Para se preservar de novos panelaços e críticas de opositores ao seu governo, a presidente Dilma Rousseff decidiu romper uma tradição e, pela primeira vez desde 2011, não fará pronunciamento de rádio e televisão para celebrar o Dia do Trabalho, na próxima sexta-feira. Aconselhada de maneira unânime pelos 10 ministros da coordenação política, durante reunião realizada no fim da tarde de ontem, Dilma optou por saudar os trabalhadores por meio das redes sociais. “A presidente vai dialogar com os trabalhadores, com a sociedade brasileira, pelas redes sociais. Foi uma decisão coletiva de toda a coordenação política, que ela deveria valorizar as redes sociais”, disse o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, escalado como porta-voz do encontro.

O governo ainda tem vivo na memória o desgaste ocorrido em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, quando Dilma foi ao rádio e à televisão justificar as medidas de ajuste fiscal e, durante toda a sua fala, teve as palavras emolduradas por um sonoro panelaço, além de vaias e buzinaços em diversas capitais brasileiras. Uma semana depois, quase 2 milhões de pessoas foram às ruas pedir “Fora PT e Fora Dilma”.

O Planalto tenta evitar, com isso, que as reações negativas se repitam. “A presidente vai continuar usando a televisão, usando a cadeia nacional quando for necessário. Nesse momento, entendemos que a melhor forma de comunicação é pela internet”, afirmou Edinho. Ele tentou minimizar, contudo, a decisão, alegando que ela não tem relação com eventuais panelaços. “A presidente não teme nenhum tipo de manifestação da democracia. Não tem temor por qualquer manifestação oriunda da construção de um Brasil democrático”, alegou ele.

Edinho preferiu afirmar que, na verdade, a presidente está, apenas, valorizando uma outra forma de comunicação. “Ela já valorizou as rádios, valoriza todos os dias a comunicação impressa, valoriza a televisão e resolveu , desta vez, valorizar as redes sociais”, disse o ministro, após a coletiva de imprensa. Segundo Silva, ainda não há definição de qual será o modelo adotado para se comunicar na próxima sexta.

“Leão dormir”

Mais cedo, os ministros próximos à presidente já defendiam que ela não deveria se pronunciar em cadeia de rádio e televisão. Um dos auxiliares de Dilma disse ao Correio que “a construção da imagem do governo é gradativa e que, neste momento, não era prudente um pronunciamento em cadeia de rádio e televisão”. O mesmo integrante da articulação de governo lembrou que a presidente tem reunido os ministros do setor de infraestrutura para discutir projetos de investimentos para o país e que, por isso, não valeria a pena aparecer na televisão neste momento sem ter algo a apresentar aos brasileiros.

“Conseguimos fazer o leão dormir. Para que acordar o leão novamente?”, questionou um senador petista, lembrando que o governo conseguiu uma trégua, ainda que discreta, na pressão vinda das ruas a favor do impeachment. O parlamentar comparou as manifestações de 15 de março com as realizadas em 12 de abril, quando menos pessoas saíram de casa para protestar contra o governo. “Se você não tem nada de bom para falar, é melhor ficar calado”, disse o petista.

O secretário de organização do PT, Florisvaldo Souza, afirmou que a legenda não se envolveria nas decisões presidenciais. Mas garantiu que o partido está convocando a militância para ir às ruas na próxima sexta-feira, comemorar o 1º de Maio. “As conquistas dos trabalhadores nos últimos 12 anos são inegáveis”, assegurou. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também promete uma série de atos, nos quais se posicionará contra o projeto da terceirização e as medidas provisórias que alteram direitos trabalhistas e previdenciários.

Para o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), a decisão de Dilma foi acertada, já que “quanto mais ela fala, mais gera irritação entre os brasileiros”, ironizou. O tucano afirmou que governos podem perder popularidade, o que é natural, mas a gestão da presidente Dilma Rousseff perdeu credibilidade. “Ela avisou que a luz iria cair 20% e ela aumentou 70%; que a gasolina não seria reajustada e, em alguns locais, ela já custa R$ 5, o litro; que a inflação estava sob controle e ela ultrapassou o teto da meta”, enumerou Cássio. “Não sinto nenhuma alegria em dizer isso: a presidente mentiu para o povo brasileiro”, declarou Cássio.

Antes da reunião de coordenação política, a presidente Dilma Rousseff sobrevoou as cidades de Xanxerê e Ponte Serrada, no oeste de Santa Catarina, atingidas por um tornado na semana passada. Dilma classificou o fato como um catástrofe e prometeu o repasse de mais de R$ 5 milhões para ajudar na recuperação das cidades. Ela também foi a São Paulo encontrar-se com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para discutir maneiras de reverter o desgaste do governo federal.