Insatisfeito com as críticas da senadora Marta Suplicy (SP) ao pedir ontem a desfiliação, o PT vai brigar na Justiça Eleitoral para ficar com o mandato dela no Senado. Por nota, afirmou ter recebido com “indignação” a carta em que oficializou a saída. “A senadora retribui, com falta de ética e acusações infundadas, a confiança que o PT lhe conferiu ao longo dos anos”, diz o texto assinado pelo presidente nacional da sigla, Rui Falcão.

“Ao renegar a própria história e desonrar o mandato, Marta Suplicy desrespeita a militância que sempre a apoiou e destila ódio por não ter sido indicada candidata à Prefeitura de São Paulo em 2012”, continuou Falcão. Os petistas rebatem as críticas de Marta na carta de quatro páginas enviada à legenda, que diz ter sido isolada e estigmatizada ao tentar se “empenhar numa linha de providências” para que o partido voltasse aos “fundamentos ideológicos os quais foram construídos há 35 anos”.

“O Partido dos Trabalhadores não possui mais abertura nem espaço para o diálogo com suas bases e seus filiados, dando mostras reiteradas de que não está interessado, ou não tem condições, em resgatar o programa para o qual foi criado”, escreveu. Ela ainda enfatizou o “constrangimento” com as denúncias, como as da Operação Lava-Jato, que prendeu o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. “Os crimes que estão sendo investigados e que são diária e fartamente denunciados pela imprensa constituem não apenas motivo de indignação, mas consubstancialmente um grande constrangimento”, afirmou.

Marta avisou que está conversando com vários partidos, como uma frente formada pelo PSB, PPS, PV e Solidariedade. “Fui procurada primeiro pela frente que está se formando e também por outros partidos, como o PDT.” Ela anunciou que as conversas com o PSB estão mais avançadas, mas que “ainda não bateu o martelo”. “Eu tenho até outubro para me decidir. Não me desfiliei do PT pensando nisso (concorrer à prefeitura de São Paulo). Desfiliei-me porque não tinha mais sentido estar ali. Sou paulista e crítica da gestão do (Fernando) Haddad, então há uma possibilidade de eu tentar essa vaga”, admitiu. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que a filiação de Marta ao partido só depende dela.

Ao brigar pelo mandato de Marta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PT pretende manter a cadeira no Senado. É que o primeiro-suplente dela é Antônio Carlos Rodrigues, o atual ministro dos Transportes, que deve abrir mão de assumir o cargo. Assim, automaticamente, a vaga passa para o segundo-suplente, Paulo Frateschi, um dos dirigentes mais influentes do partido. Nos bastidores, petistas mantêm a expectativa de Frateschi ocupar o espaço.

Marta já foi deputada federal e prefeita de São Paulo, de 2001 a 2004. Em 2010, garantiu a candidatura ao Senado e conquistou o mandato. No ano seguinte, tornou-se ministra da Cultura e, um ano depois, em 2012, trabalhou novamente para ser candidata à prefeitura da capital paulista, mas acabou atropelada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que apostou em Fernando Haddad.