A disparada do dólar e a retração da economia brasileira e do emprego frearam as viagens internacionais. As agências de turismo estão movimentando apenas os pacotes que foram adquiridos com antecedência e as operadoras congelaram o dólar na tentativa de não ter maiores prejuízos. “O desempenho do setor caiu abaixo do pré-sal”, comentou o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-DF), Carlos Vieira.

Ontem, o Banco Central divulgou as contas externas e o item viagens internacionais registrou despesas líquidas de US$ 970 milhões em fevereiro, uma retração de 26,7% na comparação com o mesmo mês de 2014. Os gastos de brasileiros no exterior despencaram 22,9%, de US$ 1,9 bilhão para R$ 1,4 bilhão, enquanto as despesas de turistas estrangeiros no país caíram 14,4%, de US$ 592 milhões para US$ 507 milhões.

Vieira destacou que viagem de turismo é o desejo de consumo número 1 dos brasileiros, mas também está em primeiro lugar na lista de cortes quando a economia vai mal. “Antes, quando o dólar subia, os turistas trocavam viagens internacionais por nacionais. Agora, estão simplesmente cancelando tudo”, lamentou. Segundo ele, só estão viajando as pessoas que adquiriram pacotes com antecedência. “Ainda assim, estão comprando bem menos moeda estrangeira para gastar lá fora”, disse Vieira.

Mesmo com duas viagens programadas para os Estados Unidos, desde outubro do ano passado, a estudante Caroline Bchara, 22 anos, ficou chocada com a disparada do dólar. No início de fevereiro, quando estava em Chicago, foi alertada pela mãe que o câmbio estava a R$ 2,90. “Não pensei duas vezes em dispensar o uso do cartão de crédito”, disse. Na metade daquele mês, ela foi a Miami com os pais e o irmão, com ainda mais cautela em relação aos gastos. “A regra era consumir apenas com dinheiro em espécie. Meu pai separou uma quantia e dividiu entre toda a família. Não podíamos nos dar ao luxo de usar o crédito e pagar uma fatura além do planejado”, ressaltou.

O freio no consumo foi necessário para que o advogado Ênio Zampieri, 44, aproveitasse as férias com a família, em fevereiro, sem dores de cabeça. “Poderia ter consumido mais, se o real não estivesse tão desvalorizado”, admitiu. Ele se recorda que, na primeira viagem que fez ao exterior, em 2011, a cotação do dólar na fatura do cartão de crédito era de R$ 1,74, valor bem destoante dos R$ 3,19 da última fatura, o que representa um salto de 83,33%. “Dessa vez, acabei levando mais papel moeda e usando menos dinheiro de plástico, prevendo a alta do câmbio. Há quatro anos, fiz o contrário”, afirmou.