A estagnação econômica do país ameaça o emprego dos brasileiros. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto o Produto Interno Bruto cresceu apenas 0,1%, a maioria dos ramos de atividade encolheu em 2014. Para Reginaldo Gonçalves, coordenador de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina, pressionados pelos juros e pela inflação elevadas, os empresários que não conseguem captar recursos, devido ao alto custo do dinheiro, pararam de investir.
Sem dinheiro em caixa e com o retraimento da produção, a dispensa de pessoal tornou-se inevitável. “Poucos estão em condições de investir ou ampliar os negócios. E os que ainda têm recursos estão segurando ou revertendo o dinheiro para os títulos públicos, que são a melhor opção de retorno nesse momento”, explicou Gonçalves. Ele destacou que, apenas a agropecuária, que avançou 0,4% no ano passado, talvez mantenha o desempenho em 2015, por conta da desvalorização do real frente ao dólar, que estimula as exportações do campo.
Gonçalves prevê inflação de 8% para 2015, taxa básica de juros (Selic) entre 13% e 13,5% ao ano e PIB nulo ou em queda. Em 2016, o quadro deve melhorar um pouco, com crescimento pelo menos de 0,5%, inflação em torno de 7% e juros abaixo dos 13%. “Mas está difícil ter certeza sobre os números. A confiança na equipe econômica ainda não é forte o suficiente porque, cada vez que traça uma meta e é pressionado, o governo recua. Também não há sinalizações firmes em nenhuma direção. Por exemplo: o setor produtivo se prepara para um possível aumento de impostos. Mas como será? Sobre o consumo ou sobre o patrimônio? São dúvidas assim que travam a produção”, explicou.
Desaceleração
Paulo Dantas, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), destacou que o Brasil está carente de uma política econômica de longo prazo. Dantas se mostrou preocupado com a possibilidade de as medidas de ajuste fiscal comprometerem a retomada do crescimento, impondo mais sacrifícios ao setor produtivo.
O presidente do Cofecon lembrou que, embora o consumo das famílias tenha aumentado 0,9% no ano passado, ocorreu forte desaceleração no confronto com 2013 (2,9%). O mesmo aconteceu no consumo do governo (crescimento de 1,3% contra 2,2% no ano anterior). Já a Formação Bruta de Capital Fixo, indicador que mede os investimentos, recuou 4,4%.
Olhando esse números, ele assinalou que, em 2015, a situação tende a piorar. “É de se esperar também que cortes de subsídios e em programas de grande impacto social, como o Minha Casa Minha Vida, gerem consequências negativas no nível de emprego e na aquisição de insumos da indústria. Será muito difícil. O corte de empregos, nesse cenário, será praticamente inevitável”, reforçou.