Num processo de convencimento que está longe do fim, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, afirmou ontem que a estatal foi vítima da corrupção investigada pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, mas assegurou que fará “todos os esforços” para recuperar judicialmente os prejuízos causados à empresa. “A Petrobras é vítima do processo. Queremos reforçar o compromisso de passar a limpo todos os malfeitos praticados”, disse ele em audiência conjunta das comissões de Acompanhamento Econômico (CAE) e de Infraestrutura (CI) do Senado Federal.

Pressionado pelos senadores, Bendine foi obrigado a ser cuidadoso com as palavras para não provocar ruídos sobre o balanço da petroleira, que apontou perdas de R$ 6,2 bilhões com a corrupção. Para o executivo, esse valor “foi conservador”. Muitos parlamentares entenderam a colocação como se a Petrobras tivesse subestimado os prejuízos. Bendine teve que ser mais claro: “O conservador quer dizer que estamos extrapolando o valor, não pondo um valor menor. Se fosse fazer um lançamento mais assertivo, teríamos que esperar o processo chegar ao final. Estamos, portanto, nos antecipando”.

Segundo a Petrobras, os R$ 6,2 bilhões correspondem a uma média de 3% dos contratos e aditivos fechados com as 27 empresas integrantes do cartel que sugou o caixa da estatal, totalizando R$ 199,6 bilhões. Há relatos, conforme Bendine, de que os desvios podem ter chegado a 10% em alguns casos. “Acredito que esses valores serão recuperados tanto por meio das ações da Justiça do Paraná quanto pelos acordos de leniência com as empreiteiras envolvidas nos esquemas”, frisou.

Ao ser questionado pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) sobre os R$ 220 bilhões contratados na modalidade de convite, Bendine disse que pretende mudar esse formato, abrindo concorrência entre empresas, dando preferência às nacionais. “Não concordo com esse modelo de licitação de carta-convite. Isso gera riscos. Vamos fazer um modelo mais seguro e mais competitivo. O processo está em curso”, assinalou, acrescentando que essa será uma das novidades do novo Plano de Negócios da companhia até 2019 que será apresentado “nos próximos 30 a 40 dias”.

Para Bendine, os brasileiros devem se acostumar com os preços dos combustíveis, que, no entender deles, “são justos”. Durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, a Petrobras segurou o quanto pôde os reajustes da gasolina e do diesel. Com isso, a empresa perdeu mais de R$ 90 bilhões. A perspectiva é de que, daqui por diante, os valores nas bombas acompanhem as variações do petróleo no mercado internacional. Mas levará tempo para a estatal reverter os prejuízos.

Tais manobras e o superfaturamento de obras foram preponderantes para o endividamento da Petrobras atingir R$ 351 bilhões no ano passado. “A dívida da empresa realmente é muito elevada e está fora das melhores práticas. Mas não existe a possibilidade de socorro do Tesouro Nacional. A empresa não tem interesse nisso”, afirmou. Ele ressaltou, porém, que a estatal terá de conviver com o alto nível de débitos até 2016. E será obrigada a tocar investimentos mais realistas. “Vamos trabalhar de acordo com a capacidade de caixa da empresa”, destacou.

Vaivém das ações

As ações preferenciais (PN) da Petrobras chegaram a subir 2% ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), enquanto o presidente da estatal, Aldemir Bendine, participava de audiência pública no Senado Federal. Mas caíram logo depois de ele afirmar que “não poderia garantir que não haverá mais corrupção na companhia”. Somente no meio da tarde recuperaram o fôlego e encerraram os negócios com alta de 1,58%, cotadas a R$ 12,78.