O Banco Central (BC) anunciou ontem à noite que vai interromper, em 31 de março, a injeção diária de US$ 100 milhões no mercado por meio de operações de swap cambial — operação equivalente à venda futura de dólares. Os contratos que vencerem a partir de 1º de maio, no entanto, serão renovados integralmente por tempo indeterminado. Em nota, o BC avisou ainda que, sempre que considerar necessário, poderá realizar operações adicionais por meio de instrumentos cambiais ao seu alcance.

O fim da chamada ração diária de câmbio, que vinha sendo fornecida desde 22 de agosto de 2013 para controlar as oscilações da moeda norte-americana, foi sinalizado horas antes pelo presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal. Na reunião, ele deixou claro também que o BC não tinha “pressa nenhuma” de liquidar o estoque de contratos existentes, explicando que existem condições para “renovar integralmente as operações vincendas”.

Segundo Tombini, os contratos de swap cambial são um importante instrumento de proteção, sobretudo para que “empresas não financeiras consigam navegar com certa tranquilidade em ambiente de alta de dólar, sem quebrar”. De acordo com ele, 80% do estoque de US$ 114 bilhões de derivativos cambiais acumulado desde o início do programa estão em mãos dessas companhias e oferecem segurança contra mudanças abruptas na cotação da moeda norte-americana.

O chefe da autoridade monetária ressaltou que os swaps diminuem o risco do próprio BC com as variações do dólar, mas admitiu que a instituição pode fazer “muito pouco” em relação ao valor da divisa. “O mercado é extremamente amplo, somos só um participante”, ponderou. Segundo analistas, a decisão da autoridade monetária de interromper a venda diária de dólares deve fazer a moeda norte-americana abrir as negociações de hoje em alta.

Inflação
No debate com os senadores, Tombini ainda reforçou o compromisso de levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, em dezembro de 2016, ao dizer que a “política monetária está e continuará vigilante”. Mesmo com o fortalecimento do dólar, acrescentou, há fatores que podem mitigar o repasse para os preços. Ele citou a queda no valor das commodities, o baixo nível de atividade da economia brasileira, que impedirá empresários de aumentar o custo de produtos e serviços, além do enfraquecimento de outras divisas, como o euro. Por outro lado, o chefe da autoridade monetária destacou que a desvalorização do real pode atrair investimentos para o Brasil. “Temos visto um interesse renovado pelo país”, comentou ele, que espera a entrada de até US$ 65 bilhões na forma de investimento estrangeiro direito neste ano.

A economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, disse que o fim do programa de swap cambial já era esperado. “A taxa de câmbio tem que se adequar aos novos fundamentos da economia e deve se ajustar pelo mercado. Acredito em uma alta ainda maior no dólar quando o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) resolver aumentar os juros”, afirmou. Para o gerente de câmbio da Icap Corretora, Ítalo Abucater, sem a expectativa de melhora da economia, a tendência global de alta da divisa resultará numa pressão adicional para a inflação. “A tendência de encarecimento do dólar é mundial e vemos que a decisão do Fed terá um peso determinante nesse processo”, afirmou.