VOO 447
Segundo agência francesa, os pilotos do avião da Air France não perceberam que estavam caindo no Oceano Atlântico
O terceiro relatório do Escritório de Investigação e Análise para a segurança da aviação civil (BEA, na sigla em francês), órgão que investiga o acidente com o voo AF 447, que saiu do Rio de Janeiro rumo a Paris em junho de 2009, aponta erro dos pilotos como a principal causa da queda da aeronave no Oceano Atlântico, resultando na morte de 228 pessoas. Os três fatores críticos, conforme o documento, foram a falha no gerenciamento da cabine, a indiferença dos comandantes em relação ao alarme que avisava sobre a falta de sustentação da aeronave e, por fim, a incompetência em guiar o avião com os sensores de velocidade, chamados de pitots, desativados (veja quadro).
Pela primeira vez, foram divulgados os diálogos dos pilotos segundos antes da queda. As conversas demonstram que eles pareciam não perceber a falta de sustentação da aeronave, situação agravada pelo fato de o comandante Marc Dubois estar fora da cabine no momento em que o primeiro alarme (estol) avisando da queda soou. A confirmação vem da ausência de qualquer comentário entre os copilotos Pierre-Cedric Bonin e David Robert sobre a emergência que se apresentava naquele momento. Quando notaram as dificuldades, Dubois foi chamado várias vezes pelos copilotos até retornar à cabine.
Para Jean-Paul Troadec, diretor do BEA, os pilotos tinham condições de evitar o acidente caso fossem mais experientes e competentes, mesmo diante da situação extremamente adversa ¿ de voar sem os sensores de velocidade em uso. ¿A situação era salvável¿, afirmou Troadec. Ele informou que a aeronave chegou ao Oceano Atlântico a uma velocidade de 200km/h. Apesar das críticas pesadas do relatório, Jorge Barros, investigador da reserva da Força Aérea Brasileira (FAB) e especialista em segurança de voo, minimiza o tom das informações. ¿Não há como atuar numa pane se eles não sabem o que fazer, não foram treinados para isso¿, afirma o oficial da FAB.
Reação A Air France saiu em defesa dos pilotos, divulgando uma nota em que repudia as informações do BEA. O comunicado afirma que, ¿durante essa sequência de acontecimentos, a tripulação no comando, reunindo as competências dos dois copilotos e do comandante, fez prova de consciência profissional e comprometimento até o fim na condução do voo¿. Apesar de o relatório oficial apontar que não houve problemas nos motores, que funcionaram e sempre responderam aos comandos da tripulação, a companhia revidou, afirmando que ¿nada permite, nesse estágio, colocar em dúvida as competências técnicas da tripulação¿.
Advogados preveem que, com a culpa recaindo sobre os funcionários da companhia, o valor das indenizações aos familiares tende a subir. Parentes das vítimas também criticaram o documento, destacando interesses comerciais que estariam em jogo e deturpando as reais causas. A tese de falha nos equipamentos é uma das linhas defendidas pelos familiares.