O desemprego aumenta em ritmo acelerado. No primeiro trimestre, a taxa de desocupação apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) subiu 1,9 ponto percentual -- o crescimento mais rápido para o período desde 2009 --, chegando, em março, a 6,2%. É o maior patamar desde maio de 2011, início da gestão da presidente Dilma Rousseff. Para analistas, a deterioração da economia deve levar o indicador para 7% no fim até dezembro, o que seria o pior resultado em seis anos. No mês passado, 1,5 milhão de pessoas estavam sem emprego nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo órgão.

Dois fatores têm provocado a piora do mercado de trabalho. Diante do cenário de arrocho monetário, ajuste fiscal e disparada da inflação, as empresas têm reduzido investimentos e dispensado funcionários. Por sua vez, endividadas e com o orçamento corroído pela carestia, pessoas que até agora não procuravam emprego começaram a correr atrás de uma vaga, aumentando a disputa pelas oportunidades disponíveis.

"A renda mais apertada é um fator importante que faz as pessoas buscarem trabalho. Quem estava fora do mercado está tentando voltar", destacou a gerente do IBGE Maria Lúcia Vieira. Segundo o instituto, o rendimento médio dos trabalhadores caiu a R$ 2.134,60 em março, valor 2,8% menor que o de fevereiro, na maior redução em 12 anos. Frente ao mesmo período do ano passado, o tombo foi de 3%. As maiores quedas ocorreram entre os empregados da construção civil (5,6%) e do comércio (4,9%)

Com mais pessoas em busca de trabalho, a dificuldade em obter uma colocação deve aumentar, observou Carlos Alberto Ramos, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB). Por isso, ele acredita que a taxa de desemprego, que foi maior que a de fevereiro passado (5,9%) e a de março de 2014 (5%), vai se manter em alta. "A inflação vai continuar resistente e reduzindo a renda. Para manter o padrão de vida, muitas famílias terão que recorrer ao mercado informal", explicou.

Drama

Foi o que fez Jonas de Sousa Ramos, 23 anos. Entre um traço e outro em uma folha de papel, ele encontrou no talento artístico a maneira de sustentar a família. "Desenho desde os 6 anos, mas nunca havia trabalhado com isso", disse ele, que vende cada obra por R$ 10. Desde que foi dispensado de uma loja de material de construção, onde atuava como ajudante havia um mês e meio, não conseguiu voltar ao mercado formal. "Já falei com alguns amigos, fui a alguns comércios, mas só dizem que não há vagas", lamentou.

O mesmo drama vive Wladimir Batista da Silva, 30. Desempregado há quatro meses, passou a sobreviver como catador de materiais recicláveis no lixão da Estrutural. Com a mulher no quarto mês de gestação, ele voltou a procurar emprego, na tentativa de trocar a rotina desgastante por uma vaga com carteira assinada. "Procurei em madeireiras, oficinas mecânicas, e os donos não têm previsão de voltar a contratar", disse.

O desaquecimento do mercado de trabalho terá impacto direto no resultado do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que será negativo, na opinião de analistas. Sintoma disso são as demissões em massa da indústria -- na comparação com março de 2014, houve 232 mil dispensas no segmento. Os setores de comércio e serviços, apesar de terem criado vagas, estão em ritmo lento. "Mesmo se o varejo não demitir, as contratações serão mais modestas. E os serviços não estão em posição de comemorar", definiu Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

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Whirlpool corta 3 mil

Maior fabricante de eletrodomésticos do mundo, a norte-americana Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, já demitiu cerca de 3 mil empregados no Brasil nos últimos 12 meses, devido à piora da situação econômica e à queda das vendas. O corte atingiu cerca de 15% da força de trabalho da empresa no país e faz parte de um esforço geral da companhia para reduzir custos. O grupo tem fábricas em Manaus, Joinville (SC) e Rio Claro (SP).

O Brasil é um dos principais mercados da Whirlpool, tendo representado cerca de 10% das vendas globais na companhia no ano passado. No entanto, a inflação elevada, a queda da renda dos consumidores, as altas taxas de juros, a desvalorização do real e a elevação do desemprego afugentaram das lojas os compradores de eletrodomésticos, como lavadoras, fogões e refrigeradores.

O presidente da empresa, Jeff Fettig, ressaltou que o país seguirá como um mercado expressivo para a companhia. “Olhando para o futuro, o Brasil continuará sendo importante para nosso crescimento”, disse ele. A curto prazo, porém, a ordem é apertar os cintos. A previsão de lucro da Whirlpool para este ano, que era de até US$ 11,75 por ação neste ano, caiu agora para US$ 10, no máximo.

A empresa divulgou ontem expectativa de queda de até US$ 1 bilhão nas vendas em todo o mundo, devido à valorização do dólar, que prejudica as exportações a partir dos EUA. Na América Latina, as receitas devem diminuir entre 10% e 12% por causa, principalmente, da deterioração da economia brasileira. A fabricante enfrenta problemas também em outras partes do mundo. Na Rússia, a demanda caiu 30%, mas o país representa apenas 3% do faturamento global da companhia.

Dilma reconhece momento difícil

A presidente Dilma Rousseff reconheceu que o Brasil passa por um momento difícil e de desaceleração da economia, mas garantiu que o governo está empenhado em restabelecer as condições para a retomada do crescimento. “Os ajustes fiscais são conjunturais, são necessários, e nós estamos determinados a implementá-los.

E, conjuntamente com eles, as condições para garantir a expansão não só da nossa infraestruta, mas também do mercado, e da indústria automobilística neste momento”, disse a presidente, em discurso durante cerimônia de inauguração do polo automotivo da cidade de Goiana, em Pernambuco. Liderado pela fabricante Jeep, integrante do Grupo Fiat Chrysler, o polo deve receber investimentos de R$ 7 bilhões e gerar 9 mil empregos para produzir 250 mil veículos por ano, de acordo com o Palácio do Planalto.

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Embate continua

As negociações com o Congresso para aprovação das medidas provisórias nº 664 e nº 665, que endurecem as regras de concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários, continuam difíceis. Ontem, depois de se reunir com o chefe do Legislativo, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), para pedir apoio às medidas de ajuste fiscal, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou estar confiante do aval dos parlamentares.

Mas Renan alfinetou: “Esse ajuste não é um ajuste fiscal, ajuste fiscal tem que cortar no Estado. Esse é um ajuste trabalhista, e, como ajuste trabalhista, a presidente está tendo dificuldade de falar no 1º de maio, porque a conta não pode ir para o trabalhador”. O secretário de Comunicação, Edinho Silva (PT), anunciou na segunda-feira que a presidente Dilma Rousseff não fará pronunciamento em cadeia nacional no Dia do Trabalho.

Hoje, a comissão mista que a analisa a MP nº 665, que trata das regras para concessão de benefícios trabalhistas vota o relatório do senador Paulo Rocha (PT-PA). Na segunda-feira, o governo aceitou a proposta do relator de reduzir o tempo de trabalho necessário para o recebimento de abono salarial, dos seis meses do texto original da MP para três. Mas ainda negocia a manutenção do prazo para concessão do seguro-desemprego, que no relatório foi reduzido dos 18 meses pretendidos pela equipe econômica para 12 meses. O impacto das modificações, segundo cálculo de parlamentares, chega a R$ 2 bilhões.

Ontem, o relator da medida que trata das restrições a benefícios previdenciários foi entregue pelo deputado Carlos Zarattini (PT-SP), com modificações. A votação da MP nº 664 está prevista para 5 de maio. Para Levy, “a volta da confiança no país” se deve à expectativa de conclusão, de “forma positiva”, da votação das reformas no Congresso. Segundo o ministro, essa agenda de negociação sobre as medidas no Senado e na Câmara são muito importantes. “Só essa discussão vai permitir que a gente vá além dos ajustes”. 


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Relator altera MP 664

O relator da Medida Provisória nº 664, que endureceu as regras de acesso a benefícios previdenciários, deputado Carlos Zarattini (PT-SP) alterou o texto original envido pelo governo em dezembro de 2014, e com isso, reduziu a economia prevista pela equipe econômica no esforço do ajuste fiscal. Entre as principais alterações propostas pelo petista à MP estão a redução do tempo de contribuição para que o cônjuge tenha direito a obter pensão por morte, e a manutenção do valor integral da pensão.

De acordo com Zarattini, a mudança no tempo de contribuição representará uma redução de cerca de R$ 1 bilhão na economia que o governo pretendia fazer com a 664. As demais modificações propostas pelo relator ainda não tiveram o impacto calculado. Ao editar a MP, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, informou que os ajustes significariam economia de R$ 18 bilhões por ano, a partir de 2015.

O texto do governo estabelecia carência de 24 meses de contribuições e a exigência de dois anos de casamento para a concessão do benefício. Zarattini estipulou a exigência de 18 meses de contribuições e manteve a necessidade de dois anos de casamento ou união estável. Além disso, criou uma pensão temporária para pessoas que tenham os pré-requisitos para o recebimento.

O novo texto propõe que esse cônjuge receba pensão durante quatro meses. “O objetivo dessa mudança é garantir que a pessoa tenha, pelo menos, um tempo na vida para se organizar, após a morte do cônjuge”, disse.

O relatório do petista também derruba o artigo que reduz o valor do benefício para 50% mais 10% por dependente, mantendo, assim, o valor integral; e altera a tabela de duração das pensões aos cônjuges, fixando como base a idade e não a expectativa de vida. A regra proposta pelo relator é de pagamento de pensão por 3 anos para cônjuge com menos de 21 anos; por 6 anos para os com idade entre 21 anos e 26; de 10 anos para os na faixa de 27 e 29; de 15 anos para os entre 30 e 40; 20 anos para os entre 41 e 43; e pensão vitalícia para os com mais de 44 anos.